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Escrever para acontecer…

Silvia e seus alunos de músicaNão dei conta de administrar o volume de mensagens de boas festas que passaram pelos meus olhos e dedos nos últimos dias – coisas de todo tipo, das mais singelas e emocionantes até estranhos recados eróticos, pretensiosamente safados e/ou divertidos, a maioria patéticos, e que me parecem exprimir deliradas fantasias não resolvidas durante o ano pelo autor, fatalmente anônimo. Alguns cartões de votos sinceros, poucos telefonemas, que as operadoras aparentemente deram férias coletivas aos seus equipamentos, nada funciona que preste.

Mas não há como não comentar o tanto de ofertas eletroprocessadas que vararam meu computador nas últimas semanas, a cada e-mail deletado me vem à cabeça, automaticamente, o belo texto do colunista amigo Jeferson, se não compro não existo? Eu não quero um edredon estiloso, nem um tablet que não sei usar mesmo, nem um jogo de 10 panelas inox ou um cupom do kit de estética-spa-depilação com desconto de 60% – acho que vou mandar esse pra Fernanda arrasar com essa pseudo-promoção.

O enxame de turistas que tomou conta do meu quarteirão, barulhento de músicas bregas e de absoluto mau gosto me fez pensar se o meu vizinho de tela, Maurício, não ficaria endoidecido tentando fazer o bebê dormir ao som de “fica caladinha…caladinha”. E em André, que certamente faria de tudo para evitar que os rojões e bombinhas na lata espantassem as gralhas azuis, os pequenos beija-flores, as maritaquinhas azuis e verdes que tentam, assustadas, aproveitar o início do verão, entre as pancadas de chuva fria, para prover-se dos brotos de goiaba do meu quintal.

Enquanto penso no que fazer com esse tempo livre inesperado, entremeado das últimas tarefas profissionais do ano, revolto-me pela escorchante recepção que Félix teve na Argentina, pra onde foi emocionado rever o pai e a família que ama, e fico pensando se aqueles “camineros” sabiam com quem estavam falando – um esteio dos brios latino-americano preciosamente encravado nesse recanto guaratubano, major-Coronel da luta pela democratização da cultura daqui e de lá, teriam eles mais decoro e respeito se soubessem disso?

Resolvi dar uma escapada para o centro da cidade, na única tarde de sol disponível essa semana, e espantei-me ao notar que, por conta da temporada, claro, saio de casa em outra rua, já que colaram diversos adesivos azuis nos postes da Copel, com os nomes das ruas, só esqueceram-se de observar o mapa – e agora moro numa via que tem 3 nomes – colaram um adesivo de nome em cada quadra, e nenhum deles indica a Rua Uruguai.

Não fosse o desperdício de dinheiro público, ainda fica o desaforo, por mais que todo mundo sabe o quanto sou bairrista e teimosa da minha Rua Uruguai, que eu trouxe para essa telinha arrastada em busca de nova qualidade, desnomeada agora pelo descaso executivo de um servicinho porqueira feito às pressas, nas “coxas”, maquiagem de temporada toda borrada.

E o trânsito? O pessoal reclama da indústria de multas, mas é só dar uma voltinha pela Nicolau Abagge ou pela Avenida Ponta Grossa pra ver que ainda é pouco o que estão multando, essa gente forasteira não sabe nada de educação, de trânsito e de sinaleiro. Recordo-me que semanas atrás o jornal publicou reclamação de um turista que pretendia não ter que respeitar leis em Guaratuba, à risca. Acho que ele veio pra cá e trouxe toda a família, os amigos e o pessoal da cidade dele que concorda com essa estranha ideia….

E como sempre diz Daniel, o desenvolvimento tem necessariamente que vir acompanhado de responsabilidade e perspectivas sérias, e me assusta que os visitantes se comportem como exploradores oportunistas que arrancam daqui o prazer de poucos dias a qualquer custo, sem parâmetros, parece que será só desta vez, para cada um deles…

Aí, me dei conta do quanto minha vida passou a relacionar-se com o que se escreve e o que se lê nesse valoroso Correio do Litoral.

Um jornal é sempre uma janela, traz e leva luzes, ventos, cheiros, sons e imagens.

A minha janela usei o mais que pude, para denunciar, reclamar, aplaudir, cobrar, dividir emoção e impertinências, fazer amigos solenes e inimigos perenes…

E me faço pensar o quanto ainda se pode fazer, nessa pequena janelinha, que uso e por vezes abuso, assim como os amigos que aqui apresentam suas mal traçadas linhas, para expor pensamentos, projetos e opiniões. Palpiteiros eletrônicos que só tem contribuído, com coragem, capricho, elegância às vezes, rebeldia em outras, para aprimorar a cidade, as pessoas, os rumos.

É também porta – aqui entram vontades, saem propostas, passam informações essenciais, notícias boas e ruins, é serventia da casa. E o dono não faz cerimônia. Valente!

E presto homenagens a quem teve a paciência e o interesse de acompanhar meus escritos e os de todos os demais, alertando aos caros leitores que muito mais virá, preparem-se. Contamos com vocês para remexer bem além da superfície dos temas, cutucar as feridas mais profundas e fazer sangrar a ignorância – ler é saber, é conhecer, seja para relevar, seja para tomar posição.

Alguns descobriram isso a partir das crônicas e reclamos destas janelinhas… nada e ninguém, nem poderes ou regras obscuras vão mudar isso.

Portanto, acabo 2011 com o prazer de ter frequentado cotidianamente esse endereço, onde fui e sou tão bem recebida, onde descanso debruçada em uma preciosa janela, e posso escrever, por prazer e para fazer acontecer.

Guaratuba, 29 de dezembro de 2011

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