Tratamento de esgoto ecológico em comunidade litorânea recebe prêmio internacional

Um sistema de tratamento de esgoto com recursos naturais na localidade de Eufrasina, na Baía de Paranaguá, foi reconhecido com o Prêmio Legado, na categoria Desenvolvimento Sustentável – “Agustín Díaz”, concedido pela AAPA Latam 2025 (Delegação Latino-Americana da Associação Americana de Autoridades Portuárias).
Também havia recebido o Prêmio Antaq 2024, da Agência Nacional de Transportes Aquaviários, na categoria Iniciativas Inovadoras em Emergência Climática em ESG (environmental, social, and governance”: ambiental, social e governança). Outro prêmio foi o Portos e Navios de Responsabilidade Socioambiental entregue no ano passado.
Os prêmios foram concedidos à empresa Pública Portos do Paraná, parceira do Centro de Estudos do Mar (CEM) da Universidade Federal do Paraná (UFPR) no projeto.
Leia a reportagem de Camille Bropp publicada no site da UFPR sobre o saneamento ecológico:
A comunidade Eufrasina é um vilarejo onde vivem cerca de 70 famílias no lado Oeste da Baía de Paranaguá, área de preservação ambiental no litoral paranaense. Sem grande maquinário nem tubulações à vista, essa localidade está passando por implementação do tratamento de esgoto, iniciativa de um projeto do Centro de Estudos do Mar (CEM) da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e da empresa pública Portos do Paraná (Appa). De zero, hoje já são 70% das residências habitadas com esgoto tratado em pouco mais de um ano do projeto Comunidades Sustentáveis.
A evidência disso são os conjuntos de plantas dispostas em formato quadrado, recém-instalados nos quintais das moradias, junto com uma placa onde se lê “jardim filtrante” e, às vezes, “tanque de evapotranspiração”, “vermifiltro” ou “biodigestor artesanal”.
Todas são tecnologias de permacultura para tratamento de dejetos. Criada nos anos 1970, a permacultura é um conceito de sustentabilidade que consiste em explorar sistemas permanentes de animais e vegetais para resolver necessidades humanas locais.
Jardim filtrante em construção



O jardim filtrante — o nome técnico é sistema alagado construído — é uma tecnologia de permacultura que cria um filtro natural de esgoto por meio da junção de sedimento (pedra e areia) com as raízes das plantas e os microrganismos que vivem ali.
Ao mesmo tempo que o esgoto é impedido de ir para o mar, porque o jardim é construído sobre uma espécie de lago impermeabilizado, o sedimento, as raízes e os microrganismos agem para decompor mais rapidamente a matéria orgânica. Outro sistema implementado em Eufrasina é o tanque de evapotranspiração, que não gera efluentes (resíduos do tratamento) porque é composto de plantas com grande necessidade de água — a bananeira, por exemplo — que acabam por consumir toda a água residuária.
Os sistemas precisam de pelo menos três meses para começar a funcionar com eficiência. O processo inclui o licenciamento ambiental, a construção do sistema, e o monitoramento da eficiência dele, verificando se os efluentes estão tratados, e orientando a população sobre os cuidados posteriores necessários.
“O tempo que leva para fazer depende do porte do sistema. Para uma família, a gente leva dois dias de atividades intensas. Se o sistema é maior, leva mais tempo”, explica o professor Fernando Armani, do Curso de Engenharia Ambiental e Sanitária do CEM UFPR, que fica em Pontal do Paraná.
Educação ambiental
O projeto de pesquisa se dá no âmbito de um convênio com Portos do Paraná, firmado em março do ano passado. Abrange ainda um projeto de extensão, o Educação e Saneamento, pelo qual são desenvolvidas as ações de educação ambiental, também importantes para o sucesso do projeto. A equipe da UFPR já reúne cerca de 20 membros, entre docentes, estudantes de graduação e pesquisadores da Pós-graduação em Sistemas Costeiros e Oceânicos (PGSISCO) e do Programa de Pós Graduação em Meio Ambiente Urbano e Industrial (PPGMAUI).

Neste mês a iniciativa foi destacada pela Associação Americana de Autoridades Portuárias (Aapa) América Latina, que promove o prêmio Agustín Díaz, a modalidade de desenvolvimento sustentável da premiação Legado. Antes, já havia sido reconhecida no Prêmio Antaq (Agência Nacional de Transportes Aquaviários) 2024 e no Portos e Navios de Responsabilidade Socioambiental, entregue pela revista Portos e Navios.
Na comunidade a presença do projeto tem sido marcante para a infraestrutura e o cotidiano da população. “Já podemos ver a diferença na qualidade da água através das análises já realizadas em determinadas áreas com resultados muito positivos”, diz Rosene Passos, profissional autônoma e presidente da Associação de Moradores da Ilha de Eufrasina. A casa onde mora está em processo de instalação de biodigestor com término em jardim filtrante.
Antes do projeto de permacultura, a maior parte do esgoto da ilha era descartado diretamente na maré. Algumas residências possuíam fossas sépticas rudimentares que contaminavam o solo, conta Rosene. Com isso, a qualidade da água do mar se tornou um problema para o turismo — com locais de coleta seguidamente marcando água imprópria para banho — e para a biodiversidade naquela localidade de Paranaguá.
A conversa com a comunidade enfrentou resistência no início. “Era tudo muito novo e junto com isso a mentalidade de que estava tudo certo e sempre foi assim”, diz Rosene. Hoje a presença da universidade é mais bem compreendida.
“Não sabia [que a universidade promovia projetos do tipo] até receber esse projeto aqui”, lembra. “Temos visto resultados positivos que nos leva como comunidade à mudanças de mentalidade e boas práticas para um futuro mais sustentável, preservando o ambiente onde vivemos”.
Diversificação
Fora a implantação de sistemas de tratamento de esgoto nas residências, o Comunidades Sustentáveis já promoveu ações complementares de apoio à conscientização ambiental em Eufrasina. As principais são as dez oficinas de produtos de limpeza biodegradáveis oferecidas no ano passado e as atividades educativas nas escolas das comunidades da Baía de Paranaguá abordando o tema do saneamento básico.
O projeto também cria ambiente para pesquisas e novas oportunidades de ensino, como a inserção do turismo ecológico na ementa da disciplina de Introdução à Engenharia Ambiental e Sanitária do CEM.
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Fonte: UFPR