Ovos de tartaruga-de-couro em Pontal do Sul não continham embriões
A equipe do Programa de Monitoramento das Praias no Paraná fez hoje um resumo da desova de uma tartaruga-de-couro em Pontal do Sul, fato raro que repercutiu na imprensa e na comunidade científica.
O balneário é justamente onde fica o Centro de Estudo do Mar da Universidade Federal do Paraná, base do LEC (Laboratório de Ecologia e Conservação), responsável pelo monitoramento.
Depois de cinco meses de acompanhamento, verificou que os ovos não continham embriões, situação idêntica à que aconteceu neste mesmo verão no município de Balneário Gaivota, no litoral sul de Santa Catarina, também com uma tartaruga-de-couro. Confira o relato do LEC:
No início deste ano a praia de Pontal do Sul, em Pontal do Paraná, foi surpreendida com a ocorrência reprodutiva de uma tartaruga-de-couro (Dermochelys coriacea), espécie criticamente ameaçada de extinção e com poucos registros de desova no país.
A equipe da LEC registrou quatro ninhos entre os dias 31 de dezembro de 2020 e 15 de fevereiro de 2021.
Há pelo menos três meses os pesquisadores se voluntariaram madrugadas adentro para buscar rastros e acompanhar as desovas. Também coletaram amostras para identificar o animal e sua condição de saúde.
Outra medida adotada pela equipe foi translocar três ninhos a fim de garantir melhores condições para o desenvolvimento de possíveis filhotes. Entretanto, após meses de monitoramento dos ninhos e acompanhamento de temperatura e umidade da área, foi constatado que nos ovos não haviam embriões.
Segundo a bióloga e pesquisadora Liana Rosa, que acompanhou as conhecidas “tartarugadas” no período, alguns fatores podem ter afetado negativamente o sucesso da reprodução. Um deles é o possível fato de a fêmea não ter sido fecundada pelo macho, fato que pode ser consequência do uso desta área atípica para agregação de animais adultos e desova da espécie.
Os ovos também foram depositados em áreas vulneráveis, e embora tenham sido translocados (3 ninhos de 4 registrados), foram afetados pela pluviosidade excessiva ou inundações por marés atípicas, assim como pelo aparecimento de raízes de plantas da restinga.
A tartaruga-de-couro inicia seu ciclo reprodutivo entre 30 a 40 anos. Também conhecida como tartaruga-gigante, é a maior espécie de tartaruga marinha existente, podendo medir até dois metros e pesar 700 quilos. Vive na zona oceânica durante a maior parte da vida, aproximando da zona costeira apenas para desovar ou buscar alimentos, tais como águas-vivas.
“Durante toda vida a espécie enfrenta uma série de impactos, desde a contaminação das águas até a perda de habitats. A reprodução tardia e os múltiplos impactos são um desafio para conservação da espécie”, complementa Liana Rosa.
Apoio da população
A equipe do LEC agradece a todas as pessoas que fizeram contato e colaboraram com nosso laboratório, assim como aos que torceram pelo nascimento de novos filhotes. O esforço coletivo é, sem dúvida, um sinal de que é possível conservar a biodiversidade e os ecossistemas oceânicos.