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Censo confirma recuperação do papagaio-de-cara-roxa

Os papagaios transitam pelos municípios de Paranaguá e Guaraqueçaba. Apenas em Guaratuba, onde foram contados apenas 33 papagaios, não existe esse trânsito por outras cidades

Espécie já esteve gravemente ameaçada de extinção, mas contagens anuais indicam que a população tem se recuperado nas unidades de conservação do Paraná

Depois de anos considerados em situação vulnerável pela Lista de Espécies da Fauna Brasileira Ameaçadas de Extinção, foram registrados 7.339 papagaios-de-cara-roxa no país. O número demonstra uma recuperação da espécie, que era estimada em apenas 3 mil indivíduos em 2003.

Há quatro anos a classificação dos papagaios na lista mudou para “quase ameaçado” e a população tem se mantido estável desde então, como indica o Censo 2017 do Papagaio-de-cara-roxa, realizado pela Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS).

O papagaio-de-cara-roxa (Amazona brasiliensis) vive em uma estreita faixa do bioma Mata Atlântica que se estende do litoral sul de São Paulo ao extremo norte de Santa Catarina, passando por toda a costa do Paraná.

A contagem populacional da espécie é realizada anualmente desde 2003 pelo Projeto de Conservação do Papagaio-de-cara-roxa, iniciativa da SPVS. O projeto verificou que a maior concentração das aves continua sendo no litoral do Paraná – 5.564 indivíduos, ou 76% do total. O litoral paulista, incluído no censo em 2013, abriga 1.775 papagaios. Novamente não foram registrados papagaios-de-cara-roxa em Santa Catarina.

A coordenadora do projeto, Elenise Sipinski, destaca que neste ano mais da metade da população contabilizada durante o censo foi encontrada no Parque Nacional do Superagui (2.295 papagaios) e na Estação Ecológica da Ilha do Mel (1.600), Unidades de Conservação dos municípios de Paranaguá e Guaraqueçaba.

Segundo os biólogos, os papagaios transitam pelos municípios de Paranaguá e Guaraqueçaba. Apenas em Guaratuba, onde foram contados apenas 33 papagaios, não existe esse trânsito por outras cidades.

Em 2016, os maiores números haviam sido registrados na Ilha da Cotinga, também em Paranaguá. Segundo a bióloga, a mudança “reforça o quanto a preservação de toda a região é importante para a sobrevivência da espécie, que se desloca por todo o litoral em busca de alimento e abrigo”.

Para os pesquisadores esse comportamento das aves, que se reúnem em diferentes pontos, chamados pelos biólogos de “dormitórios coletivos”, pode explicar as variações no censo ano a ano. Em 2016 as equipes haviam encontrado 8.380 papagaios, 1.041 a mais que o censo de 2017.

Já no estado de São Paulo o registro foi similar aos anos anteriores. “Realizamos as contagens nos mesmos dormitórios, portanto essas variações para mais ou para menos são esperadas, devido a essa dinâmica da espécie”, explica Rafael Sezerban, técnico da SPVS.

Segundo ele, a instituição vai continuar monitorando o deslocamento das aves para identificar possíveis novos dormitórios. “No entanto, o fato de registrarmos uma população acima de 7 mil papagaios por quatro anos seguidos é muito positivo”, afirma. O Censo 2017 do Papagaio-de-cara-roxa contabilizou as aves em 18 dormitórios coletivos – oito no Paraná e dez no litoral de São Paulo.

Trabalho conjunto

Além da equipe do Projeto de Conservação do Papagaio-de-cara-roxa, mais de 50 voluntários participaram da edição 2017 do censo. Para Elenise Sipinski, a grande adesão de pessoas interessadas em contribuir com o projeto mostra a identificação com a causa da proteção dos papagaios e do bioma Mata Atlântica e também a confiança no trabalho da instituição. “Sempre somos procurados por mais candidatos a voluntariado do que conseguimos atender. São estudantes, pesquisadores e moradores do entorno das áreas de conservação dispostos a colaborar com a preservação da biodiversidade da região”, comemora Sipinski. Ela enfatiza que o envolvimento de moradores da região com o projeto dura o ano todo, indicando locais onde há concentração de papagaios ou denunciando atividades ilegais de caça e desmatamento.

O projeto

O Projeto de Conservação do Papagaio-de-cara-roxa, criado em 1998 pela SPVS, também realiza todos os anos o monitoramento do período reprodutivo da espécie. As atividades do projeto no Paraná e em São Paulo incluem ainda a implantação de ninhos artificiais que auxiliam a reprodução da espécie, programas de educação para a conservação da natureza voltado a jovens e educadores da região e iniciativas de combate ao comércio ilegal de animais e ao desmatamento, principais ameaças aos papagaios-de-cara-roxa.

O Censo 2017 do Papagaio-de-cara-roxa encontrou uma população de 7.339 aves, divididas entre o litoral sul de São Paulo e o litoral paranaense (Foto: Zig Koch / Divulgação SPVS)

 

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