Barcos são principais causadores de lesão das tartarugas no Litoral do Paraná
A necropsia de uma tartaruga-verde (Chelonia mydas) juvenil, encontrada morta em Guaratuba mostrou uma grave interação com hélice de barco. Havia cortes extensos perfurando a carapaça do animal e o ventre da tartaruga. A presença de hematomas em torno das fraturas indica que essa lesão aconteceu quando o animal ainda estava vivo, evidenciando que a morte da tartaruga está relacionada com interação com barco.
Essas análises foram feitas pela equipe multidisciplinar do Laboratório de Ecologia e Conservação (LEC) da Universidade Federal do Paraná (UFPR), responsável pelo trecho paranaense do Projeto de Monitoramento de Praias da Bacia de Santos (PMP-BS). O projeto é desenvolvido para o atendimento de condicionante do licenciamento ambiental das atividades da Petrobras junto ao IBAMA/MMA.
O padrão de marcas na carapaça da tartaruga confirmou a interação com a embarcação. “Além dos três cortes paralelos, sinuosos e simétricos, havia um quarto, no plastrão [ventre] do animal, coincidindo com um dos cortes da carapaça, o que evidencia que o animal girou no próprio eixo durante o atropelamento”, explica o médico veterinário do PMP-BS/UFPR, Andrei Manoel Brum Febronio. Segundo ele, o padrão das marcas indica que o atropelamento foi causado por uma embarcação de grande porte.
Esse não é um caso isolado. De 2015 até 2022 já foram registrados 153 casos de tartarugas marinhas com lesões externas, sendo 76 casos classificados como interação com embarcação, draga ou hélice. O levantamento foi feito pela médica veterinária do PMP-BS/UFPR, Carolina de Souza Jorge, a fim de identificar e classificar se a lesão é de caráter antrópico (ações humanas) ou natural.
Para a veterinária, estudos dessa natureza contribuem na busca de minimizar os impactos humanos que ameaçam a vida marinha. “Algumas medidas que podem ser tomadas para diminuir ou evitar a interação com embarcação são a regulamentação da velocidade de navegação, a criação de rotas de tráfego dos veículos náuticos e a definição de distâncias a serem mantidas das áreas de maior ocorrência destes animais”, considera.
FAUNA MARINHA NO LITORAL PARANAENSE
As interações com embarcações, incluindo as de lazer e as vinculadas às atividades portuárias e pesqueiras, estão listadas como ameaças à fauna marinha em diversos planos de ação nacionais de conservação, segundo a bióloga coordenadora do PMP-BS na UFPR, Camila Domit. No Paraná o caso preocupa ainda mais os cientistas, pois é uma área prioritária de alimentação e desenvolvimento de diversas espécies marinhas.
Além das tartarugas juvenis que se alimentam nessa região, o local é um berçário para os golfinhos, sendo comum a presença de fêmeas grávidas ou mães e filhotes nadando pelas águas costeiras paranaenses, ficando vulneráveis à colisão com barcos.
“A sensibilização da sociedade e o cuidado ao navegar em áreas que compartilhamos com os animais são essenciais para garantir a sobrevivência de tartarugas marinhas, golfinhos e diversos outros animais marinhos no litoral paranaense”, pondera Domit.
SOBRE O PMP-BS
O Projeto de Monitoramento de Praias da Bacia de Santos (PMP-BS) é uma atividade desenvolvida para o atendimento de condicionante do licenciamento ambiental federal das atividades da Petrobras de produção e escoamento de petróleo e gás natural na Bacia de Santos, conduzido pelo Ibama.
Esse projeto tem como objetivo avaliar os possíveis impactos das atividades de produção e escoamento de petróleo sobre as aves, tartarugas e mamíferos marinhos, através do monitoramento das praias e do atendimento veterinário aos animais vivos e necropsia dos animais encontrados mortos.
O projeto é realizado desde Laguna/SC até Saquarema/RJ, sendo dividido em 15 trechos. O LEC/UFPR monitora o Trecho 6 (litoral do Paraná), compreendido entre os municípios de Guaratuba (ao sul) e Guaraqueçaba (ao norte).
Ao encontrar animais marinhos debilitados ou mortos nas praias paranaenses é possível acionar a equipe do PMP-BS/Laboratório de Ecologia e Conservação (LEC) da Universidade Federal do Paraná (UFPR) pelo telefone 0800 642 33 41 ou pelo Whatsapp (41) 9 9213 8746.
Fonte: LEC-UFPR / Ana Istschuk