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Carta 237. Metade da primavera em Guaraqueçaba


FACEBOOK 17/10/2020
Desde quarta-feira estou sendo honrado com a visita de Maria Fernanda Souza, liquenóloga brasileira em formação, e André Aptroot, um dos liquenólogos mais experientes do mundo!

Na Holanda, a sua terra natal, o meu xará é o famoso autor de um maravilhoso guia dos liquens daquele país.(a) Naquele livro são incluídas todas as 650 espécies que ali ocorrem, dois terças delas apresentadas com foto e descrição. André também é mantenedor de um recorde mundial: ele identificou o maior número de espécies de ascomicetos até agora conhecido de um único exemplar de árvore.(b)

Nos últimos dez anos, André tem descrito – geralmente em conjunto com colegas brasileiros -, aproximadamente trezentos novas espécies de liquens do Brasil. Conheci ele pessoalmente em 1995, numa visita à minha terra natal e entre 1998 e 2000 ele me ajudou com a identificação de alguns micro-ascomicetos que o meu amigo Georg Sobestiansky (1918-2008), residente de Rio Grande do Sul, tinha me enviado para identificação. Há alguns meses descobri, pelo Facebook, que ele se encontre temporariamente no Brasil, como professor visitante na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul.

Já na primeira tarde da sua visita a Tagaçaba, André e Maria Fernanda encontraram umas cem espécies de liquens na chácara onde resido desde 2013. Nos dois dias seguintes continuaram acrescentando espécies do mesmo local, mas então o seu trabalho de coleta estava sendo dificultado pelo chuviscar. Na foto, vocês podem ver como eles tiveram de espalhar pela mesa os envelopes contendo coleções, para que pudessem secar um pouco na ventilação ambiente.

Coleções de liquens precisem secar dentro de um prazo razoável, senão embolorem e estragam. A casa cuja interior é mostrada nas fotos pertence ao casal Donald e Leni, proprietários da chácara, que generosamente cederam este espaço a estes visitantes.

Que André Aptroot possuir um olhar atento, ele imediatamente provou para mim apontando na chácara uma licófita epifítica que tinha escapada da minha atenção (identifiquei-a em seguido como Phlegmariurus mandiocanus, espécie comum no litoral paranaense). Ontem ele me apontou um musgo terrestre minúsculo, do charmoso gênero Fissidens, que pude identificar como F. cf. platyphyllus.(c) Uma lição preciosa ganhei quando ele me explicou que “aquela massa gelatinosa entre os capins” se trata de uma grande colônia de cianobactérias pertencentes ao gênero Nostoc. Na chácara, André me apontou várias espécies de Leptogium: liquens, de talo gelatinoso, que consistem da associação de Nostoc com um fungo.

Em Tagaçaba, todas as aves do verão já chegaram e estão vocalizando. À noite, o urutau canta a todo vapor e o sabiá-laranjeira comece a cantar as 4:30 h da madrugada, o que é bem mais tarde do que na zona urbana de Curitiba, onde a espécie atualmente comece às 3 h (bairro Tarumã).

Leia a íntegra da Carta 237

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