Carta 216. A beleza da madrugada
Aproximadamente uma vez por mês, em Curitiba, pego às 7h da manhã o ônibus para o município de Guaraqueçaba, onde resido. Esta linha opera somente nas segundas, quartas e sextas-feiras. Para chegar em tempo ao ponto de partida, a Rodoferroviária de Curitiba, tomo uma ampla margem de segurança: chego às 5h10 em um ponto de ônibus do bairro Tarumã, para ali embarcar na primeira viagem da linha Interbairros II, que passa o ponto entre 5h15 e 5h20.
Naquele horário matinal, ainda tem poucos carros passando e nenhum pedestre na rua. Mas, invariavelmente, entre 5h10 e 5h15, um jovem simpático que já se tornou um velho conhecido, vem chegando de passo tranquilo. Ele trabalha a noite toda numa pequena fábrica de pão e se dirige para casa naquela hora, com o mesmo ônibus urbano.
E então, sempre acontece o seguinte: enxergamos chegando de longe, uma moça vestida de branco, trotando pela calçada em nossa direção. Quando ela passa o nosso ponto, vestida de shorts e camiseta colados, não diminui a velocidade e mantém o olhar para frente, sem desviar o olhar em nossa direção.
Mas, que moça linda!
O padeiro me contou que há anos ela está mantendo este belo e saudável rotina de exercício físico matinal. Confesso que sinto vontade de pedir ela para frear um instante, pois quero lhe expressar a minha admiração pela coragem e disciplina. Mas até agora me seguro, por duas razões: ela, aparentemente, segue uma rotina cronometrada, que não desejo quebrar (talvez, logo ao chegar em casa, ela terá de seguir ao emprego diário), mas também receio que ela quebrará o meu encanto, puxando uma arma. Imagino que ela está preparada para qualquer “eventualidade”.
Escrevo este relato em homenagem a essa Bela Acordada e na esperança dela inspirar algumas das minhas leitoras do “sexo frágil”, para tomar semelhante iniciativa saudável. Participem e contribuam vocês também, à beleza da madrugada!
Aparentemente, naquele horário precoce, em bairros distantes do centro, ainda é possível este tipo de treino matinal.