Transgênero defende mestrado sobre retificação do nome civil na UFPR Litoral
A terapeuta
ocupacional Dionne do Carmo Araújo Freitas é a primeira estudante
trans a defender sua dissertação de mestrado no PPGDTS (Programa de
Pós-graduação em Desenvolvimento Territorial Sustentável) da UFPR
Litoral.
O título do
trabalho, que foi orientado pelo professor doutor Marcos Claudio
Signorelli, é “Identidade de gênero e retificação do nome
civil: uma estratégia para o desenvolvimento”. Participaram da
banca os professores Dra. Nadia Covolan e Dr. Ivan Jairo Junckes.
O interesse em
ingressar no mestrado aumentou quando Dionne soube que no PPGDTS há
uma vaga prioritária para pessoas trans. “Ela veio prestar seleção
quando soube desse incentivo, mas entrou pela concorrência normal,
por ter tido uma avaliação boa no processo”, esclareceu
Signorelli.
Nos resultados da
sua dissertação, ela apresenta um mapeamento das políticas
públicas nacionais voltadas à população transgênero e uma
pesquisa de campo que envolveu entrevistas com pessoas trans ligadas
à organização não-governamental Marcela Prado, de Curitiba.
Segundo seu
orientador, o grande achado da pesquisa é que a política pública
que mais empodera as pessoas trans e mais promove o desenvolvimento
dessas pessoas é o direito ao nome social. Durante a pesquisa, a
mestranda identificou que essa política traz impactos positivos no
acesso (e permanência) à educação, ao trabalho e a outros
serviços públicos como da saúde.
“Ter direito legal
de usar o nome que considera adequado faz com que a pessoa trans
permaneça mais tempo na escola e diminua as chances de sofrer
violência institucional, seja no acesso a serviços de saúde,
segurança, ou mesmo no trabalho”, afirmou Dionne.
Na apresentação do
trabalho a pesquisadora ressaltou ainda que a população trans tem
uma expectativa de vida de 35 anos, metade da média nacional. E que
ela tem maior chance de sofrer violência, assédio, prisão
arbitrária e têm dificuldade de acessar serviços públicos básicos
como de saúde e educação.
Ao encerrar a sua
apresentação, Dionne salientou que as políticas que garantem o
direito à mudança de nome são bastante recentes, que foram
conquistadas devido à pressão da sociedade civil e que ainda há um
longo caminho para que haja mais respeito e igualdade de direito.
Sobre a obtenção do título de mestra, ela diz que é apenas um pequeno passo, uma porta aberta, para que outras pessoas que tenham uma condição trans ou uma variação de gênero, possam se sentir representados ou buscar seu espaço e ir atrás de seus direitos, de suas liberdades e sonhos, como qualquer outro ser humano. “O mestrado é uma oportunidade de formação acadêmica para as poucas e poucos, já que um número limitado de pessoas trans consegue terminar o ensino médio. O fato de eu ser graduada, ter uma especialização e agora concluir o mestrado é um motivo de orgulho e comemoração para a minha família e para toda uma população que está à margem”, concluiu Dionne.
Fonte: UFPR Litoral