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De volta à Tagaçaba no início da primavera

Após seis meses em Curitiba, André de Meijer voltou para a comunidade de Tagaçaba, em Guaraqueçaba. Nesta “Carta nº 233 – Imagens da passagem do inverno para a primavera”, ele mostra um apanhado do que vinha publicando no Facebook e conta como encontrou a natureza na sua chegada em casa bem no dia em que começa a nova estação. Na volta, além do canto das aves e da exuberância da flora, uma preocupação: será que dois mercadinhos da localidade fecharam por causa da crise na pandemia?

A carta também contém um apanhado do que ele viu nas caminhadas pela Capital, como a variedade de espécies uma casinha e um jardim “deliciosamente abandonados” no Alto da Glória e carneiros em um pasto no bairro Butiatuvinha.

Abaixo um pedaço do texto, ao final, no link, a Carta toda.

Facebook 23/09/2020

Anteontem, ao chegar com o ônibus de Curitiba, descendo em Tagaçaba logo percebi que a primeira espécie de mutuca da nova estação, Chrysops varians, já está voando. Foi bom de voltar à baixada litorânea, após de seis meses de permanência no planalto de Curitiba. De anteontem para hoje, em Tagaçaba o tempo tem sido todo nublado e fresco, a temperatura oscilando entre 12 e 17,5 ºC.

Ontem, vestido de cachecol, fiz a minha caminhada de sempre: o trajeto Tagaçaba (km 36) – Serra Negra (km 46), ida e volta. Prestei atenção especial às plantas floridas e às vocalizações de aves. Escutei muitas aves que não tenho ouvido durante todo o meu período em Curitiba, onde são raras ou ausentes. São: acauã, arapaçu de-garganta-branca, araponga, bacurau, carão, coruja-do-mato, flautim, garrinchão-de-bico-grande, gibão-de couro, gralha-azul, gritador, jaó-do-sul, lavadeira-mascarada, macuco, papagaio-de-cara-roxa (somente no km 38), pula-pula-ribeirinho, sabiá-pimenta, surucuá-grande-de-barriga-amarela e tucano-de-bico-preto.

As plantas de ocorrência espontânea encontradas ao longa desta caminhada e vistas com flores, são listadas na legenda das fotos da begônia e da orquídea. Uma samambaia comum na margem da estrada é Anemia phyllitidis, atualmente com esporângios.

Já percebi que a crise do vírus tem afetado a economia em Guaraqueçaba também. O mercadinho de Sueli, no km 44, foi encontrado fechado e também estava fechado, em pleno horário comercial, o mercado de Carlinho, no km 46.

Auricularia fuscosuccinea (ao lado esquerdo) e Auricularia nigricans, juntas num tronco
em decomposição. Ambas as espécies são comestíveis.
(22/09/2020, Guaraqueçaba, rodovia PR-405, km 43,5)

Facebook 25/09/2020

Ontem refiz de caiaque um trajeto que há alguns anos não tenho percorrido: os cinco quilômetros do rio Tagaçaba entre a minha moradia e a sua desembocadura no rio Serra Negra, ida e volta. Foi um dia ensolarado, como mostram as fotos. No percurso vi, duas vezes, a grande borboleta azul Morpho helenor violaceus, conhecida como capitão-do-mato e vi algumas vezes a grande borboleta amarela Phoebis philea, conhecida como gema.

O rio.
(24/09/2020, Guaraqueçaba, Tagaçaba Porto da Linha, rio Tagaçaba)

Fui atacado pela mutuca Rhabdotylis planiventris: a primeira fêmea adulta da nova estação. Várias vezes vi o peixe tainhota (Mugil sp.), repetidamente se projetando até 1 m acima d’água. Como sempre, prestei atenção especial às flores e frutos e à vocalização das aves.

Duas aves de verão têm chegado: a andorinha-serradora e o bem-te-vi-pirata. Além delas, escutei ou vi as seguintes: araponga, bem-te-vi, bentevizinho-de-penachovermelho, biguá, carrapateiro, flautim, garrinchão-de-bico-grande, gavião-carijó, guaxe, maria-faceira, martimpescador-pequeno, martim-pescador-verde, pichororé, surucuá-grande-de-barriga-amarela, tapicuru, tesourão (somente na desembocadura) e urubu.

Entre as plantas de ocorrência espontânea vistas ao longo do trajeto, as pouquíssimas espécies encontradas com flores ou frutos são listadas na legenda da última foto. Cebolama, uvira e mangue-branco, muito abundantes e conspícuas na proximidade da foz do rio (ver fotos), estavam totalmente sem flores.

A mais bela novidade para mim deste passeio foi descobrir que a alga verde Cladophora vagabunda, uma espécie cosmopolita de áreas de maré, é bastante comum no rio Tagaçaba, principalmente nos locais onde o capim-angola (Urochloa mutica) das margens desce até a água, a alga usando como substrato as raízes deste capim expostas na água.

Facebook 26/09/2020

Ontem fiz uma visita com o ônibus de linha à bela cidadezinha de Guaraqueçaba. Seguem algumas imagens da tarde no local.

Construção de madeira (em uso como garagem) cujo telhado de chapas onduladas de fibrocimento está coberto de uma bela “floresta” de Kalanchoe delagoensis (florda-abissínia; Crassulaceae), com “sub-bosque” de Pilea microphylla (brilhantina; Urticaceae), musgos e liquens. Na margem do telhado ocorre a samambaia Pleopeltis
pleopeltifolia (Polypodiaceae).
(25/09/2020, cidade de Guaraqueçaba, próximo à Ponta de Morretes).
Vista do ‘trapiche da marina’ (reparem na série de pilares brancas) a partir da Ponta de Morretes
(25/09/2020, cidade de Guaraqueçaba).

Leia íntegra da Carta nº 233

Carta 233. Imagens da passagem do inverno para a primavera

 

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