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Ecoturismo desejável e indesejável na APA de Guaraqueçaba

andre-de-meijer-colunaA APA Federal de Guaraqueçaba engloba uma das maiores porções contínuas de Mata Atlântica preservadas até hoje.

Poder residir dentro desta área magnífica é considerado um privilégio por todos os moradores que conheço: tanto aqueles que vieram morar ali (por opção ou acaso) quanto os residentes nativos.

No entanto, quase todos os trabalhadores autônomos encontram sérias dificuldades para se sustentar nesta APA. Nas pequenas propriedades, onde tentam sobreviver de plantações de mandioca (muitas vezes transformado pelo próprio produtor em farinha e assim vendida), banana e, mais recentemente, também palmeira-real-da-austrália e pupunha, obtém lucros muito pequenos.

Aqueles que moram na margem da baía e tiram parte da sua renda da pesca, também vivem em condições precárias. A consequência da dificuldade de se sustentar é que os filhos nascidos ali, na adolescência se veem obrigados a partir do paraíso e procurar trabalho nos grandes centros urbanos. Obviamente, todos sonham em voltar, assim que podem, à terra natal. Para a maioria isto se torna possível somente na fase final da vida, quando recebem aposentadoria.

Das pessoas que nasceram e cresceram no território atualmente compreendida pela APA de Guaraqueçaba, muitas acumularam um conhecimento muito amplo da história natural e humana regional. Eles teriam muito a ensinar, mostrar e contar a eventuais visitantes da região.

Com a agricultura e pesca sendo tão pouco lucrativa, para estes moradores a possibilidade de receber e guiar ecoturistas poderia significar uma contribuição importante na renda familiar. Com o mercado de trabalho local se tornando sempre mais competitivo, vender o seu conhecimento a visitantes poderia, a médio prazo, tornar-se a única saída para estes moradores continuarem residindo na APA.

Já que boa parte destas pessoas mora em locais afastados, intermediários nos centros urbanos poderiam fazer a ponte entre os ecoturistas interessados e os moradores locais dispostos a servi e guiá-los. Seria importante, no entanto, tentar evitar que apenas uns poucos residentes se beneficiassem neste processo: teria de ser feita uma escala para que todos os moradores com disposição de receber turistas e conhecimento confirmado tenham a sua vez.

Atualmente, são pouquíssimas as pessoas no território da APA que se beneficiam, parcialmente, do ecoturismo. São os proprietários e funcionários das poucas pousadas, hotéis e restaurantes na região e as pessoas que tem um barco com capacidade de transportar turistas. O cidadão comum, sem capital para investir e morando num local afastado, encontra-se totalmente excluído do setor turístico.

Sendo trabalhador autônomo e morador da APA desde 2003, eu tenho sentido na própria pele a dificuldade de sobrevivência nesta região. Nos últimos anos tenho me oferecido como guia para caminhadas na natureza local, mas até agora tive pouquíssimo êxito nesta iniciativa, sofrendo do mesmo problema dos outros moradores da região: a dificuldade de me comunicar com clientes em potencial que vivem nos centros urbanos.

Moro afastado, a conexão telefônica local é precária e para ter acesso a minha caixa postal eletrônica tenho de me deslocar para uma das cidades mais próximas (Guaraqueçaba e Antonina), o que faço apenas uma ou duas vezes por semana, já que ambas as cidades são muito distantes do povoado onde resido: Tagaçaba Porto da Linha.

‘Ecoturismo’ nada desejável

Como morador da APA tive de testemunhar, com certa regularidade, à invasão da região por caravanas motorizadas, velozes e muito barulhentas. Trata-se, alternativamente / com alternação, de motos-de-corrida ou de jipes, que, em alguns fins de semana ou feriados, percorrem a região em fila indiana (…)

Leia esta Carta da Mata nº 171 na íntegra no site do autor:
http://www.andredemeijer.net/2016/09/24/carta-171-descendo-o-rio-tagacaba-de-tagacaba-rivier-afzakkend/

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