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Calçadas fator de mobilidade urbana

As cidades estão congestionadas. As grandes e algumas das médias, praticamente imobilizadas. Cidades balneárias, nas temporadas, padecem da mesma enfermidade. Urge, pois, discussões sobre políticas urbanas, que possam modificar essa realidade.

Enrique Peñalosa, ex-prefeito de Bogotá, defende que a solução, inevitavelmente, passa pela restrição ao uso dos automóveis, no aumento do preço dos combustíveis, na criação de pedágios urbanos, na proibição do estacionamento de veículos nas ruas, e outros impedimentos, ou seja, uma mudança radical na prática atual da gestão nas cidades.

Defende que é preciso humanizar as cidades e para isso, acabar com o que chama de “rodovias urbanas”. Mudar o conceito do que é uma rua, transformando-a em espaço para ônibus, bicicletas e, principalmente, amplas e planejadas calçadas para as pessoas caminharem.

Graduado em Economia e História e pós-graduado em Administração Pública, nos quatro anos em que governou Bogotá, fez o que a maioria dos gestores públicos não faz:  transformou o “discurso” em realidade. Reformou calçadas, implantou quilômetros de ciclovias protegidas, revolucionou o transporte coletivo, adotando o modelo criado e testado em Curitiba.

Peñalosa considera mais importante, até mesmo que ciclovias, a construção de calçadas e caminhos para pedestres. Calçadas planejadas, padronizadas, executadas em conformidade com normas técnicas, critério, qualidade e estética.

As calçadas pertencem as pessoas. Nas cidades tidas como exemplo de urbanização, não são ruas e avenidas que as diferenciam das demais, mas sim a qualidade das suas ruas e calçadas. Não basta, simplesmente, pintar os meios fios das calçadas.

Considera, também, que na implantação de ciclovias e calçadas a dificuldade é mais política do que econômica. Construir ciclovias exige investimentos, mas que podem ter custos reduzidos com a criação de obstáculos, como por exemplo, os estacionamentos para carros nas ruas, serem substituídos por ciclofaixas e ciclovias protegidas, largas, sinalizadas e situadas nas principais vias. As calçadas propriamente ditas, na maioria das legislações municipais, construí-las é de responsabilidade dos proprietários dos imóveis.

Não há mais condições para o crescimento desordenado e indefinido das cidades. Há que se pensar na implantação de espaços públicos nos locais de maior densidade humana. Não se pode mais privilegiar a mobilidade para os automóveis em detrimento da mobilidade para as pessoas, como normalmente é feito.

As cidades litorâneas, a beira mar, devem impedir a circulação e o estacionamento de veículos na orla. A praia e o entorno servem ao lazer da população e dos turistas. O espaço frente ao mar para abrigar ciclovias e calçadões.

Qualidade de vida é atrativo para as pessoas escolherem o local onde viver. A boa cidade é aquela onde elas possam caminhar com tranquilidade e segurança pelas ruas. As calçadas são os elementos mais importantes na infraestrutura urbana.

Pouco adianta abrir novos espaços, ruas, avenidas. Fazer grandes obras para evitar congestionamentos, a única forma, segundo ele, é restringindo a circulação dos automóveis. As cidades mais bem resolvidas privilegiam o transporte coletivo e os automóveis, por individualizarem a locomoção, ficam em segundo plano.

Porém, antes de qualquer decisão é imperativo saber o que se quer para a cidade. Certamente, o desejo é que as pessoas vivam felizes e, viver em congestionamentos de toda a ordem, não pode ser exemplo de felicidade.

Na essência, o futuro da cidade depende das escolhas da sua gente. A cidade poderá servir a muitos ou a poucos. É preciso definir o que se quer. Se o desejo é torna-la sustentável, com qualidade de vida para todos, será imprescindível o equilíbrio entre as alternativas ambientais, sociais e econômicas.

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