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Ninguém me engana, é no inverno que Guaratuba fica bacana

Edilson Pereira – Muitas pessoas são injustas com Guaratuba quando dizem que o lugar não é bacana. Já ouvi muito, de gente que prefere Santa Catarina. Claro que quem fala assim conhece a cidade na temporada. E, neste caso, não deixa de ter razão porque aquilo fica um formigueiro. Aliás, o litoral catarinense também fica.
No entanto, como gosto de Guaratuba no inverno, acho a cidade agradável. Mais: acho-a uma das cidades litorâneas mais bonitas do sul do Brasil entre os meses de abril e outubro, quando a maioria de suas casas fica fechada e as pessoas que transitam por suas ruas são em grande parte moradores do lugar com poucos curitibanos ou de cidades próximas que preferem a tranquilidade no inverno ao burburinho infernal dos meses de verão, os meses que coincidem com as férias escolares.

É nesta época do ano, no outono e inverno, que se pode andar pela cidade agradavelmente. Não há futricas de janotas e pandilhas de pândegos. Andar de manhã na praia deserta sob a merujinha inofensiva é tão revigorante que fica impossível resistir ao pensamento de passar o resto dos dias nesta plaga, usufruindo desta placidez. Ou no fim do dia, quando o sol se põe e dá uma cor de ouro para o lugar. Passear pela calçada à beira-mar com cão, encontrar estranhos simpáticos que à passagem nos cumprimentam como velhos camaradas, o dono da mercearia nos recebe com atenção e sem temer arruaça ou trapaça e a moça do restaurante pergunta o nosso nome para tratar-nos como os amigos nos tratam. É bacana. Há, no entanto, o verão e todos que o viram em Guaratuba, sabem o turbilhão em que a cidade se transforma.

Por isso eu acredito que existem duas cidades em uma, a da temporada e a outra, calma e serena, dos meses de outono e de inverno. A primeira não pertence a ninguém porque pertence a todo mundo que se aboleta em suas praias, se amontoam em suas casas e se emborracham em suas ruas, como fossem suas chácaras de fim de semana, com direito a frevo e balbúrdia. A segunda pertence aos moradores e aos velhos e aposentados da grande cidade próxima que para lá acorrem em busca da brisa gelada e de tranquilidade. No entanto, sem a temporada e a turba de veranistas, os moradores não arrebanham o sustento para sobreviver grande parte do resto dos meses do ano. Esta a sina de Guaratuba, a cidade que vive entre o frio e a fuzarca, entre o mar e as montanhas, entre a paz e o pandemônio.

Edilson Pereira é jornalista desde 1975, trabalhou no Diário do Norte do Paraná, Agência Folhas, Folha de Londrina e O Estado do Paraná.
Atualmente é colunista e repórter especial na Tribuna do Paraná, onde publicou os folhetins A Dama do Largo da Ordem, O Pavão Tatuado e Um estranho chamado Anjo, além de 18 episódios da série Crimes de Paixão.
Ele publicou os livros Uma profissão tão antiga quanto a tua, A loira do táxi noturno, O homem do Hotel Cervantes, A garota da cidade, Ninguém mata por amor, A Dama do Largo da Ordem e Mate meu marido por favor.

Crônica publicada na Tribuna do Paraná e no ParanaOnline nesta sexta-feira (2), com reprodução autorizada pelo autor no CorreiodoLitoral.com.

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