Dos quantos e comos e ondes…
Realmente fui a única “cidadã” presente à Audiência Pública de Prestação de Contas da Prefeitura e da Câmara, realizada ontem, dia 28 de maio de 2014. Mas a impressão é que isso já era esperado, até porque a reunião foi feita numa sala com apenas 14 cadeiras em volta de uma mesa, apesar de convocada para o Plenário, que por coincidência estava ocupado no mesmo horário por outra reunião promovida pelo programa de casas populares – que eu singelamente denomino “minha casa, minha dívida”, como meio de esclarecer que ali nada é “dado”, as pessoas vão pagar pela moradia, algumas além da vida.... e como lá tinha cafezinho, bolachinhas e autoridades, tinha muito mais gente, claro.
Havia outros cidadãos presentes nessa Audiência, mas todos tinham cargos e funções, o que em nossa cidade parece tirar deles essa condição inerente....
Mas voltemos ao tema principal: as contas, os quantos, os comos e os ondes foram gastos os valores do erário, no executivo e no legislativo.
Não tive meios de estudar antecipadamente a prestação de contas da Prefeitura, mas a sempre gentil postura do Secretário Antenor permitiu alguns questionamentos conforme as informações eram lidas; não custa mencionar, então, que a prestação de contas foi, como sempre, MUITO GENÉRICA, MUITO “TÉCNICA” E RESUMIDA, em linguagem que um simples mortal não compreende, e, como ficou patente, nem mesmo os mais capacitados a lidar com dados contábeis e a legislação de responsabilidade fiscal.
Algumas coisas interessantes: mesmo com a rescisão dos contratos com as OSCIP’s que faturavam uma grana preta gerenciando a saúde e a educação, as despesas mantiveram-se no mesmo patamar, o que prova que aquela estrutura terceirizada nunca foi mais econômica ou mais vantajosa para a administração, só beneficiou aquelas empresas.
Alguns vereadores mencionaram que o atendimento de serviços públicos, especialmente de infraestrutura – ou seja, a redução do pessoal da garagem – estaria comprometido. Mas vamos combinar, faz tempo que isso é um grande problema da cidade, e não é uma questão orçamentária, e sim de postura político-administrativa: priorizando as “obras viárias” (leia-se asfalto, orla e etc.), com recursos estaduais (leia-se endividamento do município), para atendimento da manjada vocação turística, e obras exclusivamente vinculadas à liberação de recursos federais (super-creche e posto de saúde) já há mais de 5 anos, a atual administração tem deixado a desejar no atendimento dos bairros não é de hoje. Como exemplo, apenas, destaco que não conseguiram nem mesmo resolver a questão dos pontos de ônibus, coisa simples, que dirá manilhas rompidas, ruas lamacentas e esburacadas (até as que têm pavimentação de blocos), lâmpadas queimadas, sinalização, ou o incremento das estruturas coletivas – espaços sociais, segurança pública, qualidade em saúde, educação integral, etc. Mas isso não é o assunto principal dessa prestação de contas.
O que fica claro é que Guaratuba tem um orçamento significativo: R$ 28 milhões em 4 meses, R$ 85 milhões em 2014, gasta bastante, e a população local, em sua grande maioria, não é beneficiada com melhoria efetiva de sua qualidade de vida. Maquiagem não é progresso!
Algo precisa ser feito, pensar a cidade para seus habitantes, estabelecer instrumentos mais eficazes de discussão, elaboração e implantação de políticas públicas que realmente atendam ao anseio e perspectivas da população, promover o crescimento ordenado da cidade como um todo, e o desenvolvimento regular das atividades econômicas e das relações sociais.
Agora, com relação às contas da Câmara Municipal, que tive oportunidade de analisar com alguma antecedência – uma hora antes da Audiência, parte dos relatórios estava no site, porém, me vi tentando identificar o que li com o que fui ouvindo na audiência, e para minha surpresa, descobri que foram “atualizados” depois que a reunião se iniciou. Mas mesmo assim, vamos aos dados:
ORÇAMENTO DE JANEIRO A ABRIL: R$ 1.207.321,66 – dinheiro grosso, como se vê. O relatório lido na audiência não informava nada a respeito da origem e do destino dessa verba, a não ser a DESPESA COM PESSOAL – R$ 673.563,41. E o atendimento aos “índices” de limites legais. Ou seja, o óbvio, que ninguém aqui se ilude de ir a uma reunião dessas para ouvir que esses limites foram superados ou desatendidos. Mas....
RELATÓRIOS DE RECEITAS não foram disponibilizados no site – sabemos que todo o dinheiro vem do Executivo, mas a Câmara se obriga a discriminar e categorizar essas receitas. Não fez isso, e foi cobrado que seja rapidamente solucionada essa situação, não é aceitável a desculpa de “problemas no site”, que se ouve quase todas as vezes.
RELATÓRIO DE DESPESAS – os “quantos” estão lá, e são muitos! Falta indicar os “comos” – contratos, empenhos, pagamentos efetivos a fornecedores perfeitamente identificados, recibos a autônomos, etc, esses pequenos detalhes que são obrigatórios e não estão sendo cumpridos pelo legislativo, nem no site, nem na própria audiência.
E os “porquês” – ou seja, qual a demanda que efetivamente foi atendida, o serviço prestado, a natureza da despesa e sua justificativa. Vou exemplificar:
O relatório é feito em linguagem contábil – como já disse antes, incompreensível para a maioria dos mortais. Mas o detalhe é que alguns itens não se clarificam nem mesmo para a Comissão de Finanças que estava ali prestando contas; os funcionários administrativos tiveram dificuldades em se acertar para esclarecer algumas perguntas.
– SUBSÍDIOS DOS VEREADORES – Nos primeiros 4 meses deste ano, pagamos R$ R$ 301.600,00 aos 13 vereadores, o que dá R$ 5.800,00 por edil/mês. Considerando que o presidente e os demais membros da mesa tem subsídios superiores aos demais, aparentemente alguém recebeu menos.... Por falar nisso, a Resolução que define esses valores também não está no site da Câmara. Providenciar, urgente!
– DIÁRIAS – Ah, as diárias, esse elemento crucial da receita pessoal, fonte de inesgotáveis questionamentos e!--more-->…