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Como Michel Temer ameaça empregos no Litoral do Paraná

Foto: Techint / Divulgação

Em julho, a multinacional Techint ofereceu 50 empregos para moradores de Guaratuba. São vagas de ajudante, que exigem apenas ensino fundamental e atraíram grande número de interessados. Além da oportunidade de trabalhar em uma grande empresa e em um setor de expansão – a indústria do petróleo –, os trabalhadores têm transporte até Pontal do Paraná, onde fica o estaleiro.

O transporte foi um dos termos acertados entre a empresa e os prefeitos do Litoral, além da prioridade na contratação de mão de obra da região. Para Paranaguá, por exemplo, a Prefeitura chegou a divulgar que seriam 250 vagas: 200 vagas de ajudante e 50 vagas de maçariqueiros.

Ao todo, a Techint informa que emprega 3,7 mil trabalhadores e prevê chegar a 4 mil no final do ano, na fase final da integração dos módulos da plataforma P-76, que vão durar pelo menos até março de 2018.

A eficiência do estaleiro no Litoral do Paraná é animadora, mas corre riscos. A empresa viabilizou os grandes investimentos graças à exigência de conteúdo local nos equipamentos da indústria de petróleo exigidos no primeiro governo Lula e mantidos até o final abrupto do segundo governo Dilma. A exigência era de 65% e até 75% de conteúdo fabricado no Brasil nas plataformas e diversas outras estruturas que servem à indústria petrolífera.

Além de abrir espaço na extração, o presidente Michel Temer e a Agência Nacional do Petróleo resolveram dar mais uma vantagem às gigantes multinacionais do petróleo: reduziu a exigência de conteúdo local e alguns equipamentos podem ter menos de 20% construído no Brasil.

Em entrevista ao jornalista Davi Souza publicada no site Petronotícias, o diretor comercial da Techint, Luiz Guilherme de Sá, comemora a eficiência da empresa, fala da preocupação que é de toda a indústria com a desnacionalização, mas se mostra otimista com a discussão que o setor vem fazendo com a ANP. Leia alguns trechos:

Nosso projeto é um caso de sucesso de execução de um empreendimento no Brasil com alto conteúdo local e eficiência. Dos 20 módulos que existem na Plataforma, 15 foram realizados aqui no Brasil – disse Luiz Guilherme de Sá.

– Quais são as perspectivas agora com os novos leilões. Como o senhor vê esta questão para o futuro?

A gente está muito otimista. Porque recentemente teve aí um posicionamento muito interessante da ANP em relação a essa questão do conteúdo local. Nós estávamos muito preocupados porque foi feito todo um investimento no Paraná, mais de R$ 300 milhões, além de um investimento grande para capacitação de mão de obra. Hoje, 90% da mão de obra que é utilizada na nossa unidade do Paraná, é mão de obra local. Nós treinamos, investimos, para chegar a ter o nível de produtividade que temos hoje. E nós estávamos muito preocupados com toda esta discussão em relação à flexibilização do conteúdo local. As concorrências de Libra e Sépia, sendo relicitadas com conteúdo local muito baixo.

– Como o senhor avaliou a posição da ANP em relação a essas duas plataformas?

Os parâmetros de conteúdo local estavam muito baixos. Libra em torno de 23%, Sépia com 18 %, mas o que está nos deixando muito animados são as perspectivas que está se chegando a um ponto de equilíbrio nessas discussões de conteúdo local. Acho que a decisão da ANP em relação ao Waiver de Libra foi uma decisão racional, está equilibrada, ela concedeu Waiver onde tinha que conceder, porque não faz sentido você realmente forçar a contratação de itens no país que você não tem condições de executar. Ela ajustou alguns percentuais em relação a alguns itens, de forma a balancear a competitividade com a valorização do conteúdo local e do que é feito aqui no Brasil. Foi uma sinalização muito positiva porque a expectativa nossa é de que isso seja um indicador de qual é caminho que vamos seguir daqui para frente, depois dessa análise que foi realizada para Libra pela ANP. Nós acreditamos que um posicionamento similar venha para outras unidades.

– E qual foi índice de conteúdo local nessa plataforma (P-76)?

O índice foi de 71%, em média. A engenharia foi mais de 90%, integração mais de 80%, módulos em torno de 70%. São índices de conteúdo muito altos, mas que estão sendo executados com competitividade. Foi isso que fomos mostrar para a ANP. Olha, é factível você executar conteúdo local no Brasil. Ele tem uma importância socioeconômica muito grande. Por exemplo, esta é uma região onde você tem nessa cidade de Pontal do Paraná, 20 mil habitantes. Uma cidade desse tamanho e você ter 3.700 pessoas trabalhando no empreendimento é de um impacto socioeconômico gigante. A cidade gira em torno do projeto. E se estende para outros municípios no entorno. Nós fazemos questão de promover esta capilaridade. É um compromisso social que temos com o Estado do Paraná, de promover esta capilaridade para Antonina, Paranaguá, Matinhos, Morretes… Inclusive, temos ônibus que levam os funcionários para cada uma dessas cidades, para aumentar a capilaridade na criação de empregos, porque cada emprego em nossa unidade offshore se reflete no emprego de varejo e comércio da região.

Foto: Techint / Divulgação
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