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Carroceiros de Guaratuba criam associação para evitar extinção

Associação calcula que existam exatos carroceiros em Guaratuba
Associação calcula que em Guaratuba 300 famílias trabalham com carroças

Os carroceiros de Guaratuba se organizam para lutar contra a própria extinção. No último dia 5, eles criaram a Associação dos Carroceiros do Carvoeiro e Bairros Adjacentes (Acarba). A assembleia reuniu 22 trabalhadores. Até a quinta-feira (8), já eram 35 associados.

De acordo com a presidente escolhida, Ingrid Ferreira dos Santos, em Guaratuba existem exatos 397 carroceiros, de aproximadamente 300 famílias. Para defender a categoria, a associação vai organizar a atividade no cumprimento da lei. Mas também vai poder contar com a força política de “bem mais de mil eleitores” que, segundo eles, dependem do uso de carroças para sobreviver. Pelas contas dos carroceiros, o número se multiplica muitas se forem contados os parentes, amigos, clientes de fretes e demais simpatizantes dos trabalhadores.

Para se ter uma ideia da força dos carroceiros, em Curitiba, onde o prefeito Gustavo Fruet bancou um projeto de lei proibindo a tração animal, aprovado em setembro, a Prefeitura calculou que existissem 100 animais na atividade. Em Guaratuba tem mais do triplo.

Na quinta-feira, o CorreiodoLitoral acompanhou uma reunião da Acarba. Havia pouco mais de 50 pessoas, a maioria sendo convidada a engrossar a entidade. A presidente disse que a pressão para acabar com os veículos de tração animal será cada vez maior e eles precisam estar preparados para um futuro de dificuldades cada vez maiores.

Por isto, explica ela, é importante que os carroceiros sejam rigorosos no cuidado dos animais e que eles próprios combatam maus tratos e abandonos nas ruas. Além dos defensores dos animais, eles enfrentam oposições e preconceitos de pessoas que reclamam da lentidão das carroças nas ruas, das fezes deixadas nas ruas e até do “visual”. Ingrid conta um caso exemplar. Dias desses, um carroceiro parou no meio da avenida para limpar a bosta do cavalo e colocar numa cesta que levava na carroça foi duramente ofendido por motoristas. “Se não recolhe, reclamam, se recolhe eles acham ruim”.

Outra preocupação é com o cumprimento da lei. Durante a reunião, a presidente leu trecho da Lei Municipal 1.083, de 2002, que trata do controle de populações animais, prevenção e controle de zoonoses, cadastramento, emplacamento e circulação de veículos de tração animal. No mesmo ano da lei, foi criada uma associação, que funcionou até 2010, mas segundo os novos líderes, não atendeu as expectativas da categoria.

A lei municipal assegura que “veículos de tração animal somente poderão utilizar as vias públicas urbanas do Município de Guaratuba”, desde que obedecidas certas exigências. Entre elas, comprovar as condições mínimas de trafegabilidade e segurança, zelar pela saúde do animal e cadastrar e emplacar as carroças.

Para cumprir a lei, a Acarba pretende ajudar o município no cadastramento e fiscalização de animais e veículos. Pretende ir mais longe. Um dos primeiros projetos será a compra em grupo de ração, ferraduras e vacinas. Só em ferraduras, um cavalo utilizado no frete gasto aproximadamente um jogo que custa aproximadamente R$ 24. Na coleta de recicláveis, gasta um jogo por semana.

Além de Ingrid a diretoria da Acarba é composta por Wellington Ferreira dos Santos (vice-presidente), Maria Lourenço da Silva Santos (secretária), Samuel Mendes (tesoureiro) e Lindomar Oliveira, que assumirá a importante função de “cuidador de animais” dos associados. Lindomar se dispõe a tirar dois ou três dias por semana para colocar ferraduras nos animais dos associados.

Proibição – A mobilização e reorganização dos carroceiros aconteceu depois de o vereador Almir Troyner anunciar um projeto de lei para “proibir cavalos, jumentos, mulas, cabras e bovinos em qualquer tipo de atividade em que seja necessário o uso da força do animal em transporte como carroças e charretes em Guaratuba”. O vereador anunciou o projeto no dia 25 de setembro. Três dias depois, os carroceiros fizeram uma manifestação em frente a Câmara, quando foram recebidos por Troyner e diversos vereadores.

O autor da ideia garantiu que não fará nenhum projeto sem ouvir carroceiros e defensores dos animais. A maioria dos vereadores, assegurou que nenhum projeto de lei que prejudique a categoria vai passar na Câmara.

 

 

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