Projeto que valoriza o voto é selecionado para o Fórum Mundial da Democracia
O projeto Meu, Seu, Nosso Voto, idealizado pelo Instituto Aurora e que trabalha desde 2020 com o objetivo de promover diálogos sobre o voto responsável e fortalecer a democracia e uma cultura de direitos humanos, por meio da educação política, foi a única iniciativa brasileira selecionada para se apresentar no World Forum for Democracy.
O Fórum Mundial da Democracia 2024 ocorre em Estrasburgo, na França, entre os dias 6 e 8 de novembro. O evento é realizado desde 2012 e, nesta edição, tem como tema “Democracia e Diversidade – podemos transcender as divisões?”.
O Fórum Mundial da Democracia é organizado anualmente pelo Conselho da Europa, em parceria com o município de Estrasburgo e outras entidades francesas. Reúne especialistas, líderes políticos, acadêmicos e ativistas do mundo inteiro para debater e impulsionar inovações democráticas no globo. A missão da iniciativa é fomentar soluções para desafios democráticos contemporâneos, abordando desde temas de governança até questões emergentes, como a preservação ambiental e o impacto das novas tecnologias nas sociedades.
Neste ano, o Meu, Seu, Nosso Voto também concorre ao Prêmio de “Inovação para Democracia 2024”, que premiará a iniciativa apresentada durante o Fórum que mais tem contribuído no mundo para a construção da paz e dos valores democráticos.
Na ocasião, o projeto será representado pela diretora-executiva do Instituto Aurora, Michele Bravos. No laboratório 9, que vai debater o tema “Como podemos garantir diversidade e confiança nas eleições e no processo democrático?”, Michele falará sobre o projeto e o papel do diálogo na construção de um senso de responsabilidade com o coletivo em um contexto de polarização – em que a ideia que prevalece é a do “nós contra eles”.
“Será uma grande oportunidade de compartilhar as boas práticas do projeto e as experiências transformadoras que temos vivido com ele desde 2020”, prevê Michele.
Entre as iniciativas selecionadas pelo evento de 2024 para concorrer ao prêmio, estão trabalhos desenvolvidos em países como Albânia, Alemanha, Bangladesh, Bélgica, Canadá, Egito, Equador, Espanha, Estados Unidos, Etiópia, França, Grécia, Indonésia, Kenya, Nigeria, Paquistão, Portugal, Reino Unido, Sérvia, Sudão e Zimbabwe, por exemplo.
Educação em política, democracia e Direitos Humanos
O Meu, Seu, Nosso Voto é uma iniciativa suprapartidária e sem fins lucrativos lançada em 2020 e cocriada desde então, exclusivamente, por mulheres de diferentes organizações. “Entendemos que é em rede que chegamos mais longe com este diálogo”, explica Michele.
Os trabalhos contam com o apoio de uma rede de uma dezena de voluntários para facilitar as dinâmicas das conversas e criar espaços de escuta e trocas honestas no Brasil sobre temas relacionados a meio ambiente, justiça social, saúde, segurança alimentar e democracia, entre outros. De 2020 até agora, mais de 120 rodas de conversa já foram promovidas pelo projeto, envolvendo mais de 1.200 pessoas sensibilizadas pelos diálogos.
Nesse tempo, foram estabelecidas 21 parcerias institucionais para a realização do Meu, Seu, Nosso Voto; foram elaborados três e-books, um com conteúdo sobre voto responsável e dois guias de roteiros de rodas de conversa, com instruções detalhadas para que qualquer pessoa em qualquer lugar possa facilitar rodas de conversa tanto presenciais quanto virtuais; além uma série de podcasts chamada “Nosso Voto”, na qual são discutidos tópicos relevantes para o eleitorado jovem com a parceria de inúmeras organizações de diferentes lugares do Brasil, como TETO, Clima de Eleição, Global Shapers Manaus, Instituto Pensamentos e Ações para Defesa da Democracia (IPAD), Nossas, Joio e Trigo, Casa 1, Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), Eu Voto em Negra, Perifa Sustentável, entre outras. Os conteúdos abordam temas essenciais à cidadania e visam oferecer informação qualificada para que os ouvintes possam fazer escolhas conscientes nas eleições.
“O principal objetivo do projeto é engajar, especialmente, as juventudes, promovendo reflexões sobre a importância de um voto responsável, que considere o impacto social de cada escolha e valorize os princípios democráticos e dos direitos humanos. Essa abordagem pretende educar e envolver as juventudes para um exercício responsável do direito ao voto, essencial para a manutenção de uma sociedade justa e inclusiva”, pontua Michele.
Círculos de Construção de Paz
O Meu, Seu, Nosso Voto utiliza como metodologia de ensino da política os chamados “Círculos de Construção de Paz”, uma sistematização das práticas circulares comuns entre os povos indígenas, que, tradicionalmente, se sentavam em círculos para se conectar por meio de narrativas e resolver conflitos pessoais ou públicos.
Embora essa metodologia tenha se tornado amplamente utilizada no judiciário brasileiro para facilitar conversas sobre conflitos, o Instituto Aurora a adaptou como inovação social para educar os jovens sobre a democracia e a cultura dos Direitos Humanos.
“Diante da imensa polarização que estamos vivendo, caracterizada por disputas ideológicas e pelas fake news que, muitas vezes, impedem o diálogo, essa metodologia ajuda a reduzir barreiras e construir pontes. A natureza humana dos conflitos vai além dos institucionalizados pelo judiciário, provando-se eficaz em diversos contextos e remetendo às suas origens entre os povos indígenas. Antes da colonização na América Latina, não havia uma divisão clara entre a vida pública e privada, pois prevalecia a ideia de vida comunitária. Ao utilizar essa metodologia, reforçamos o conceito de que somos seres intrinsecamente políticos e que nossas vidas são políticas, desde nossas ações pessoais até nossos empreendimentos públicos’, explica a diretora do instituto Aurora.
“A cada roda de conversa essa metodologia se confirma para mim, como gestora do MSNV e como facilitadora. Uma abordagem simples, que pode ser muito desafiadora, sobretudo com a polarização ideológica, capaz de despertar uma transformação de pertencimento político nas jovens e nos jovens, promovendo uma cultura de cidadania ativa e empatia. Ao fomentar o entendimento e a inclusão, sobretudo a partir da perspectiva de representatividade política, nossa iniciativa não só auxilia no processo de educação política desses jovens, como estimula a manutenção da nossa democracia”, completa Karina Pizzini, jornalista e gestora do projeto. “É incrível ver a reação dos jovens quando são questionados, muitas vezes pela primeira vez, sobre o que pensam da política do dia a dia. Eles se sentem escutados e parte, tanto do problema, quanto da solução. Isso pode ser transformador”.
Somente em 2024, cerca de 450 jovens passaram pelas rodas de conversa do projeto e mais de 40 rodas foram realizadas.
A Voz das Minas e a Voz das Manas
Em 2024, o Meu, Seu, Nosso Voto decidiu focar os esforços em meninas e mulheres, principalmente, com a intenção de fortalecer a importância do voto feminino e indicar o quanto esses votos podem mudar e transformar realidades.
“Pensamos que seria uma boa ideia organizar formações para meninas e mulheres poderem ser facilitadoras de rodas de conversas sobre voto responsável e, com isso, multiplicar o entendimento das pessoas sobre voto, democracia e Direitos Humanos entre outras mulheres e meninas de suas comunidades. E foi assim que surgiu a formação ‘A Voz das Minas’, conta Michele.
A formação se desenhou em duas direções: a primeira delas, em parceria com professoras e professores universitários, pessoas que apoiaram o projeto na divulgação da formação, para chegar a universitárias que pudessem ter interesse de participar da oportunidade. A primeira aconteceu nos dias 14 e 21 de setembro, de modo online. As participantes somaram horas acadêmicas complementares em razão da participação no encontro.
O segundo modelo de formação foi realizado em parceria direta com organizações da sociedade civil. Uma das parcerias foi com o Coletivo Menina Cidadã, da organização Justiça e Paz se Abraçarão, que atua há 15 anos nas áreas de assistência, saúde, cultura e educação na Cidade Operária, em São Luís do Maranhão. Lá, a formação ocorreu de forma híbrida, contando com a presença da gestora do projeto, Karina Pizzini, em quatro encontros ao longo de dez dias, entre 9 e 21 de setembro. Outra parceria foi com o Chibé – Espaço Cultural e Biblioteca Comunitária, localizado em Icoaraci, distrito de Belém, no Pará, onde a gestora do projeto facilitou a conexão entre a comunidade local e as professoras-facilitadoras Michele Bravos e Mayumi Maciel. Foi nesse contexto que, nos dias 28 e 29 de setembro, o projeto A Voz das Manas tomou forma e reuniu os participantes para promover o diálogo e fortalecer a comunidade.
Cerca de 30 jovens, entre meninas e meninos de 16 a 25 anos, e membros da comunidade, passaram pela formação A Voz das Minas e A Voz das Manas. Ao longo das formações, esses jovens desenvolveram roteiros de rodas de conversa de acordo com a demanda local. Entre os temas escolhidos coletivamente nas formações do Maranhão e do Pará estão: a importância do voto consciente; como podemos auxiliar nossos familiares a buscar informações confiáveis sobre as eleições; a importância do protagonismo juvenil na escola; e a importância da cultura popular para o fortalecimento da democracia.
Note que houve uma mudança de nome de “A Voz das Minas” para “A Voz das Manas”. Isso se deu pela necessidade de regionalizar o nome da formação para torná-la mais acessível ao público-alvo. A expressão mais comum entre as mulheres de Icoaraci é “mana”, em vez de “mina”. “A escolha não se trata apenas de uma questão de eficácia na comunicação, mas também de reconhecer e respeitar a linguagem regional, a partir do apontamento de nossas parceiras locais”, explicou Mayumi Maciel, uma das facilitadoras das formações.
World Forum for Democracy
O World Forum for Democracy é uma oportunidade para decisores políticos e ativistas debaterem soluções para os principais desafios das democracias em todo o mundo. Ao identificar e analisar iniciativas e práticas experimentais, o Fórum destaca e incentiva as inovações democráticas, a fim de fortalecer os alicerces das sociedades democráticas. O Fórum contribui, assim, para a promoção, o fortalecimento e a evolução da democracia.
Na edição de 2024, ano em que metade da população mundial foi convocada às urnas, o Fórum Mundial para a Democracia abordará as ameaças críticas colocadas pela desinformação e pelas narrativas políticas em torno da diversidade, incluindo o contexto de campanhas eleitorais. Para tratar a abordagem, o evento contará com palestras inspiradoras de líderes inovadores. Os laboratórios analíticos desafiarão as novas soluções propostas e identificarão ideias que valem a pena divulgar. Além disso, o evento vai promover ativamente a criação de redes e comunidades de prática, servindo como incubadoras para transformar ideias em ações.
Os principais eixos da edição de 2024 serão, eleições e divisões de valores, rede de desinformação, envolvimento de cidadãos na renovação democrática e novas formas de envolvimento dos cidadãos e de tomada de decisões que possam ajudar a criar espaços para o diálogo construtivo, promover a compreensão e o envolvimento dos jovens e construir consenso sobre soluções políticas que transcendam interesses restritos e proporcionem o bem comum.
Sobre o Instituto Aurora
O Instituto Aurora nasce, oficialmente em 2018, com a missão de defender e promover a educação em direitos humanos no Brasil, contribuindo para a construção de uma sociedade com justiça social e livre de discriminação e preconceitos. Fazemos isso por meio de projetos que envolvem pesquisa e relacionamento com o setor público, assim como ações educativas (palestras, oficinas, rodas de conversa) – tendo como principais públicos-alvo: juventudes, meninas e mulheres, e servidores públicos –, pautadas no diálogo, na pluralidade e na democracia e alinhadas com a Agenda 2030 da ONU.
Entre 2018 e 2023, o Instituto Aurora impactou diretamente 10.857 pessoas. No entanto, se considerarmos a participação em formações online e as visualizações destes conteúdos, mais de 23 mil pessoas já foram alcançadas.
Links:
Chibé – Espaço Cultural e Biblioteca Comunitária
Texto: Claudia Guadagnin, da Assessoria de Imprensa do Instituto Aurora.