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Tartaruga-gigante faz desova rara no litoral do Paraná

Uma tartaruga-gigante (Dermochelys coriacea) presenteou o litoral do Paraná na manhã do último dia do ano, nesta quinta-feira (31), por volta das 5h, com a desova de cerca de 100 ovos na praia de Pontal do Sul, em Pontal do Paraná.

A equipe do Projeto de Monitoramento de Praias do Laboratório de Ecologia e Conservação da Universidade Federal do Paraná (PMP-BS/LEC/UFPR) foi acionada e rapidamente se dirigiu ao local para verificar a ocorrência, confirmar a desova e isolar a área.

Segundo a bióloga e pesquisadora, Camila Domit, que coordena o LEC/UFPR, o aparecimento de uma tartaruga-gigante como essa é um evento raro para o litoral do Paraná. “Esta tartaruga veio desovar e possivelmente voltará daqui uns dez dias para nova desova, podendo subir a praia para deposição de ovos até dez vezes na mesma temporada. A tartaruga-gigante é uma espécie criticamente ameaçada de extinção e precisa de todos os cuidados e monitoramento especializado de dia e de noite durante todo seu período reprodutivo”, ressalta.

O que preocupa a equipe neste momento é o período do ano e o intenso movimento nas praias durante o Réveillon. É importante que a população se sensibilize quanto à responsabilidade coletiva de proteção dos ninhos e da fêmea durante a desova. Vale lembrar que molestar animais é crime conforme a legislação ambiental vigente.

Assim, segue a orientação de não mexer/tocar na tartaruga (caso ela volte) ou em qualquer outro animal marinho, tanto para os que encalham devido algum problema de saúde, quanto aos que encontram um local para reproduzir, assim como a bela e a ameçada tartaruga-gigante.

Tartaruga-gigante

Essa espécie (Dermochelys coriacea), ou também conhecida como tartaruga-de-couro, é a maior espécie de tartaruga marinha existente, podendo medir até dois metros e pesar 700 quilos. Vive usualmente na zona oceânica durante a maior parte da vida, aproximando da zona costeira apenas quando em busca de alimentos, como as águas-vivas. Em geral, a espécie começa a se reproduzir após os 20 anos e a única área regular de desova conhecida no Brasil situa-se no litoral norte do Espírito Santo (região de Regência, ES). De acordo com a classificação do Ministério do Meio Ambiente é uma espécie criticamente em perigo de extinção. No estado do Piauí e mesmo anteriormente aqui no Paraná também foram registradas fêmeas desovantes, mas estes eventos não são constantes como no Espírito Santo. Infelizmente, ao longo de 2020 foram registrados muitos animais adultos desta espécie encalhados mortos na região sudeste e sul do Brasil, fator que aumenta a preocupação quanto à conservação global das tartarugas-gigantes.

“Na costa brasileira não temos registro apenas de animais nascidos no Brasil, há ocorrência de grande número de animais que vem do Gabão, e outras regiões da África, que se alimentam nas águas do sudeste e sul. Um evento como este no Paraná pode estar relacionado a diferentes motivos, inclusive, em consequência dos efeitos de mudanças climáticas, da demanda da espécie por novas áreas para reprodução ou até uma influência do processo comportamental de migração desses animais”, complementa a coordenadora do laboratório.

As ocorrências reprodutivas anteriores desta espécie de tartaruga no Paraná foi entre os anos de 2007, 2009 e 2014, e se referia a um mesmo animal identificado que acabou indo a óbito, provavelmente devido à captura incidental em atividades pesqueiras (o animal tinha marcas e a presença de anzóis de pesca comercial).

Para a bióloga e gerente operacional do PMP-BS/UFPR, Liana Rosa, “é um privilégio poder monitorar e compartilhar com as pessoas informações sobre esta espécie ameaçada de extinção. A tartaruga-gigante, apesar de ser um animal resistente que habita nosso oceano há milhões de anos, está exposta a diversos tipos de impacto. Apesar de sua magnitude, é uma espécie sensível e sua reprodução geralmente não tem alto sucesso em percentual de nascimento de filhotes e sobrevivência destes até a vida adulta.

Os principais desafios que essa e outras espécies de tartarugas vem enfrentando hoje em nosso oceano são a diminuição dos recursos alimentares devido a degradação ambiental, captura acidental pela atividade pequeira e a contaminação dos mares.

Monitoramento das Praias (PMP-BS)

O Projeto de Monitoramento de Praias da Bacia de Santos (PMP-BS) é uma atividade desenvolvida para o atendimento de condicionante do licenciamento ambiental federal das atividades da Petrobras de produção e escoamento de petróleo e gás natural na Bacia de Santos, conduzido pelo Ibama. O PMP-BS é realizado desde Laguna (SC) até Saquarema (RJ), sendo dividido em 15 trechos. O LEC/UFPR é responsável por monitorar e avaliar os encalhes no Trecho 6, compreendido entre os municípios de Guaratuba e Guaraqueçaba (PR).

Imagens de Gilberto Pascolato – Pré-acionamento de Jucelino e Fabiano Willianss
Fonte: LEC / UFPR
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