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Feira Regional de Paranaguá – 30 anos de história

Texto e fotos: Maria Wanda de Alencar

As feiras livres constituem-se em uma prática comercial muito antiga. Embora possa ser percebida como modelo comercial ultrapassado, mantendo características medievais, as feiras promovem o desenvolvimento econômico, social e cultural, facilitando o escoamento da produção familiar, comercializando alimentos com preços reduzidos, valorizando a produção artesanal, a integração social e preservando hábitos culturais.

Nela, as pessoas se encontram, trocam informações, fazem articulações políticas ou simplesmente se divertem. Muitas pessoas vão à feira por lazer, “para comer pastel, ver amigos e conversar a ermo” (SN).

As feiras livres são o exemplo mais comum de mercado de circuito curto no Brasil, onde o contato direto entre o produtor e o consumidor é capaz de trazer muitos benefícios para ambas as partes. Esse contato vai muito além de apenas a compra das mercadorias, o relacionamento entre produtor e consumidor, também, pode ser traduzido na troca de experiências e saberes entre o rural e o urbano, em forma de receitas do preparo dos alimentos, informações nutricionais dos produtos e técnicas de produção agroecológicas.

Esta proximidade representa mais segurança aos consumidores, vez que sabem de quem estão comprando, pois as dúvidas ou recomendações podem ser abordadas no momento da compra. Neste sentido, pode-se afirmar que para além do cuidado por ingerir alimentos mais saudáveis e a praticidade na aquisição dos produtos, os consumidores também zelam pela importância da relação direta entre produtor e consumidor, sendo a feira espaço de socialização de trocas mais intensas e significativas, onde os consumidores se relacionam com vários agricultores. Eles se re-conhecem acompanham as suas vidas, geram laços de amizade e solidariedade.

A feira regional de produtos agrícolas, pesca e artesanato de Paranaguá, que neste mês de maio fará 30 anos, é um espaço de diversidade de produtos e pessoas. Lá você poderá nutrir-se de alimentos e histórias dos muitos que passam e passaram neste lugar. Instalada no Centro Histórico de Paranaguá, ao lado da Catedral, há muito a ser compartilhado da cultura regional. Por lá você poderá lanchar, adquirir uma diversidade de produtos direto do campo, artesanatos, peixes, ou ser um ponto de encontro dos amigos/as ou passeio familiar das manhãs de sábado. São cerca de 30 agricultores/as familiares, os quais devem ser conhecidos.

Para começar, apresentamos quatro feirantes, pois nestes visitamos os seus estabelecimentos, de maneira tal, que além de falar dos seus produtos na feira, indicar a visita a campo para conhecer o local, a diversidade e o jeito de produzir desta gente.

Na barraca da Ana e Marcelo não dá para resistir às diversas hortaliças, temperos, tubérculos como mandioca, cenoura etc. galinhas e ovos caipiras, patos, tudo limpinho, pronto para ir ao fogo. A família produz tudo isso na Colônia Santa Cruz, um cantinho cheio de trabalho, amor, dedicação e excelente recepção. É sempre um prazer visitar famílias tão acolhedoras e cheias de histórias de vidas entrecruzadas com a produção, de maneira que, quem está na cidade possa se nutrir de alimentos frescos e saudáveis.

Na barraca da Inês dos sucos naturais da Japonesa, é um deleite ver disposta a fileira de sucos com inusitados sabores e misturas como inhame com gengibre, banana com limão, araçá com pera, o meu preferido, e muitos outros, além de poder experimentar salgados, comprar temperos e ainda fazer uma terapia auricular.

Visitando o sítio da Inês, é encantador o entusiasmo dela em nos apresentar a pluralidade de espécies frutíferas que cultiva por lá, por que Inês e seu João são propagadores de espécies e riquezas naturais, além de criar gado, cultivar mandioca, feijão, cana, flores, etc. É uma diversidade inigualável a sua produção, tudo isso na Colônia São Luiz, a 17 km do centro de Paranaguá.

Na barraca do Breda, com sua infinidade de conservas de pepino, beterraba, palmito etc. tudo está prontinho para ser consumido. Indo a campo, você descobre que no local além de produzir, é um ponto de apoio dos ciclistas, viajantes e aventureiros das trilhas e paisagens do litoral paranaense.

Lá não dá para resistir aos salgados, únicos de Dona Abiusa, ela criou uma receita para a massa de coxinhas à base de palmito, ou seja, sem glúten. Acreditem, eu vi um ciclista apreciar seis coxinhas! Elas são mesmo irresistíveis, acompanhadas de sucos naturais, o de melancia com gengibre é maravilhoso, além de uma boa conversa do casal, entre paisagens de palmitos juçara, lagos e orquídeas.

Na barraca da família Auke, são muitas as delícias de sorvetes, picolés, queijos e iogurtes, com sabores inigualáveis. A família tem receitas próprias, são tão saborosas que desejo a todos experimentarem os produtos de excelente qualidade. O iogurte de ameixa é de tomar de litro, só mesmo saboreando para comprovar o que afirmo.

Indo ao local de produção na fazenda Morro Holandês, as paisagens são de tirar o fôlego. Ao mesmo tempo em que o pulmão se renova, a vista tem ângulo de 360º das serras fantásticas da Mata Atlântica. Não deixe de conhecer este pedaço das riquezas locais, parada de ciclistas, viajores, amantes da natureza, da produção leiteira e de boas histórias.

A permanência de todos estes anos da feira, dá-se devido à parceria com as secretarias municipais de Segurança, de Agricultura e de Saúde se o IDR Paraná/Emater/Seab e ao trabalho dos muitos agricultores/as que lá trabalham.

Não deixem de conhecer a feira, consumir produtos de excelentes qualidades. Explorem nossos tesouros litorâneos, você vai se encantar com as histórias destas gentes que unem tradição e tecnologias no aprimoramento da agricultura e reprodução da vida no nosso litoral. Conhecer nos dá elementos para defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações

Parafraseando Gonzagão, na feira de Paranaguá tem tudo pra gente se ver…

Maria Wanda de Alencar é engenheira agrônoma da Prefeitura Municipal de Guaratuba e pesquisadora.

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