Correio do Litoral
Notícias do Litoral do Paraná
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Crônica

Cara de burrinha

Amiga, não permita ser menosprezada. Amigo, não faça isso.

Desaforo

Fazer um bom desaforo requer competência. Não pode ser feito de qualquer jeito. O melhor deles é aquele que demora pelo menos dois dias para ser entendido.

Confiável?

Sou muito confiável, tenho cara de confiável. Sei guardar segredos ou simplesmente silenciar. Muitos amigos sabem que não conto nada nem espetada, escuto sem fazer críticas, dar conselhos ou palpites. Se precisam falar, que falem. Pela vida, me afastei e me perdi de pessoas, outras me sacanearam, mas mesmo assim não senti vontade de entregar nenhum segredo. Não porque sou boazinha, mas por entender que se abriram comigo, e naquele momento eu fazia parte das suas vidas. O que me assusta são pessoas que nunca vi ou tenho relacionamento superficial, no máximo cordial, virem até mim com a certeza que vou ajudá-las. Fui com o meu marido comprar uma porção de camarão, numa festa, em Matinhos. Conversa boba com o cozinheiro, pedi que a porção fosse caprichada, coisas do tipo. Quando estávamos saindo ele me disse: – Preciso falar com você. Pensei que o troco estava errado e ele completou: – Não sou feliz no meu casamento. O meu marido foi embora rindo, claro que com o camarão na mão. E lá fiquei. Me contou da sogra, cunhadas, cunhados e filhos. Ao longe ouvia o croc-croc do camarão. Quanto mais ele falava, mais vermelho ficava. Parecia uma crise de hipertensão. Tentei maneirar, dizendo que uma boa conversa resolve tudo e que focasse na sua vida com a mulher e os filhos. Mas não conseguia parar de pensar no palito espetando o camarão. Quando acabou a conversa voltei para a mesa, tinha um marido sorridente e um prato vazio. Pobre de mim, não ganhei um bônus do cozinheiro e nem corri o risco de comprar outra porção e continuar ali. Vou para a praia totalmente vazia, lá pelas 07:30 da manhã. Abro o livro do Neruda, CONFESSO QUE VIVI. Senta ao meu lado uma moça e diz : – Se eu não falar com alguém, vou me matar. Pronto, fecho o livro. Começa o relato... Ela era de alguma secretaria de saúde do interior e havia comprado medicamentos errados. Estava separada, há poucos meses e tirou férias para esfriar a cabeça, se divertir. Na noite anterior foi avisada do erro e que sua demissão era inevitável. Nessas alturas, nem quis saber qual cidade ou estado. Como poderia aconselhar, consolar? Foi traída, humilhada, ficaria desempregada com dois filhos pequenos. Respirei fundo e não dei razão para ela. Disse para não interromper as férias e que na volta procurasse conversar com a chefia e explicar o momento em que se encontrava. E se mesmo assim, se nada desse certo, que se jogasse no chão, babando e tremendo. Ela riu, pagou um coco para mim e foi embora. Bem no fundo, fico faceira. Gostaria de ter essa facilidade de contar meus problemas para uma pessoa estranha. No momento, procuro alguém com umas 6 horas livres para ouvir meu desabafo. Podem continuar contando, daqui não sai nada. Sou um túmulo.

Não dá nada

Não sou implicante, mas a expressão “não dá nada”, me irrita profundamente. Escuto e penso: já deu tudo errado. Parece que vivem num mundo paralelo e pensam que com elas nada acontece.

Tainha, tradição de inverno em SC

Luiz Carlos Amorim O inverno chegou, mas antes mesmo que ele tivesse chegado, já tínhamos tainha, já tínhamos o prenúncio de uma das melhores safras do peixe tradicional do frio aqui em Santa Catarina. A tainha chegou ainda no outono, no começo de maio, quando já se pegava um lanço de mil peixes, em Gravatá. Quer dizer que a tainha chegou antes do frio, e continua chegando cada vez em maior quantidade. E o frio aumenta esta semana e a captura da tainha deve ser ainda mais feliz daqui pra frente. Comer tainha no final do outono e começo do inverno é tradição na grande Florianópolis, e em quase toda Santa Catarina. É até atração turística. Tem gente que vem de longe para ver as montanhas de tainha nas diversas praias da nossa região. E não é para menos, o espetáculo é uma coisa linda de se ver e comer a tainha, além de saboroso, é preservar um costume que remonta de há muito tempo. Não há inverno sem tainha em Santa Catarina. E sem pinhão, também. Eu, por exemplo, que nem sou ilhéu, sou lá do norte do estado, já comprei dezenas de tainhas e já fiz várias cambiras, já recheamos outro tanto delas, já comemos caldo e por aí afora. O que é cambira? Vou repetir: é a tainha escalada, salgada e secada ao sol. Depois de seca, a gente dessalga – aferventa, trocando a água umas duas vezes – e grelha ou frita para comer com pirão de água (farinha de mandioca com água fervente) – o que é uma delícia – ou com o que se preferir. É um regalo (acho que nunca tinha usado essa palavra, antes) que não se pode deixar de experimentar. É muito bom mesmo. Queira Deus que a poluição do mar e a pesca indiscriminada de tainhas ovadas não diminua a incidência delas no nosso litoral. Porque inverno – ou prenúncio do inverno – sem tainha, pode ter o frio que for, mas não será a mesma coisa. Luiz Carlos Amorim é escritor, editor e revisor – Cadeira 19 da Academia Sulbrasileira de Letras. Fundador e presidente do Grupo Literário A ILHA, que completou 41 anos em 2021. http://luizcarlosamorim.blogspot.com.br

O som do silêncio

Amanhã, 29 de junho, completam 30 dias da morte do jornalista Fábio Campana.