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O som do silêncio

Claudia Wasilewski

Minha casa sempre foi muito barulhenta, minha mãe faleceu no final de 2018 e conheci o silêncio. Com o início da pandemia, precisava me isolar, mas aconteceu que fiquei reclusa. Não era depressão, uma simples vontade de não falar ou perguntar nada para ninguém. Virei um Jocelino Barbacena, da “Escolinha do Professor Raimundo”. O telefone tocava e pensava: meu Jesus Cristinho, me descobriram aqui. Zero vontade. Com o Fábio Campana era diferente, nos ligávamos e as conversas eram longas. Muitos assuntos, dicas de livros, músicas, família e principalmente, sobre as angústias da pandemia. A vontade de voltar a uma vida agitada.

Foram 32 anos de convívio, trabalhos e muita sinceridade. Acho, só acho que pela formação em psicologia, o Fábio foi meu terapeuta. Ficava à vontade de falar sobre tudo e ele me dava razão até quando eu estava errada. Essa é uma boa definição de amigo.

Sempre agradeci por tudo de bom que ele fez por mim, por tudo que aprendi, ele não gostava, mas eu precisava fazer. Meus amigos eram seus desafetos e vice-versa, claro que rolavam umas provocações, porém sempre teve respeito sobre eles. Era muito menina quando conheci o Fábio e tinha medo dele. O tempo passou, o conheci melhor e entendi que era um temor reverencial. Um dia, contei para ele e ficou assustado, não por ter medo, mas o porquê de perder o medo. Ele ria e dizia: – onde foi que eu errei!?!

Demorei quase um mês para conseguir escrever alguma coisa. Não aceito a morte do Fábio. Imaginava o Fábio, com quase 100 anos, contando sobre uma doença rara, muito rara, que estava o acompanhando nos últimos 20 anos e que causava reações só pensadas num realismo fantástico. Sinceramente, era o que esperava.

Nem pude cumprir minha promessa de levar carpideiras de Antonina e colocar uma bela bandeira do Athético, no velório. Maldito vírus e tudo que o acompanha.

O som do meu silêncio só aumenta. Não recebo guarânias, no whats. Nossa oficina de maldades não irá acontecer. Nossa cartilha de como fazer inimigos e irritar pessoas, ficou num buraco negro. Sem mais almoços e piadas. Não serei mais chamada de menininha (sic). Como dói! Preciso transformar meu luto em verbo. Preciso lutar muito, porque foi assim que aprendi e essa é a minha essência.

Saudações rubro-negras,

Claudia Wasilewski é cronista e ex-colunista da Revista Ideias e vive em Caiobá, Matinhos

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