“Fósseis do Paraná” e “Conchas de moluscos marinhos do Paraná”
Micro-resenha
Há algumas semanas recebi duas publicações recentes, tratando-se de folhetos de 21 cm de altura e 10 cm de largura, ambos ricamente ilustrados. São:
Sedor, F.A. 2014. Fósseis do Paraná. Museu de Ciências Naturais, Universidade Federal do Paraná, Curitiba. 20 p.
Absher, T.M., A.L. Ferreira Jr. & S.W. Christo. 2015. Conchas de moluscos marinhos do Paraná. Museu de Ciências Naturais, Universidade Federal do Paraná, Curitiba. 20 p.
O Museu de Ciências Naturais (MCN), editor destes folhetos, é situado no subsolo do prédio do Setor de Ciências Biológicas (SCB), da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Campus do Centro Politécnico, bairro Jardim das Américas, Curitiba. Fernando Sedor, Coordenador Científico do MCN e autor da primeira publicação, contou-me que o público alvo dos folhetos são os professores do segundo grau que, com suas turmas de alunos, fazem visitas monitoradas ao MCN (e-mail: [email protected]).
Ambas as publicações são excelentes! Merecem um público muito maior do que aquele circunscrito acima. Deveriam estar à venda em livrarias e bancos de revistas e disponíveis em todas as bibliotecas públicas do Paraná.
Seguem alguns comentários a respeito do conteúdo de ambos os folhetos.
FÓSSEIS DO PARANÁ (Sedor, 2014)
O autor, Fernando, amigo meu de longa data, é biólogo, paleontólogo e um naturalista experiente. Além disso, é um talentoso educador: paciente, entusiasta e com uma vasta bagagem cultural. Desta forma, a excelente qualidade didática desta publicação não foi, para mim, surpresa alguma. O que fascina mesmo neste folheto é que todos os fósseis mencionados e ilustrados se tratam de espécies que viviam no atual território paranaense! A maioria das fotos de fósseis contidos no folheto foi feito pelo próprio autor em algum ponto particularmente precioso deste Estado.
Assim, qualquer cidadão paranaense interessado em ciências naturais vai querer um exemplar deste folheto. Devido ao interesse potencialmente grande, sugiro que seja produzida uma segunda edição sem demora, com uma tiragem muito maior. Para a segunda edição gostaria de fazer as seguintes sugestões:
- adicionar um “glossário”, listando os termos que não são de conhecimento geral. Exemplos: a palavra betuminosa (pág. 10); a abreviação Ma (= milhões de anos); os nomes taxonômicos portuguesados, acrescentando o nome original e a posição sistemática do grupo (exemplos: braquiópodes lingulídeos , esfenófitas , tubarão esfenacantídeo ; nenhum destes nomes é encontrado nos dicionários de Ferreira 1999 e Houaiss & Villar 2001.).
- como leitor naturalista gostaria de saber quais destes grupos contendo fosseis têm representantes atuais. Para alguns grupos a existência atual é mencionada, p. ex. para as cianobactérias produtoras de estromatólitos (pág. 6 fig. 5). Mas eu tive de consultar Storer et al. (1984) para saber que o grupo de braquiópodes sobrevive até hoje.
da mesma forma gostaria de saber, dos grupos extintos, a qual grupo atual eles são sistematicamente mais próximos. (Consultando Storer et al. 1984 descobri que, entre os animais atuais, os quelônios são os parentes mais próximos do extinto Mesosaurus.). Da mesma forma, gostaria de saber como atualmente está classificado o extinto anfíbio Australerpeton (p. 14 fig. 19 e fig. 20; aliás, na fig. 19 o seu crânio é difícil de enxergar), o extinto peixe Paranaichthys (p. 13 fig. 17) e a extinta planta Glossopteris (p. 13 fig. 16; seria bom acrescentar na legenda que se trata de uma samambaia). Todos esses organismos deixaram fósseis no território paranaense.
- na página 15 encontrei a palavra toxodonte pela primeira vez. Consultei Ferreira (1999), pois não conhecia este grupo de animais. Mas, o termo foi omitido deste dicionário. Felizmente, no dicionário de Houaiss & Villar (2001) encontrei uma boa descrição do grupo. Continuando a minha leitura do folheto, logo descobri que o meu esforço de busca tinha sido desnecessário: na pág. 17 do folheto é encontrado uma descrição dos toxodontes e há uma ilustração de dois exemplares na p. 20 (fig. 28). Assim, recomendo que logo no primeiro uso da palavra toxodonte se faça sua descrição e a referência à fig. 28.
- nas páginas 16 a 18, várias vezes uma informação no texto é repetida na legenda da figura ao lado. Recomendo manter a informação somente na legenda, eliminando a do texto.
- sugiro que o texto sobre o Museu de Ciências Naturais seja transferido do corpo do texto (p. 19) para o lado interna da capa. O espaço assim liberado pode ser usado para mencionar como um leigo pode proceder ao encontrar, em território paranaense, algum fóssil impressionante. Ali também podem ser acrescentados alguns itens de leitura recomendada.
O autor finaliza o folheto com uma frase intrigante (p. 19): “Esta megafauna foi contemporânea de outros animais da fauna sul-americana, no entanto, grande parte dela foi extinta no final do Pleistoceno e início do Holoceno.”. Como foi extinta? Para achar a resposta, reli o capítulo “Human history of the Amazon”, na grande obra de Van Roosmalen 2013 (veja a minha circular “Descalço – uma resenha”, de 30 de maio de 2014). Sabe-se que a espécie humana alcançou o continente americano, a partir do norte, há 15 mil anos, e provavelmente também a partir do sul, há 20 a 40 mil anos, no fim do Pleistoceno (o Holoceno começou há 11,7 mil anos). Van Roosmalen acha que foi pela caça humana que esses animais se extinguiram, possivelmente dentro de um período de apenas alguns séculos. Na contagem dele, naquela época despareceram nada menos que 135 espécies de mamíferos, incluindo dois terços das espécies grandes (mamutes, mastodontes, preguiças gigantes etc). São dados impressionantes!
CONCHAS DE MOLUSCOS MARINHOS DO PARANÁ (Absher et al., 2015)
Também esta publicação merece uma distribuição ampla, para que todos os veranistas e residentes do litoral possam adquirir o seu exemplar. Mostrei o livrinho a algumas pessoas da beira-mar e vi os seus olhos brilhar!
No folheto são mostradas 56!--more-->…