Poluição de plástico afeta animais marinhos e quem consome frutos do mar
Pesquisa aponta que,
além do problema da ingestão de plástico por animais marinhos, há
uma complicação que pode se tornar ainda mais preocupante: os
poluentes persistentes que estão aderidos a esse material e são
liberados para aqueles que os ingerem.
O trabalho de
pesquisa foi realizado pelo professor do Centro de Estudos do Mar
(CEM) da Universidade Federal do Paraná (UFPR), César de Castro
Martins, em conjunto com pesquisadores de Universidade de São Paulo
(USP) e da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e publicado na
revista científica Chemosphere em um artigo sobre poluentes
orgânicos persistentes (POPs), aderidos em pellets coletados no
litoral do Paraná.
Martins explica que
pellets são grânulos (pequenas bolinhas) de plástico utilizados
como matéria-prima das resinas plásticas comercializadas. Esse
material é considerado um vetor para o transporte e para o acúmulo
de poluentes orgânicos persistentes dispersos em ambientes costeiros
e marinhos.
Pellets coletados no litoral paranaense. Foto: Professor Alexander Turra -Laboratório de Manejo, Ecologia e Conservação Marinha – IOUSP
O estudo determinou
a concentração de hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (HPAs)
e bifenilos policlorados (PCBs) associados aos grânulos plásticos
coletados em um trecho de 39 quilômetros do litoral paranaense,
região que compreende principalmente praias oceânicas expostas,
para entender a dinâmica espacial e o risco potencial representado
por esses poluentes. A avaliação apontou que as concentrações
totais de HPA excederam o nível de efeito limiar estabelecido para
sedimentos e definido pela Agência de Proteção Ambiental dos
Estados Unidos. É uma análise que destaca o desafio de ligar
diretamente a poluição microplástica com os potenciais efeitos
toxicológicos de POPs em águas costeiras.
“A absorção de
compostos orgânicos por organismos aquáticos e marinhos que
consomem resíduos plásticos pode levar a uma série de efeitos
crônicos e letais, incluindo danos ao sistema nervoso central,
desregulação endócrina, câncer e comprometimento reprodutivo”,
relata o pesquisador. Há, ainda, evidências de que esses materiais
podem ter efeitos sobre a saúde humana por meio do consumo de frutos
do mar contaminados por estes poluentes.
Segundo o estudo, o
monitoramento da concentração e composição molecular de poluentes
associados a microplásticos pode fornecer informações sobre as
origens prováveis, a persistência e os efeitos toxicológicos
desses materiais no ambiente marinho, já que uma variedade de
fatores pode influenciar a capacidade dos microplásticos em absorver
contaminantes orgânicos do meio ambiente.
Foto: Professor Alexander Turra - Laboratório de Manejo, Ecologia e Conservação Marinha – IOUSP
A pesquisa indica
que os gradientes de contaminação podem não ser lineares, mas
governados por aportes específicos de pellets e fontes locais de
poluição, podendo haver disparidade marcada entre as entradas de
detritos plásticos e seu potencial de causar danos ambientais. Desta
forma, as partículas mais antigas transportadas de regiões
distantes, tendo sofrido maior desgaste e decomposição, podem ser
mais propensas a acumular contaminantes orgânicos, representando um
risco maior do que aquelas originadas localmente.
Por isso, os programas de monitoramento desempenham papel fundamental à medida que podem considerar tanto a fonte de pellets, como o seu tempo de exposição no ambiente e a concentração e composição molecular dos POPs associados. Para os autores, é essencial que mais pesquisas envolvendo modelagem hidrodinâmica sejam realizadas para estabelecer ligações mais conclusivas entre as fontes e prováveis efeitos toxicológicos de detritos plásticos no meio ambiente, principalmente em regiões de intensa atividade portuária, como o litoral paranaense.
Fonte: UFPR