Projeto de engorda das praias de Guaratuba recebe críticas em audiência pública

O Projeto de Recuperação da Orla de Guaratuba, que prevê a engorda da praia e obras urbanísticas, recebeu duras críticas da população que compareceu à audiência pública realizada na noite desta terça-feira (13).
O evento foi organizado pelo IAT (Instituto Água e Terra), subordinado à Secretaria de Estado do Desenvolvimento Sustentável (Sedest), para apresentar o Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e do Relatório de Impacto Ambiental (Rima). O projeto abrange a Praia Central, Caieiras e Prainha.
O projeto urbanístico e a engorda de até 100 metros na faixa de areia recebeu apoio quase unânime dos presentes. As reclamações foram sobre algumas das estruturas marítimas.
A maior reclamação foi sobre a intenção de construir um guia corrente ao lado do Morro do Cristo para receber as águas da chuva e de um rio que desemboca na praia. A estrutura, montada para evitar a perda da areia que será colocada na praia, também serviria para acesso dos barcos dos pescadores locais e até para outras embarcações, conforme as imagens divulgadas pelo governo estadual.
Pescadores, surfistas, uma “guarda-vidas veterana” do Corpo de Bombeiros e diversos moradores denunciam que o guia de pedra pode descaracterizar a principal imagem turística da cidade, acabar com uma praia segura contra a afogamentos que é a preferida pelas famílias, prejudicar a pesca e o surf e ainda afetar o meio ambiente em uma área onde existem tartarugas.
A instalação de um guia-corrente no Morro do Cristo é a alternativa A dos estudos realizados. Uma opção B prevê dois guias correntes mais ao norte, um na altura da desembocadura do rio Brejatuba e outro na Praia Central. A alternativa C prevê apenas dois espigões.

A segunda crítica apresentada na audiência pública é em relação ao espigão que se pretende instalar em Caieiras onde há décadas funciona um porto para os pescadores artesanais da comunidade.
A terceira reclamação diz respeito à grande intervenção prevista para a Prainha. Moradores encaminharam um documento questionando aspectos técnicos do projeto, inclusive com dados de especialistas da Universidade Federal do Paraná, apontando risco de “danos irreversíveis”.
População quer ser ouvida
Resumindo um sentimento de muitos dos presente, o comunicador Emerson Miranda, da TV Guaratuba, em relação a todo o projeto e questionamentos da comunidade – principalmente com o impacto da alternativa A na praia do Morro do Cristo – fez duas perguntas: “Qual dessas opções que vocês apresentaram vai ser escolhida e se o povo de Guaratuba vai poder fazer isso também (escolher)”.
Além do projeto da orla, ao vivo e pela Internet, moradores questionaram a prioridade na obra. A professora Ligia Klein, que participa do movimento Escola de Rua, reclamou que a Guaratuba da periferia não foi ouvida ou lembrada: “Quem definiu a prioridade desse empreendimento, a quem ele interessa? Não é ao meu povo, lá da Cohapar, lá do Mirim, do Carvoeiro. A essa gente não interessa”, disse.
Pelo chat do Youtube que apresentou audiência, diversas pessoas também questionaram a prioridade dos investimentos na orla.
No prazo estipulado pelos organizadores para manifestação do público, 20 pessoas puderam fazer perguntas e questionamentos oralmente. Também foram lidas algumas perguntas feitas pela internet e por escrito durante o evento.

Projeto tem custo de R$ 247 milhões
O projeto apresentado foi contratado pela Prefeitura de Guaratuba e desenvolvido pela Unilivre e pelo Instituto Tecnológico de Transportes e Infraestrutura, ligado à UFPR. As equipes estão há 15 meses elaborando os estudos, que incluiu conversas com comunidades afetadas. O custo estimado é de aproximadamente R$ 247 milhões.
Após as queixas na audiência pública, firmou-se o compromisso de realizar novas reuniões, além de estudar as propostas apresentadas ao vivo, pelo chat e as que forem protocoladas no IAT.
Acompanharam a audiência publica o prefeito Maurício Lense, secretários municipais, vereadores e o presidente do IAT, Everton Luiz de Souza.