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Mulher, negra e enfermeira, parnanguara recebe primeira vacina contra covid no Paraná

Fotos: Eduardo Matysiak

“Estou lisonjeada por ser a primeira a tomar a vacina no Paraná, uma mulher negra e mãe de dois filhos”, afirmou a enfermeira Lucimar Josiane de Oliveira, de 44 anos, natural de Paranaguá.

Junto com outros sete colegas que desde o início da pandemia atuam na linha de frente do Complexo Hospitalar do Trabalhador, às 21h48 desta segunda-feira (18), a parnanguara recebeu a primeira dose da vacina Coronav, em evento na capela do Hospital do Trabalhador, em Curitiba.

“Foram tempos difíceis, com um pouco de medo e ansiedade do que viria no futuro. Mas hoje me sinto bem, feliz, esperançosa com a vacina e muito orgulhosa com o trabalho que o HT vem fazendo junto aos pacientes e o apoio aos funcionários”, completou.

Assim como em São Paulo, no domingo, no Paraná, a resposta da ciência contra o atraso e o negacionismo que critica até mesmo a vacinação, veio junto com um recado contra o racismo e o preconceito, homenageando os profissionais de saúde, as mulheres e os negros.

A etapa inicial da campanha de imunização foi acompanhada pelo governador Carlos Massa Ratinho Junior, que pela manhã foi a São Paulo para receber as primeiras doses disponibilizadas pelo Ministério da Saúde. O Paraná recebeu, para a primeira etapa da vacinação, 265.600 doses do imunizante CoronaVac.

Em São Paulo, a vacinação simbólica aconteceu no domingo, minutos depois do aval da Agência Nacional de Vigilância Sanitária Anvisa) às vacinas importadas da China pelos governo paulista e que estão sendo produzidas pelo laboratório chinês Sinovac em parceria com o Instituto Butantan.

Também como simbologia, o governador João Doria ajudou a definir que seria a primeira pessoa a receber a vacina e a escolha recaiu também sobre uma mulher, negra e enfermeira: Mônica Calazans, de 54 anos, que há oito meses trabalha na linha de frente do combate ao coronavírus no hospital Emílio Ribas, em São Paulo.

A data do início simbólico da vacinação contra a covid no Paraná não poderia ser mais emblemática. Nesta segunda-feira, o Complexo Hospitalar do Trabalhador completa 74 anos. Em março, as seis unidades que formam o complexo se tornaram referência em Curitiba para o atendimento dos pacientes contaminados com o novo coronavírus, com quase 150 leitos destinados exclusivamente para a doença.

Emblemática também é a história de Lucimar, que atua há 22 anos na área da saúde, mas se tornou oficialmente enfermeira em 2020. O ano que foi desafiante para todos, especialmente para quem esteve na linha de frente no combate à pandemia, privou Lucimar de comemorar seu recém-conquistado diploma.

Antes disso, porém, ela trilhou um longo caminho dentro de hospitais e serviços de saúde. Começou como auxiliar de serviços gerais e passou a se especializar: fez curso de auxiliar de enfermagem, técnico de enfermagem, socorrista e, por fim, o curso de Enfermagem da Universidade de Marília, em São Paulo.

No Hospital do Trabalhador, foi contratada inicialmente como bolsista, em um dos primeiros reforços preparados pelo Governo do Estado para fazer frente à pandemia, ainda em março. Em novembro, foi contratada em definitivo como enfermeira.

Desde que iniciou a pandemia está trabalhando só em pronto-socorro de Covid. Trabalha no HT e na UTI Geral do Hospital Municipal de Araucária.

“A gente começa a ver a vida com outros olhos. Está sendo uma experiência de aprendizado. Não é fácil ter que dar notícia para um familiar, estamos aprendendo a ser mais empático com o próximo. Mas me considero feliz e grata”, conta.

Profissionais — Além de Lucimar, também foram vacinados o médico Diego Schuster Paes, 30; as técnicas de enfermagem Patrícia Moreira, 33, e Denise Dias Brito, 38; a nutricionista Caroline Benvenutti, 33; a fonoaudióloga Suellen Meduna, 38; a encarregada de higienização Neura Cordeiro Barbosa, 46; e fisioterapeuta Larissa Mello Dias, de 34 anos.

As primeiras doses foram aplicadas pelas enfermeiras Roberta Serra Pereira e Viviane Pavanelo, do núcleo de Infecção Hospitalar do Hospital do Trabalhador.

Formado há cinco anos, Diego trabalha desde então na unidade, mas nunca teve uma experiência tão complexa quanto com a pandemia. “É sempre um turbilhão de sentimentos. Tem momentos que a gente tá mais calmo e de repente você vê aquele paciente que você encaminhou pra a enfermaria, que acaba piorando e precisa ser entubado e levado pra UTI”, conta.

“Da mesma forma tem aquele paciente que chega e nos faz pensar que não vai escapar. Aí 30, 40 dias depois ele sai daqui andando, isso é fenomenal, uma alegria muito grande, no meio desse turbilhão de muita tristeza, de muita angústia. Mas ainda bem que tem esses momentos de alegria também”, diz.

Para ele, a vacina é a luz do fim do túnel, uma vitória da ciência contra o negacionismo. “É importante lembrar que a vacina nãos nos exime da responsabilidade de manter o uso da máscara e de tomar todos os cuidados de higiene para nos proteger do vírus”, ressalva.

Para encarar os desafios que vieram na esteira da Covid-19, a técnica de enfermagem Denise se desloca de Rio Branco do Sul para cobrir o seu turno no Hospital de Reabilitação Ana Carolina Moura Xavier, que integra o complexo hospitalar.

“A questão da pressão, o contato com o risco, tudo que é desconhecido é desafiador. Tivemos que reaprender muita coisa, mas as equipes foram bem treinadas”, afirma. “Me sinto muito honrada e feliz por ser chamada a fazer parte deste momento, da vitória da saúde e da ciência”, completa.

A matéria foi editada com trechos de reportagem da Agência Estadual de Notícias. As fotos são de Eduardo Matysiak, da Futura Press, colaborador do Correio do Litoral.

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