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Trabalho solitário de coletor pode valorizar banana de Guaratuba

O trabalho solitário de um coletor na área rural de Guaratuba poderá incrementar a renda de 27 famílias e ainda valorizar o principal produto agrícola do município.

Seu Juvêncio Emídio Soares, de 75 anos, descobriu um nicho da coleta de materiais recicláveis: o saco plástico que recobre os cachos de banana contra doenças, insetos, aves e o tempo. Guaratuba é um dos maiores produtores do Brasil. Com uma colheita próxima de 80 toneladas (2014, Ipardes), o cultivo da banana ocupa uma área de 2.800 hectares em 250 propriedades. Na região onde seu Juvêncio atua, a Associação Produtores Rurais e Moradores do Cubatão reúne 60 produtores, que ensacam aproximadamente 375 mil cachos de banana.

De domingo a domingo

Em seu carrinho de madeira, o idoso só consegue abranger uma pequena fração das propriedades. Mesmo assim, faz entregas esporádicas no barracão da Acamares de uma tonelada de plástico. O material valorizado já vem separado de outros resíduos, como casca de banana, restos de insetos etc.

A separação é a tarefa que demanda mais tempo do idoso, que trabalha de domingo a domingo, inclusive nos feriados. Ele gasta um dia percorrendo as lavouras, subindo e descendo morros das plantações e da estrada rural com um carrinho que é maior do que ele. Gasta dois dias separando, limpando e embalando o produto. Faz isto em uma barraca improvisada na beira da Estrada Geral do Cubatão.

Na coleta, enfrenta a primeira dificuldade, porque cada produtor adota um procedimento diferente na retirada dos sacos. Alguns reúnem tudo em um local da plantação; outros, no final de cada carreira de árvores. Há até quem simplesmente deixe o saco jogado no meio da plantação, junto a cada bananeira. Com tanto trabalho, seu Juvêncio consegue uma renda entre R$ 600,00 e R$ 700,00 por mês.

Alternativa para Acamares

Apesar de todos os obstáculos, o produto de seu Juvêncio ajuda a manter a atividade das famílias que fazem a coleta seletiva na área urbana de Guaratuba e trabalham na separação no barracão de recicláveis do município administrado pela Associação de Catadores de Materiais Recicláveis Pôr do Sol (Acamares). Seu plástico representa uma das fontes de receita da associação fora da temporada de verão, quando a produção de resíduos cai vertiginosamente.

De olho nesta produção e preocupados com a pobreza do idoso, o secretário municipal do Meio Ambiente Elcio Veiga, o diretor-executivo Márcio Nascimento, e encarregada do barracão Jocilene Aparecida da Conceição “Pretinha”, o servidor Carlos Campos, o presidente da Acamares, Orlando dos Santos, e a equipe da empresa que aluga os caminhões para a coleta na cidade se deslocaram para a área rural, no início de junho. Conheceram o trabalho e discutiram com seu Juvêncio e alguns produtores da Associação do Cubatão como aumentar a produção e incrementar a renda do coletor.

Na boleia

Das conversas, surgiu a ideia de fazer pontos de coleta nas propriedades. Os próprios agricultores se incumbirão de levar o material reciclável até estes pontos. Patrões e empregados também deverão levar para os depósitos o lixo reciclável de suas casas. Periodicamente, talvez uma vez por semana, um caminhão da coleta seletiva com a equipe da Acamares vai até lá. Seu Juvêncio, poderá sentar na boleia e comandar a operação.

A separação e embalagem não precisará mais fazer, pois ficará a cargo das famílias que trabalham no barracão. A equipe da Secretaria do Meio Ambiente calcula que a produção poderá chegar a 7 toneladas de material por mês. Ninguém arrisca estimativa, mas, seguramente, a renda de seu Juvêncio vai aumentar. Ele não vai mais precisar trabalhar nos finais de semana e feriados.

Selo Socioambiental

Em contrapartida, os produtores que participarem do projeto poderão agregar um grande valor à banana que vendem. A Secretaria e a Acamares estudam uma forma de controlar a destinação de todos os sacos usados em cada propriedade, conferindo as notas fiscais de compra e pesando o material coletado. No final, pretendem conceder um certificado de destinação ao produto, um selo de responsabilidade ambiental e social. A certificação poderá abrir mercados mais lucrativos para os bananicultores de Guaratuba.

A ida regular do caminhão – o Município vai adquirir um veículo próprio que se somará aos dois alugados atualmente – também permitirá estender a coleta seletiva para a imensa área rural, que tem aproximadamente 4.000 moradores em mais de uma dezena de localidades. Os pontos de coleta poderão ser instalados em escolas ou igrejas.

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