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Desaforo

Fazer um bom desaforo requer competência. Não pode ser feito de qualquer jeito. O melhor deles é aquele que demora pelo menos dois dias para ser entendido.

Barraco e gritaria fazem parte de outra categoria. Não vale a pena e só deve ser usado quando a situação é insustentável. Chama muito a atenção e ainda corro o risco de passar por maluca.

Tem gente que não gosto, não alimento ódio, mas não quero que faça parte da minha vida. Nem pelo mínimo tempo de ouvir um cumprimento. Uso dois tipos de técnicas. Uma é “olhar através”. É bem fácil. Quando percebo que estou sendo observada, encaro a pessoa, de forma que pareça que estou pensativa, longe. A famosa cara de paisagem. Logo em seguida mexo os olhos rapidamente. Isto confunde e o desafeto fica em dúvida se deve se manifestar. É bem bacana. A segunda é quando não há escapatória e o sem noção vem em minha direção, não corro nem me viro. Falo calmamente: – Desculpe, mas não te conheço. Ou ainda: – Meus pais me ensinaram que não devo falar com estranhos. É um corte definitivo, não existe chance de prolongar a conversa. Por dentro,  grito que me livrei.

Quando era adolescente, fazia piada com o objetivo de irritar as pessoas. Agora não faço mais. Este tempo já passou, não tenho mais disposição. E o feitiço pode se virar contra mim. Mas quando provocada, mantenho minhas gracinhas. Preferencialmente bem dirigidas, para dar dor de estômago. Por falar em estômago, lembrei de um desaforo que fiz, em Paranaguá. Eram dois rapazes vendendo ostras e parei para perguntar o preço, achei caro e fui continuar a caminhada. Um deles me chamou e disse que se comesse crua, baixaria o preço. Fiz um delicioso desaforo, aquele raiz sem sal e limão. Na sexta ostra, perguntou se eu pagaria, lógico que paguei. Na saída, eles contaram que acharam que eu tinha cara de dondoca e duvidaram de mim. Pois é…

Não se deve ameaçar ou chantagear, como contar um segredo. É muita baixaria. Denunciar sim e sempre, o que atinge o coletivo. Com isto eu concordo e, se possível, assinado com firma reconhecida. A não ser que coloque a vida em risco, daí fazer de forma anônima. No mais, se é possível fazer justiça, que o justiceiro colha os louros.

O bom mesmo é viver feliz e em paz. Mas se o embate for inevitável, por favor, não perca a classe nunca.

Dicas:

1. Só faça confusão bem arrumado e cheiroso. Uma pessoa esculhambada não é levada a sério.

2. Não cometa erros de português de espécie alguma. Falando ou escrevendo.

3. Não use gírias.

4. Mantenha a cabeça um pouco acima da linha do horizonte.

5. Enquanto a pessoa argumentar, mantenha um leve sorriso nos lábios.

6. Não interrompa o adversário.

7. Tente usar as palavras dele, com muito cinismo, para desqualificá-lo.

8. Não trema nunca. Feche bem as duas mãos, bem ao lado do corpo.

9. Use o tom de voz um pouco abaixo que o dele. Só assim você poderá se vitimizar.

10. Se ele for maior que você e quiser te bater, nunca grite socorro. E sim FOGO! Atrai curiosos.

P.S. Já dizia meu pai: – nunca faça desaforo de bolso vazio, pode te custar caro.

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