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Ponte de Guaratuba e o Corredor Bioceânico

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Maurício Machuca – Brasil é um país grande por natureza, mas, apesar das suas dimensões continentais ele não possui saída para o Pacifico. Se observarmos as condições geográficas dos Estados Unidos e do México podemos constatar que são dois países privilegiados por ter portos tanto no Oceano Pacifico como no Atlântico, meu sonho sempre foi o de propor um corredor bioceânico ligando os portos de Paranaguá e Valparaíso no Chile.

Sabemos que o BNDES desde 2005 vem financiando milionários estudos para desvendar qual a melhor rota para definir o corredor, o tipo de modal e os entraves jurídicos da questão principalmente no que faz referência ao tema aduaneiro. A rota que está sendo estudada pelo governo brasileiro é a traves da Bolívia (Eixo de Capricórnio) num percurso aproximado de 4 mil quilômetros, entretanto este percurso seria ferroviário e os investimentos para por ele em funcionamento são bilionários e em muitos casos nossos países vizinhos não teriam condições de arcar com os investimentos. Para piorar a questão o projeto contempla portos no Chile de menor importância logística visto que nesse país a maior atividade comercial se concentra na zona central mil quilômetros ao sul da rota prevista pelo governo brasileiro.

Nossa ideia é infinitamente mais simples, porque consideramos a ligação rodoviária entre Paranaguá e Valparaíso, principal porto do Chile. Nesse trecho todas as estradas estão construídas e o projeto que pretendemos levar a Brasília é o mapeamento da rota promovendo os tratados necessários para que tanto no Brasil, Argentina e Chile o percurso seja indicado a traves de placas de transito, feito isto recomendar um planejamento viário visando a duplicação da rota definida.

Eixo Mercosul:

Na Argentina o corredor bioceânico (Eje Mercosul) já vem sendo incrementado há mais de dez anos fundamentado principalmente na importância comercial da região cortada pela rota. A diferença com nosso projeto é que eles entram ao Brasil pela cidade gaúcha de Uruguaiana ao passo que nós consideramos Foz do Iguaçu como porta de entrada.

Para os argentinos a importância comercial radica na inclusão de Porto Alegres e a extensão até São Paulo pela BR 101. O Eixo Mercosul começando em Valparaíso e terminando em Santos mais suas ramificações em Paraguai e Uruguai concentra aproximadamente 70 % da riqueza do continente.

A Argentina vem fazendo a lição de casa e a duplicação desta rota está incluída nos projetos do ministério dos transportes desse país mesma coisa no Chile onde a estrada está em constante aprimoramento principalmente no setor de cordilheira.

Descrição do Corredor Bioceânico:

Consideramos o porto de Valparaíso como ponto de partida por ser o principal desse lado do Pacifico, fica a 125 km de Santiago e a 200 km da fronteira com Argentina. Faz parceria com o Porto de San Antonio que fica a 88 km ao sul de Valparaíso. Em conjunto atendem comercialmente a toda a região central do Chile mais as províncias de Mendoza, Córdoba, Buenos Aires, Entre Rios e San Luis.

O corredor bioceanico entre Buenos Aires e Valparaíso já vem funcionado há décadas somando a isso todo o fluxo turístico das praias chilenas em na temporada de verão e das estações de esqui durante o inverno.

A distância entre Valparaíso e Mendoza é de 411 km e de Mendoza até Buenos Aires é de 1.166 km esta condição geográfica tem transformado o litoral chileno em destino turístico das províncias argentinas que fazem fronteira com o Chile.

A beleza da travessia da cordilheira faz a própria viagem se transformar num atrativo turístico mesmo por passar ao lado do Aconcágua e de muitos outros atrativos de estonteante beleza.

Do lado Argentino encontramos a Ruta Nacional Nº7 catalogada pelas autoridades argentinas como fazendo parte do corredor bioceânico por ser o principal passo fronteiriço e captar todo o transito do comercio internacional de Argentina, Brasil, Uruguai e Paraguai. Esta Rota está em perfeitas condições e em constante processo de ampliação e duplicação. Mesma coisa acontece entre Mendoza, San Luis e Villa Mercedes trecho onde nos deparamos com as melhores estradas do continente, tudo duplicado com amplos acostamentos, tudo iluminado e plano. São 356 km.

Em Villa Mercedes existem duas possibilidades ou continua em direção a Buenos Aires ou começa a subir para o norte em direção a Brasil passando pela cidade de San Francisco num percurso de 454 km. Estrada em boas condições e em fase de duplicação em muitos trechos.

De San Francisco seguimos para o leste em direção à cidade do Paraná passando pelo túnel sub-fluvial sob o rio Paraná. São 168 km

Já no lado leste do Rio Paraná podemos cortar caminho pegando a rota 12 e posteriormente a rota 127 em direção a Paso de Los Libres numa distância de 426 km. Este trecho apresenta estradas em mal estado de conservação até o cruzamento com a rota 14 que em definitiva é a que nos leva até a cidade de Paso de los Libres que faz fronteira com o Brasil com a cidade de Uruguaiana.

A cidade de Paso de los Livres é um ponto crucial da viagem, por que nós damos a possibilidade de entrar ao Brasil em direção a Porto Alegre ou seguir rumo ao norte até a cidade de Puerto Iguazú onde a Argentina faz fronteira com o Brasil na cidade de Foz do Iguaçu. A Corredor Bioceânico proposto, têm um cunho turístico e nosso objetivo são as “Cataratas del Iguazú” segundo destino turístico do Brasil, foi a porta de entrada dos argentinos e chilenos durante o mundial de 2014 cálculos preliminares estimaram em 80 mil turistas entrando por Foz do Iguaçú nesse período e um fluxo aproximado de 10 mil veículos particulares. A outra cidade de entrada como já tinha sido mencionado foi Uruguaiana porem foi devido a que a Argentina jogou em Porto Alegre, e essa rota é a mais conhecida e divulgada entre as empresas de transporte terrestre.

Por isso a importância de definir o Corredor por Foz e desviar o fluxo em direção ao Estado do Paraná estabelecendo um roteiro turístico no eixo Foz / Vila Velha / Litoral. Paraná perde o fluxo turístico do Mercosul para Uruguaiana porque o turista não sabe que andando por dentro da Argentina mais 632 km ao norte chega em Puerto Iguazú cidade limítrofe com Foz do Iguaçu.

Rota das Praias:

Da cidade de Puerto Iguazú até Paranaguá no litoral paranaense existe uma distância de 746 km. Final do percurso ou início em direção a Valparaíso num total de 3.193 km. Ambos portos possuem uma caraterística em comum, ficam em cidades históricas e rodeados de praias e sítios turísticos.

O objetivo do projeto é colocar o Corredor Bioceânico no roteiro turístico mundial, nos moldes da lendária Rota 66 nos Estados Unidos, para isso acontecer propomos a construção da ponte de Guaratuba para fazer a integração turística com Santa Catarina a traves da BR 101, obra necessária por que vem de encontro às necessidades da população eliminado a insegurança da balsa por uma ponte que garanta a travessia de carros incorporando calçadas e ciclovias que incentivem a pratica de esportes como o skate, ciclismo, patinagem, rapel, Bungee jumping e maratonas por cima da Bahia de Guaratuba, com uma torre como mirante outra para escalada, inserindo a localidade dentro do calendário mundial de esportes radicais. Seria a primeira ponte no mundo projetada para tal finalidade, o que opor si transformaria nosso litoral em destino turístico de nível mundial.

Em parceria com a iniciativa privada podem promover o percurso somando o aluguel de motocicletas nos moldes do que acontece na Rota 66.

Entre outros exemplos de exploração turística consideramos que o efeito multiplicador na economia local principalmente no litoral paranaense lugar de partida e destino do corredor bioceânico fara com que a região como um todo cobre importância e chamará a atenção tanto dos governos estaduais como federais.

Dentro deste quadro consideramos que os investimentos na área hoteleira, imobiliária e residencial se multiplicarão, e para enfrentar o crescimento demográfico que um projeto desta natureza trará para o nosso litoral será feito uma revisão do plano diretor do litoral paranaense para poder ordenar o crescimento da cidade de maneira acessível, sustentável visando o menor impacto ambiental e prevendo investimentos no saneamento básico.

O viés turístico do Corredor trará a reboque o interesse comercial neste caso tanto os portos de Valparaiso como o de Paranaguá entram no circuito atendendo a revitalização de ambos os portos. No caso do Paraná podemos solicitar junto ao Ministério dos Transportes a encampação da BR 277 por interesse público para poder eliminar qualquer risco de renovação dos contratos de pedágio que castigam o setor de transportes e de turismo do Estado uma vez que as concessões estão findando.

Investimentos:

Operacionalmente os investimentos já foram feitos o corredor bioceânico existe o que estamos propondo é a demarcação, a traves de placas de transito, investimento necessário porém previsto nos contratos de manutenção dos três países participantes do empreendimento. A principal dificuldade seria a de homologar placas padrão para os três países participantes. Fazendo os estudos para sinalizar o percurso nos acessos as grandes cidades, nas rotatórias e cruzamentos, para quem está fazendo o percurso pela primeira vez as chances de se perder mesmo com GPS são muito fáceis de acontecer, o que não aconteceria se adotasse uma placa padrão para sinalizar os 3 mil quilômetros a exemplo do que acontece com a rota 66 nos Estados Unidos.

Na Argentina existem grandes cidades onde a estrada principal desemboca no centro urbano mesmo existindo desvios, porem passam desapercebidos por falta de sinalização.

A sinalização do corredor facilitaria em muitos casos a transposição de grande cidade por estradas perimetrais poupando tempo gasolina e estabilidade emocional do motorista.

Cabe destacar que este tipo de sinalização faz parte de qualquer orçamento plurianual de qualquer estado ou província por menor que seja, é uma ação viável e que transferiria uma importância viária ao ponto de canalizar os investimentos para o aprimoramento e duplicação das estradas utilizadas na composição do Corredor Bioceânico. Por tanto podemos considerar que até aqui as custas do projeto são perto de zero.

O grande investimento no Paraná é a Ponte de Guaratuba, entretanto ela está incluída no projeto de ampliação da BR 101 atualmente em licitação o primeiro trecho de Guaruba até a BR277 perto de Morretes o que além de contemplar a ponte insere no roteiro toda a região de Antonina. Desta maneira o projeto continua a baixo custo e no caso da ponte a labor dos Deputados e Senadores deverá ser a de questionar o Ministério dos Transportes quanto a liberação dos recursos e a revisar os projetos licitados conforme os novos parâmetros que inserem nosso litoral no roteiro turístico mundial.

Maurício Machuca é arquiteto – arquitetoscuritiba.com/blog/

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