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Recorde e alerta sobre as tartarugas do Litoral do Paraná

Fotos: Julio Bazanella/ Associação MarBrasil

A avaliação da população de tartarugas-verde (Chelonia mydas) no litoral do Paraná conclui uma etapa no mês de março com um recorde de espécimes capturados – o que é um ótimo sinal – e uma preocupação: lesões e amputações causadas possivelmente por interação com barcos e pescarias.

O trabalho faz parte do Programa de Recuperação da Biodiversidade Marinha (Rebimar), uma iniciativa da Associação MarBrasil com o patrocínio da Petrobras.

Realizado desde 2014, esta foi a quarta campanha com enfoque nas tartarugas marinhas na região.

A operação de 2018, feita entre os dias 4 e 22, envolveu mais de 50 pessoas, entre voluntários e profissionais de diversas áreas da ciência, representando instituições como a MarBrasil, o Laboratório de Ecologia e Conservação (LEC) da UFPR e a Universidade Estadual de Londrina, além de especialistas internacionais em pesquisa e conservação de animais marinhos, como a ONG uruguaia Karumbé, e as universidades norte-americanas Florida State University e Duke University.

Captura e marcação

As ações do monitoramento consistem em capturas intencionais de tartarugas-verde por meio de redes de emalhe desenvolvidas para este projeto. Os animais capturados pelos pesquisadores são avaliados em relação à condição de saúde, por meio de análises sanguíneas e bioquímicas, e quanto a características biológicas, por meio de biometria e amostras coletadas.

Cada indivíduo também é marcado com uma anilha numerada (que segue um cadastro internacional de monitoramento de tartarugas marinhas), o que permite avaliar a conexão entre áreas e o comportamento de migração da espécie, e logo em seguida já são devolvidos a seu habitat natural.

Neste ano dois animais receberam transmissores satelitais, os quais fornecem informações sobre o deslocamento dos animais, além de suporte científico para o mapeamento de áreas prioritárias de uso por esta espécie no litoral brasileiro.

Recorde de animais

Nesta operação os pesquisadores registraram mais de 60 tartarugas-verde, um número recorde desde o início do monitoramento destes animais no Paraná, que aconteceram em dois pontos de concentração da espécie, localizados na entrada da Baía de Paranaguá. Os resultados obtidos nesta campanha ampliarão o fornecimento de dados para compreender como as atividades antrópicas realizadas de forma cumulativa, como o despejo de efluentes no ecossistema marinho, atividades náuticas industriais, e mesmo a pesca, podem afetar a saúde e o comportamento destes animais.

A bióloga Camila Domit, responsável pelo LEC-UFPR, e coordenadora das atividades com tartarugas marinhas do Programa Rebimar, comemorou o resultado da nova operação. “Nós esperávamos capturar no máximo 50 animais, entretanto tivemos 77 capturas, sendo 63 novos indivíduos e 15 recapturas. Um resultado fantástico, que possivelmente aconteceu pela época do ano e da temperatura alta da água, mas é muito interessante registrar animais residentes na região, mesmo que ainda sejam dados preliminares.”

Preocupação

REBIMAR: monitoramento artarugas marinhas

Apesar do sucesso na operação do Programa Rebimar, foi registrada uma incidência preocupante de tartarugas-verde com lesões físicas, o que é característico de colisões dos animais com embarcações. “Ainda não concluímos os cálculos da prevalência de lesões, mas vale a pena avaliarmos com cuidado, porque alguns animais apresentaram fraturas na carapaça. Também coletamos tartarugas com amputações de parte dos membros, tanto na nadadeira anterior como na posterior, o que são características de interação das tartarugas marinhas com pescarias”, afirmou Domit.

Pesquisa continua em laboratório

“O nosso enfoque neste ano foi realizar uma série de coletas para considerar a prevalência da fibropapilomatose nestes animais, que é uma doença viral que afeta as tartarugas marinhas, e é característica de animais que estão se desenvolvendo em áreas muito degradadas por impactos antrópicos”, afirmou a bióloga, que complementou: “Os dados coletados permitirão avaliar alguns a presença de microorganismos que podem influenciar o sistema imunológico das tartarugas-marinhas. Coletamos amostras com as quais poderemos verificar a presença de bactérias super-resistentes, fungos e vírus, e que podem estar associados à grande quantidade de efluentes vindos das zonas industriais e urbanas no entorno da Baía de Paranaguá”.

Após praticamente três semanas de operações embarcadas, realizadas diariamente pelo Programa Rebimar, os trabalhos de monitoramento passam ao laboratório, onde será feita a análise individual das coletas de sangue e de tecido das mais de 60 tartarugas marinhas capturadas pela equipe nesta operação. “Em breve poderemos avaliar qual é o nível de contaminação no sangue destes animais, principalmente por incidência de mercúrio e outros metais. Isto é bastante relevante para a avaliação de saúde das tartarugas marinhas, por se tratar de contaminações de curto prazo, algo que possivelmente chegou a estes animais quando já estavam no litoral do Paraná” concluiu Camila.

Fotos: Julio Bazanella/ Associação MarBrasil

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