A reforma do bordel
Era uma vez uma pequena cidade do interior do Brasil, onde sua pacata e religiosa população de “homens de bem” viviam felizes e tranquilos debaixo da moral estabelecida. Nenhum escândalo, nenhum ilícito vinha à tona. A sensação de honestidade e moralidade familiar era exemplar, no conceito das beatas da cidade, é claro!
Uma certa época, nos arredores da comunidade em direção à “zona rural” uma novidade chegou à cidade: Uma Casa de Tolerância, como se costumava chamar os meretrícios.
Uma senhora cuja beleza o tempo já tinha desgastado, era a dona daquela casa pintada com cores berrantes, moças simpáticas e faceiras na janela distribuindo sorrisos convidativos aos homens ingênuos da região que por ali passavam.
À noite, uma luz vermelha iluminava a porta de entrada e os carros dos bacanas da cidade estacionavam e se divertiam com as moças muito dadas às carícias que eles não recebiam em casa de suas castas e puras esposas, como bem rezava os “bons costumes” conservadores.
O tempo foi passando e as mulheres casadas e viúvas reclamavam ao vigário da igreja católica e ao pastor evangélico:
“É um escândalo!” dizia uma….. , “É uma afronta às famílias” esbravejava a viúva de um ex fazendeiro local. E assim, os líderes espirituais da pequena cidade eram pressionados pelas “distintas senhoras”.
Do lado masculino, nenhuma reclamação! Os homens estavam mais sorridentes, brincalhões e amistosos uns com os outros, afinal, eram cúmplices coletivos do adultério coletivo que se estabeleceu.
O pastor e o padre foram conferir, e viram que a escandalosa casa cor-de-rosa com lâmpada vermelha na porta e moças em trajes provocativos nas janelas, destoavam da paisagem e arquitetura da pacata comunidade.
E o prefeito? Ah! Ia esquecendo… ele era frequentador da “Casa”…
Resolveram ir conversar com a dona do bordel. Explicaram o que acontecia entre suas fiéis irmãs de fé e que aquela “casa do pecado” não poderia causar aquele impacto tão perturbador para a paz social e das famílias.
A experiente e esperta cafetina, profunda conhecedora da psicologia humana propôs uma radical mudança as líderes religiosos:
“Está bem! Pintarei a casa de azul e branco, trocarei a lâmpada vermelha por uma branca comum e as moças não ficarão mais na janela, somente dentro da casa, concordam?” perguntou a dona do bordel com um sorriso sedutor nos lábios.
“Fechado!” respondeu o padre.
“Aleluia!” disse o pastor selando o acordo.
Passados um mês, as reformas estavam concluídas e a casa ficou exatamente como prometido pela proprietária.
A frequência manteve-se fiel, e a discrição tornou-se uma lei comportamental na cidade: Ninguém mais falava do bordel, mas seu estacionamento manteve-se sempre cheio, como sempre foi desde sua inauguração.
As senhoras beatas da cidade mostravam-se felizes e com ar de vitória pela conquista de “apagar aquela mácula” da cidade, a paz familiar voltou como nos velhos tempos.
Moral da estorinha?
Estes tempos políticos no Brasil me fazem lembrar este bordel. Uma onda de pseudomoralidade parte de setores da grande mídia e de velhos caciques políticos nacionais que chega ser admirável suas capacidades de interpretarem cinicamente o papel de baluartes da moral pública.
“Escândalos” são trombeteados diariamente que até este colunista tem que se beliscar de vez em quando para não ser robotizado pela mídia. Lembro-me de dezenas e centenas de roubos e assaltos aos cofres públicos das pequenas e grande cidades por “famílias tradicionais” da política. O mesmo nos estados da federação Brasileira.
No Governo Federal, até o brilhante político, jurista e diplomata Ruy Barbosa, um dos organizadores da Primeira República, a partir de 1889, já à época fazia veementes discursos contra a CORRUPÇÃO, um dos quais terminava com a famosa frase: “…. que até me envergonho de ser honesto!”.
Pois é meu caro Ruy, hoje até o ex-Presidente Fernando Henrique Cardoso, que entregou parte das grandes empresas estatais do Brasil a grupos amigos, aposentou-se pela Universidade de São Paulo com 37 anos, proprietário de um apartamento em Paris avaliado em 10 milhões de dólares, hoje diz está “envergonhado com o Brasil”. Ora, me poupe FHC!
A Reforma Política que teremos que fazer no país deve ser profunda: Acabar com privilégios e encurtar mandatos de políticos profissionais, acabar com partidos políticos de aluguel e a “maternidade da corrupção: Dinheiro de empresas para políticos e suas campanhas eleitorais.
Essa é a maior de todas, pois o sistema atual faz das mais de 5.500 Câmaras Municipais, das Assembleias Legislativas dos 27 Estados e Distrito Federal, chegando finalmente ao Congresso Nacional, simples centrais de despachantes de interesses empresariais de grupos econômicos, como a Operação Lava-Jato da Polícia Federal está nos mostrando todos os dias.
Se a Reforma Política não acabar minimamente com estes poucos tópicos, estaremos iguais a estória que contei no início: Faremos apenas um reforma no bordel….. e tudo continuará como sempre foi.
E você? O que acha disso tudo?
Esta é apenas a Minha Opinião!