Correio do Litoral
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A raposa e o bode

O momento remete a uma fábula de Esopo, escritor e poeta grego, nascido no ano de 620 a.C.

Conta a história da raposa que caiu num poço. Por mais que tentasse não conseguia sair do buraco. Foi então que apareceu um bode, morto de sede, a procura de água para beber. Ao ver a raposa dentro do poço, perguntou-lhe se a água era de boa qualidade.

A raposa esperta e percebendo que o bode estava com muita sede, passou a elogiar a qualidade da água, dizendo ser limpa, saborosa e refrescante. A argumentação seduziu o bode a descer ao poço, pensando apenas na sede que sentia.

Saciada a necessidade, era preciso voltar à superfície e, então, perguntou a raposa como poderiam fazer isso.

– Tenho uma ideia, disse a raposa, – que depende mais de você do que de mim.

– Põe as patas dianteiras contra a parede e erga a cabeça o máximo que puder; subo nas tuas costas, dou um pulo e uma vez lá fora, puxo você pelos chifres.

O bode fez o que ela disse. Com a ajuda das pernas, das costas e dos chifres a raposa conseguiu voltar à boca do poço. Mas, ao invés de tirar o bode como prometera, simplesmente foi embora, dizendo-lhe:

– Ah! Meu caro bode se tivesse tanta inteligência quanto às barbas do focinho, não teria descido sem antes saber como voltar.

Moral: a prudência recomenda antever um final para tudo o que se faz.

Na fábula, a raposa aparece como símbolo de esperteza, persuasão e de individualismo. O bode, enganado, simboliza aqueles que se aventuram por caminhos, sem muita certeza para onde se está indo.

O bode, cego pela sede, acreditou na conversa da raposa, interessada somente em resolver o seu problema: sair do poço em que caíra.

Nem sempre estamos aptos a antever ou prever as consequências das nossas escolhas e decisões. Por mais comedido que possamos ser não há como evitar todas as consequências. Na história, o bode não refletiu sequer por um momento, em como sairia do poço, obcecado que estava em saciar a sua sede.

As pessoas em momentos de desespero, descrédito ou até indiferença, passam por situações semelhantes e, às vezes, ignoram aquilo que é o óbvio.

Com um olhar mais atento, o bode talvez percebesse o imbróglio em que se meteu e não teria simplesmente, descido incontinente ao fundo do poço. Muito menos dado ouvido à conversa da raposa.

Mas, também não teria matado a sede! Podemos dizer que ele pagou um preço muito alto pela água que bebeu. Sair do poço passou a ser novo problema, cuja causa foi acreditar piamente, na proposta da raposa.

Portanto, há que se estar muito atento às modernas raposas e bodes dos mais diversos matizes, que prometem solução e ajuda para todas as demandas, depois… é outra história… os bodes que se virem.

Itapoá (outono), 2015.

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