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O saibro de cada rua

werney-colunaEm Itapoá, ‘urbanizar’ significa ‘abrir’, ‘patrolar’, ‘ensaibrar’, ‘valetear’ e ‘manilhar’ ruas. Com maior ou menor apelo o ‘ensaibramento’ em especial é o assunto frequente nas seções do Legislativo. Não há vereador que não faça ou não tenha feito duas, três ou mais indicações ao Executivo para ensaibrar ruas, especialmente nas bases eleitorais tradicionais.

Existisse uma estatística tipo ranking, provavelmente lideraria as solicitações enviadas ao Executivo. Em resumo: haja saibro para tanta indicação.

Itapoá é carente em obras de infraestrutura. A malha viária surgiu sem muito planejamento; as ruas entre os loteamentos são desencontradas; na maioria o revestimento é primário e não suportam o tráfego de veículos que cresce a olhos vistos. Isso sem falar em drenagem, canalização, bocas-de-lobo e mais recentemente, na construção das calçadas pelos proprietários dos imóveis em vias pavimentadas.

Com um agravante: a cidade foi implantada em área com declividade inferior a 5%, o que impõe sérias restrições à urbanização por dificuldades no escoamento das águas superficiais e subterrâneas. Detalhe que passou despercebido ou, possivelmente, não foi considerado.

Não se sabe não se tem ou apenas não se divulgam informações precisas sobre a extensão das vias públicas em Itapoá. Alguns falam em 700 ou 800 quilômetros. A maioria sem pavimentação ou com revestimento precário. Muitas não têm sequer esgotamento para as águas superficiais. Quando chove e não precisa muito, ficam alagadas e intransitáveis.

Sabe-se também que não é possível revestir simultaneamente todas as ruas, como muitas vezes se pretende. Não há material e nem, talvez, recursos suficientes. Assim, de indicação em indicação, o saibro vai chegando ao sabor da pontualidade ou dos interesses políticos. O que também deixou de ser novidade.

É mais ou menos assim: o vereador faz uma indicação amparada em abaixo-assinado dos moradores, às vezes nem isso; mediante requerimento com justificativas resumidas é apresentada e votada em plenário na Câmara de Vereadores; aprovada segue ao Executivo para providências. Procedimento simples e rápido, porém sem muito resultado. Mal se sabe quais ‘indicações’ são ou serão ‘atendidas’.

E elas estacionam no setor de obras da prefeitura. Quando a demora é muita, o vereador alega ao eleitor que fez a sua obrigação, encaminhando o ‘problema’ ao setor competente. Quando acontece o feito é divulgado na imprensa e nas redes sociais, enaltecendo a presteza do edil proponente.

O processo poderia ter outro ordenamento. Ser precedido por levantamento prévio das ruas que, em cada bairro, precisariam ser ensaibradas. De um cálculo da quantidade de material necessário, custos e previsão orçamentária. De programação anual para ensaibramento das ruas em cada bairro. Uma questão de prioridades.

O processo poderia também ser democratizado, envolvendo a população na deliberação. Executivo, vereadores e moradores estabeleceriam em conjunto às prioridades de cada bairro. Uma forma de administrar participativamente.

Está mais do que na hora de parar com a improvisação, mudar a história tão conhecida nas administrações municipais do “pra que simplificar se podemos complicar”.

Itapoá, inverno de 2014.

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