Pesquisadores descobrem no Litoral do Paraná nova espécie de caramujo, já extinto
As conchas do animal estavam no sambaqui da Ilha do Teixeira, em Paranaguá – é um bicho extinto que provavelmente só viveu nessa área

Uma equipe de pesquisadores brasileiros acaba de descrever uma nova espécie de caramujo terrestre, batizada de Thaumastus teixeirensis. O curioso é que o animal, encontrado em um sítio arqueológico na Ilha do Teixeira, em Paranaguá, já não existe mais. O estudo, publicado por cientistas da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Federal do Paraná (UFPR), revela detalhes sobre uma espécie endêmica da região que viveu há milhares de anos.
“As conchas do animal estavam no sambaqui da Ilha do Teixeira, em Paranaguá. É um bicho já extinto e provavelmente endêmico dessa área”, explica o pesquisador Marcos Gernet, do Departamento de Zoologia da UFPR e do Programa de Recuperação da Biodiversidade Marinha, iniciativa da Associação MarBrasil que conta com patrocínio do Governo Federal por meio do programa Petrobras Socioambiental. “A descoberta reforça a importância de valorizar e preservar os sambaquis da região. Infelizmente esse sítio arqueológico foi totalmente destruído ao longo dos anos, algo lamentável, porque com o desaparecimento desse depósito histórico, desaparece também esse tipo de informação importantíssima sobre a fauna antiga do litoral.”
Os sambaquis, montes formados por conchas, ossos e resíduos deixados por povos pré-históricos, funcionam como cápsulas do tempo, preservando vestígios da fauna e do modo de vida de populações humanas antigas. O Thaumastus teixeirensis foi identificado a partir de conchas encontradas nessas estruturas, sem que existam registros da espécie viva na natureza.

Uma descoberta rara
O pesquisador explica que o achado é duplamente relevante. “Estamos no século 21 e seguimos descobrindo espécies. Veja a imensidão e a grandeza da nossa biodiversidade, e continuamos conhecendo o mínimo. Sempre a descrição de uma espécie nova em si já é um fator importantíssimo. Agora, uma espécie nova que já não existe mais é duas vezes mais significativo.”
Para Gernet, a descoberta também lança luz sobre o impacto da destruição de sítios arqueológicos. “É um bicho que existiu e não vamos mais descobrir nada ecologicamente sobre ele e, no entanto, ele está envolvido em outro fator: ele estava dentro de um sítio arqueológico protegido por lei e locais assim continuam sendo destruídos constantemente. Veja a importância de preservar esses sambaquis, porque são fonte de conhecimento da biodiversidade pretérita. Muitos desses animais que têm vestígios nesses sambaquis podem não existir mais.”
Um caramujo “comum”, mas único

Segundo o pesquisador, o animal media cerca de 3 centímetros e possuía uma concha com formato distinto, com faixas marrom-avermelhadas e uma faixa branca estreita. “É um caramujo aparentemente comum, de cerca de 3 cm, mas é uma espécie nova que acabou de ser descrita, saiu do forno agora!”
Apesar de ser pequeno e discreto, o caramujo representa um símbolo da biodiversidade brasileira pouco reconhecida. “E se fosse um mico-leão? Quando a descoberta é de um vertebrado, de grande porte, a repercussão é muito maior. Mas a importância é equivalente. Os invertebrados não são levados em consideração, mas são animais tão importantes quanto. Trata-se de uma espécie brasileira que acabou de ser descrita, que não existe no mundo! E provavelmente é endêmico da Baía de Paranaguá.”
O fato de esta nova espécie ter sido identificada somente em conchas arqueológicas e não em populações vivas mostra a urgência de conservação do patrimônio arqueológico e natural. Além disso, o estudo reforça que os sambaquis são depósitos ricos não só de artefatos humanos, mas de informações biológicas sobre a fauna do passado, o que pode ajudar a entender os efeitos das mudanças ambientais, da ocupação humana e das extinções locais.
Outro caramujo endêmico, mas vivo!
Recentemente o pesquisador Marcos Gernet participou de outra descoberta científica notável. Um caramujo que vive isolado no Parque Nacional Marinho das Ilhas dos Currais. A nova espécie, um caracol terrestre, foi batizada de Drymaeus currais em homenagem ao local da descoberta e é considerada única no mundo, pois só existe neste arquipélago no litoral do Paraná. Devido à sua distribuição restrita, a espécie já é considerada ameaçada de extinção.
Rebimar
O Programa Rebimar é um conjunto de ações socioambientais voltadas para a conservação da região litorânea, principalmente no Paraná e na costa sul de São Paulo. A iniciativa faz parte da Associação MarBrasil, tem patrocínio do Governo Federal por meio do Programa Petrobras Socioambiental e conta com apoio científico do Centro de Estudos do Mar da Universidade Federal do Paraná, da Universidade Estadual do Paraná, da Universidade de São Paulo e do Instituto Federal do Paraná.
