Correio do Litoral
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Você não vê, mas um desfile acontece no fundo do mar

Blocos dos recifes artificiais prometem bombar neste Carnaval

Já é uma tradição! Desde 2010 os blocos de recifes artificiais do Programa Rebimar, patrocinado pela Petrobras, são um dos grandes atrativos de diversas espécies no litoral do Paraná. No carnaval de 2018 não será diferente: vários blocos recheados de bentos e plânctons receberão uma diversidade impressionante de peixes e outras espécies marinhas que estarão de passagem na “avenida” formada por 10 pontos na costa de Pontal do Paraná, desde Praia de Leste até o Atami.

Texto de Vinicius Araujo / Rebimar / MarBrasil

Peixe-porco ((Balistes Capriscus)

 

Um dos grandes destaques deste Carnaval é o Balistes capriscus, que todos os anos são protagonistas nos blocos recifes artificiais paranaenses, fazendo presença constante em cada um dos 10 pontos de concentração na costa pontalense. O “peixe-porco”, como a espécie é popularmente conhecida, faz a festa dos pescadores após sair da área dos recifes, afinal sua carne saborosa o transforma em uma das principais fonte de renda da comunidade pesqueira.

Outras espécies que fazem muito sucesso na “avenida” dos recifes do Rebimar são o Centropomus parallelus, ninguém menos que o Robalo-peva, e o Mycteroperca acutirostris, o Badejo-mira. As duas espécies contagiam não apenas os pescadores artesanais do estado, mas também os pesquisadores e especialistas em ictiofauna (conjunto de peixes), que observam atentamente o desfile das espécies.

Mero (Epinephelus itajara)

 

Na onda do “Não é Não”, que pegou para valer durante o Carnaval em todo o Brasil, algumas espécies que não podem ser pescadas também dão sua cara nos recifes artificiais, como o Hyporthodus nigritus, o popular Cherne-Negro, e também aquele que é considerado o “Senhor das Pedras”, o Mero. Ambas ameaçadas de extinção, conforme a Portaria 445 do Ibama, publicada em 2014.

O Mero, ou Epinephelus itajara, geralmente procura lugares mais tranquilos para passar o Carnaval, como o próprio “Parque dos Meros”, que é quase um “resort” para a espécies, localizado entre os Arquipélagos de Currais e Itacolomis. Ainda assim já deu a cara nos blocos dos recifes artificiais do Rebimar, comprovando a segurança da região para poder desfilar tranquilo neste Carnaval, e também no resto do ano.

Alegorias

Mas o que faz os recifes artificiais terem tanto sucesso entre as espécies marinhas que moram, ou que transitam, no litoral do Paraná? A Biodiversidade encontrada nos recifes é similar à de um costão rochoso, como o encontrado em ilhas oceânicas como Currais e Itacolomis. Só que muito mais perto da praia. E a beleza natural, que se junta aos recifes artificiais, não fica só por conta dos peixes, mas também por outras espécies que embelezam o cenário recifal, os Bentos.

Gorgônia (Leptogorgia punicea)

 

Em um primeiro momento, estas espécies bentônicas poderiam confundir um observador, pois diversas delas parecem com plantas marinhas. Na verdade também são animais, mas invertebrados e com aparência bem diferente, os quais vivem inscrustrados aos recifes, dando cores e vida à “avenida”. Corais, Anêmonas, Ouriços, entre outras de nome mais complicado, como Gorgônias e Ascídias, são as primeiras espécies que “tomaram conta” dos recifes artificiais, e completam a festa marinha com alegorias lindíssimas que enfeitam os blocos de recifes e se tornam parte da rica biodiversidade marinha paranaense que já passou por muitos apuros, mas aos poucos vem sendo recuperada por iniciativas como o Rebimar, o Programa de REcuperação da BIodiversidade MARinha.

Números dos recifes artificiais:

– Desde 2010, ano das primeiras instalações de blocos de recifes artificiais, a equipe do Programa Rebimar já observou diversos indivíduos da fauna bêntica pertencentes a 8 grupos taxonômicos incrustrados aos recifes artificiais: briozoários, cnidários, cirripédios, moluscos bivalves, moluscos, gastrópodes, poliquetas, poríferos e tunicatos.

– Nas amostras do substrato inconsolidado (fundo arenoso) do entorno dos recifes artificiais, coletadas pela equipe do Rebimar, foram registrados 387 indivíduos, pertencentes a 20 espécies. Os filos mais representativos foram Mollusca (66%), Crustacea (19%) e Anellida (7%).

– Entre os peixes, a equipe do Rebimar fez registro de diversos indivíduos de 28 diferentes espécies, pertencentes a 16 famílias. Entre elas, foram registradas espécies com ou sem valor comercial, incluindo algumas ameaçadas de extinção.

Programa Rebimar:

O Programa de Recuperação da Biodiversidade Marinha (Rebimar), é realizado pela Associação MarBrasil, ONG situada no litoral paranaense com o patrocínio da Petrobras, por meio do Programa Petrobras Socioambiental. O Programa é um conjunto de ações socioambientais que têm como base a utilização de Recifes Artificiais para auxiliar a recuperação da biodiversidade marinha e dos estoques pesqueiros. Essa iniciativa é benéfica tanto para os pescadores artesanais, que terão um incremento e diversificação de pescados, quanto para os ecossistemas marinhos, devido ao aumento da biodiversidade nos locais onde os recifes são instalados.

O Rebimar foi iniciado em 2008, a partir da emissão da primeira licença emitida pelo Ibama para a instalação de Recifes Artificiais no litoral paranaense. Hoje, 10 anos depois de seu início, o Rebimar ainda é o único a obter esta licença, que é obrigatória para projetos de instalação de recifes artificiais em todo o Brasil. No final de 2017, o Rebimar iniciou uma nova fase, que propõe potencializar resultados para a conservação gerados desde 2010, dando continuidade às ações de conservação e recuperação de espécies ameaçadas da biodiversidade marinha e seus habitats, além de monitorar os ganhos ambientais dos recifes artificiais instalados em Pontal do Paraná. Para isso irá expandir sua área de atuação, abrangendo agora, a plataforma rasa do estado de São Paulo, além de manter sua base de trabalhos no litoral do Paraná.

Nota da Redação: Antes do Rebimar, o Litoral do Paraná teve cerca de 2.000 blocos de concreto e duas carcaças de balsas do ferryboat lançados ao mar no projeto de Recifes Artificiais Marinhos (RAM), iniciado em 1997 pelo Instituto Ecoplan do Paraná com apoio do Centro de Estudos do Mar da UFPR.

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