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Pássaros que chamam turistas

werney-coluna“Casa de ferreiro, espeto de pau” (Ditado popular).

No Brasil, são criadas Unidades de Conservação nas regiões em que a avifauna potencializa o turismo voltado para a Observação de Aves. Em Itapoá, cuja avifauna é referência internacional, apenas um pequeno Parque Natural Municipal, para não dizer nenhuma.

Recentemente, na Bahia, foi criado o Parque Nacional e o Refúgio de Vida Silvestre Boa Nova abrangendo 32 mil hectares de áreas protegidas. A Save Brasil, representante brasileira da Birdlife Internacional, em Boa Nova, registrou 396 espécies de aves, das quais, 14 ameaçadas de extinção.

Para criação das áreas de proteção um dos critérios é a classificação em IBAS (sigla em inglês) Áreas Importantes para a Conservação de Aves. No mundo estão identificadas 8 mil IBAS, 237 no Brasil.

O Brasil está entre os três países com maior número de espécies, 1.834 –122 ameaçadas e dessas, 234 são endêmicas, ou seja, não existem em nenhum outro lugar. Infelizmente, ocupa também o primeiro lugar em termos de espécies ameaçadas de extinção.

Itapoá é uma das 237 IBAS existentes no Brasil. Aqui ocorrem 8 espécies globalmente ameaçadas, fato que torna relevante a preservação dos remanescentes da Mata Atlântica que ainda estão em razoável estado de conservação no município.

Entre as ameaçadas estão a Maria-Catarinense, o Bicudinho-do-Brejo, a Maria-da-Restinga, o Patinho Gigante, a Saíra-Sapucaia e o Pica-Pau-de-Cara-Canela. Essas aves despertam cada vez mais o interesse das comunidades científicas e, principalmente, dos Observadores de Aves (birdwatchers) nacionais e internacionais.

A Maria-Catarinense está ameaçada de extinção segundo o Ibama e a IUCN, e o motivo é a diminuição de seu habitat natural, as florestas da planície litorânea.

Num primeiro inventário avifaunístico, feito na Reserva Volta Velha, foram identificadas cerca de 240 espécies. Atualmente, somam mais de 300 registros. O local é visitado por biólogos, pesquisadores e observadores do mundo todo.

A Observação de Aves atrai turistas americanos, canadenses, japoneses e europeus, detentores de considerável poder aquisitivo, e que aqui chegam atraídos pela diversidade e quantidade de aves. Para uma avaliação, somente nos Estados Unidos, existe mais de 40 milhões de aficionados, o que demonstra a potencialidade do segmento. Itapoá tem demanda espontânea de uma centena de observadores anualmente.

Esse patrimônio natural deve ser obrigatoriamente protegido. Determina a Lei Orgânica Municipal em seu Artigo 210, Parágrafo 2º, Item VII: “proteger a fauna, a flora, as margens dos rios, manguezais e praias, vedadas na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção das espécies ou submetam os animais a crueldade”.

Portanto, é incompreensível o município ter apenas uma pequena unidade de conservação pública, o Parque Natural Municipal Carijó, criado para possibilitar o recebimento dos recursos das compensações ambientais da linha de transmissão de eletricidade da Celesc. Para quem não sabe a compensação ambiental devida pela implantação do Porto, perto de R$ 3 milhões não ficou em Itapoá, porque não existiam na época unidades de conservação públicas no município.

É urgente a criação de Unidades de Conservação em Itapoá, complementadas por políticas públicas que estimulem o surgimento de unidades particulares, única forma de manter para as gerações futuras esse fantástico patrimônio natural herdado tão pouco valorizado.

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