Artigo: Porque não construir a Ponte de Guaratuba
Em longo artigo publicado, na sexta-feira (10), no jornal Impacto Paraná, o jornalista Marcus Aurélio de Castro expõe diversas razões contra a construção da ponte sobre a baía de Guaratuba. Na sua opinião, com argumentos sólidos, a melhor opção é a abertura da BR-101, nos fundos da baía, entre o trevo de Morretes na BR-277, até o final da BR-376, entre Guaratuba e Garuva. Mas acha que o Governo do Paraná errou ao incluir outros trechos ao projeto lançado no final de 2015, e que não saiu da gaveta da Casa Civil – leia aqui: Único interessado desiste do Complexo Viário do Litoral
Leia o artigo cuja reprodução foi autorizada ao Correio do Litoral pela Impacto Paraná, que enviou o arquivo do texto.
Ponte na Baía de Guaratuba, por Marcus Aurélio de Castro
Histórico
GUARATUBA é o principal balneário do litoral do Paraná.
Há muitos anos acolhe paranaenses de todas as regiões do estado, muitos dos quais constituem patrimônio auxiliando no processo desenvolvimentista do município.
O acesso sempre foi difícil. A atual BR-376 não era asfaltada e a rodovia Garuva-Guaratuba, estreita, perigosamente sinuosa, constantemente ficava encoberta pelas águas de rios e ribeirões.
A média de uma viagem de Curitiba a Guaratuba, pelo referido acesso, era de 10h00.
A alternativa era vir pela atual BR-277 até o balneário de Praia de Leste. Depois, conforme a maré, entrar com o veículo na praia rumando para Matinhos e de lá para Porto Passagem.
O automóvel ficava nesse local e os veranistas atravessavam em lanchas até Guaratuba.
Mais tarde vieram os “ferry-boats” e tempos depois as balsas.
A BR-376 foi asfaltada duplicada e, infelizmente, não houve a duplicação da Garuva-Guaratuba cujo asfalto permaneceu durante anos com uma incrível seqüência de buracos. O asfalto chegou, também, no lado de lá, com a duplicada BR-277, a Alexandra-Praias, além de outros acessos.
Ponte
Não é de hoje que se discute a necessidade ou não de implantar uma ponte sobre a baía.
As manifestações a favor são contraditórias, uma vez que as pessoas que clamam pela obra não apontam, como deveriam, o local exato da construção, nem a fonte de recursos necessários para a implantação do empreendimento.
Décadas atrás, um veranista, engenheiro curitibano, criou um projeto de uma ponte que poderia ser construída, segundo ele, nas proximidades do local por onde trafegam os “ferry-boats” e as balsas. Na sua justificativa, o engenheiro asseverava, entre outras coisas, que a ponte possibilitaria a passagem de cerca de 2000 caminhões/dia.
A localização e o volume previsto de veículos pesados, ao invés de ajudar, atrapalharam os planos do idealizador.
Grande parcela de guaratubanos e de veranistas se insurgiram com a idéia e passaram a divulgar críticas ao projeto. Principalmente relacionadas com a implantação de uma estrada urbana, no centro do nosso maior balneário.
Várias entidades, dentre as quais o Instituto de Engenharia do Paraná, o DNER (atual DNIT) e o DER do Paraná, reuniram-se com autoridades e populares nas dependências do Iate Clube.
Falaram técnicos e políticos e a ideia de implantar uma ponte, na entrada da baía, foi sepultada. O então Superintendente do DNER sugeriu a BR-101 paranaense, a partir de uma das colônias da Alexandra-Praias, até as BRs-101/376, passando pelos fundos da baía de Guaratuba.
Periodicamente, algumas pessoas realizam atos e manifestações ordeiras reivindicando a ponte. Não analisam friamente as consequências.
Isso aconteceu recentemente, na crista das manifestações que tomaram conta das ruas das cidades do país.
Em entrevistas a jornais e a blogs, as pessoas justificam de várias maneiras a sua posição perante o assunto:
1. ”Uma ponte traria o desenvolvimento para Guaratuba...”
Questão – Guaratuba já é o município praiano mais desenvolvido do pequeno litoral paranaense. Mesmo sem baías para transpor, Matinhos e Pontal do Paraná ficam atrás de Guaratuba em crescimento socioeconômico e em vários outros itens.
Que garantias teríamos que uma obra com esse custo, num momento de crise financeira, traria desenvolvimento para Guaratuba?
2.”As filas quilométricas NA TEMPORADA são um atraso de vida...”
Questão – Um argumento que não deve ser utilizado. Primeiro, porque as
filas diminuíram consideravelmente graças às providências técnicas e operacionais da concessionária dos “ferry boats” e das balsas.
Segundo, porque não se justificaria construir uma obra faraônica para utilizá-la plenamente em alguns fins de semana e em dois ou três meses/ano. Existem empreendimentos prioritários nas áreas de saúde, segurança e educação, bem como de duplicação de estradas estaduais.
3.”Com o nevoeiro, a balsa não trafega e eu perco a aula...”
Questão – O nevoeiro faz parte do complexo das condições do tempo, afetando, durante o inverno, todos os transportes. Nos primeiros dias de outono/inverno , o Aeroporto Afonso Pena chega a ficar fechado durante
horas causando o efeito cascata em todo o país. Centenas de vôos são ou cancelados ou atrasados. O mesmo ocorre até no Rio, com o Galeão e o Santos Dumont. Detalhe relevante para quem clama pela ponte: A Ponte Rio-Niterói é fechada ao trânsito, durante nevoeiro mais forte.
Engavetamentos ocorrem nessa ponte, na baía de Guanabara, por causa do nevoeiro, ocorrência comum em várias outras pontes em outros estados e em outros países.
4.”Se alguém tiver um problema grave de saúde, morre na fila...”
Questão – Se todos nós reconhecemos a perda de 15 a 20 minutos no acesso via “ferry-boat”, porque vamos arriscar levando um paciente em estado grave pela travessia da baía?
Joinville tem melhores hospitais e médicos do que Matinhos e Paranaguá. E o tempo de viagem para Curitiba pela BR-376 ou pela BR-277 é quase o mesmo. Aliás, esse argumento corrobora a necessidade de que Guaratuba lute por um Hospital digno de sua população fixa e da população flutuante.
Problemas graves...
De onde viriam!--more-->…