Adeus ano velho
“Adeus Ano Velho, feliz Ano Novo”, assim começa a tradicional canção da virada de ano. Canção cantada e recantada sempre que o Ano Novo vira Ano Velho.
Queiramos ou não, envelhecer é inexorável.
Contraponto da
juventude, a velhice é pouco valorizada, pouco admirada, pouco
cultuada, pouco apreciada e até mesmo, pouco respeitada. A atenção
é para a juventude, da velhice e dos velhos, pouco, quase nada.
Como já dito,
velhice é fato. Com o tempo, o corpo vai se transformando, surgem
rugas na pele, o cabelo rareia, embranquece, a atividade física
diminui e a expressão “velho” aparece, às vezes, como sinônimo
de obsoleto, superado e desnecessário.
No entanto, se é
inevitável, o que fazer na passagem da alegre e vibrante juventude,
para o novo grupo não tão glamouroso?
Carl Jung¹,
comparou a vida humana com o caminho do Sol. No amanhecer surge e
segue adquirindo luz e calor; no meio do dia, diminui a intensidade e
prossegue, reduzindo o brilho, até sumir no poente. Difícil, dizia
ele, é perceber que reduzir brilho não significa apagar, mas sim,
trocar de sentido, pois o sol jamais se apaga.
Existem pessoas e
não são poucas, que perseguem o mito da eterna juventude, como se o
entardecer da vida não tivesse o mínimo valor. Outras se apegam as
realizações do passado e tornam-se contrárias a qualquer novidade.
Renitentes, ficam reduzidos as lembranças. Poucos percebem o
verdadeiro sentido da velhice.
Sugere Jung, que o
jovem deveria encontrar na relação com o mundo o que o homem na
velhice deveria encontrar dentro de si, ou seja, a necessidade de
reconhecer o engano de convicções até então defendidas e perceber
as inverdades das verdades.
Em muitas
sociedades, notadamente nas ocidentais, o idoso não encontra o
respeito que merece. Não é reconhecido como a pessoa experiente,
capaz de perceber os acontecimentos que fogem à pressa dos jovens.
Deveríamos, dizia
ele, apreender com a cultura oriental, que honra os velhos pela
capacidade de reflexão e que considera a velhice como a imagem da
imortalidade e da sabedoria.
Não é por nada que
nos antigos escritos, o sábio Lao-Tsé, no século VI a.C., cheio de
glória, nasceu com os cabelos brancos e o aspecto de ancião.
Dedico esta crônica
para Mônica, em tributo a lucidez, rebeldia, persistência e
otimismo com que viveu por quase um século.
Rei morto, rei
posto! Viva o Ano Novo!
¹Carl Gustav Jung,
psiquiatra e psicoterapeuta suíço que fundou a psicologia analítica
e desenvolveu os conceitos de personalidade extrovertida e
introvertida, arquétipo e inconsciente coletivo.