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Cara de burrinha

Amiga, não permita ser menosprezada. Amigo, não faça isso.

Na década de 80, fiz minha carteira de motorista, em Curitiba. Terminada a prova de rua, o rapaz do Detran disse que estava surpreso por eu ter passado, afinal eu tinha cara de burrinha. Saí de lá aos prantos, entrei no ônibus e fui direto para a casa do meu irmão mais velho. Até esqueci que a auto-escola me levaria para casa. Contei para o meu irmão Luiz Henrique e ele além de solidário, ficou tão bravo quanto eu. Ligou para o Detran com alguns decibéis a mais na voz e no mesmo dia, foi recebido pelo diretor. O tal rapaz se desculpou, a minha carteira veio pelo correio, não era usual na época, mas penso que não queriam mais nenhum Wasilewski, por lá. Não, não era birra de garota mimada, era defesa de como fomos criados, por termos pais livres de preconceitos de qualquer tipo. Sou grata por isso.

Há uns 20 anos, em Caiobá, resolvi retirar um aquecedor elétrico de água, gastava muita luz, ocupava muito espaço num armário e dava muita manutenção. Tudo contra. Já estava desmontado e pronto para ser retirado, quando veio a bomba: – Precisa retirar a moldura do armário, chamar um pedreiro para reenquadrar e um marceneiro para repor. Na hora, pensei em continuar o plano do chuveiro elétrico, ignorando para sempre a existência do aquecedor. Mas… peraí! Eu não queria mais aquele aquecedor, era só amassar a parte de cima e retirar, era lógico. Começou aí uma discussão quase sem fim. O senhor afirmava que estragaria o aquecedor, eu dizia que não queria mais o aquecedor e que ele iria para a caçamba. Até que vi uma marreta no meio das ferramentas dele, a peguei e fui com muita certeza para marretar o aquecedor. Pronto, acabou a treta, ele retirou o aquecedor, o paguei e fim. O que ele queria? Queria o aquecedor, receber para retirá-lo, e deixar a despesa de marceneiro e pedreiro para mim. Desonestidade e machismo num só pacote.

O filósofo e escritor Mário Sérgio Cortella lava nossa alma quando define: –  O machis­mo pressupõe que o homem é su­perior à mulher, o feminismo de­fende a igualdade entre os sexos. Machismo não é o contrário de feminismo, o contrário de ma­chismo é inteligência”.

Quando comemoro profundamente os avanços das leis, me dói profundamente saber porquê elas estão aí. A Lei Maria da Penha é caso clássico. Fez quinze anos, no dia 7 agosto. Por que relações de amor se transformam em agressão? Não precisava ter uma lei para que relações de amor fossem de amor. Pensem que avançou mais quando permite que “outros” fora das relações façam a denúncia. Mulheres, na sua maioria, são as vítimas. Estas sem autoestima, independência financeira, criando seus filhos, não têm mais força ou discernimento para reação. Meta colher nas relações abusivas e ajude denunciando. Ligue 181. Amiga, não se submeta, conte para alguém. Estamos juntas.

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