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Sucessão de Solidariedade em tempos de pandemia

“porque tive fome, e me destes de comer; tive sede, e me destes de beber; era forasteiro, e me acolhestes.” (Matheus, 25:35)

No período da pandemia, o número de pessoas que passam fome é aumentado a cada dia. O “Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19” realizado pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar (Rede PENSSAN, 2020), pesquisou 2.180 domicílios nas cinco regiões do país, entre 5 e 24 de dezembro de 2020, nas áreas urbanas e rurais e mostrou que 116,8 milhões de brasileiros não tinham acesso pleno e permanente a alimentos. Conforme análise da pesquisa, a combinação das crises econômica, política e sanitária provocou uma imensa redução da segurança alimentar em todo o Brasil.

Conforme análise da pesquisa, a combinação das crises econômica, política e sanitária provocou uma imensa redução da segurança alimentar em todo o Brasil.

Do mesmo modo, cabe a reflexão de que a pandemia não atinge a todos/as da mesma maneira. Segundo a Oxfam-Brasil, em estudo denominado o vírus da desigualdade, baseado na lista anual da Forbes, as fortunas dos 10 bilionários mais ricos do mundo, entre 18 de março de 2020 e 31 de dezembro do mesmo ano, cresceram US$ 540 bilhões em apenas 9 meses, em plena pandemia. Segundo a Forbes, o Brasil ganhou 11 novos bilionários em 2020 (Valor Econômico, 2021).

O ano de 2020 foi doloroso para todos os povos do mundo. A pandemia de covid-19 causou muitos estragos na vida de milhões de pessoas – muitos morreram e muitos foram contaminados e sofreram as graves consequências da doença. Sendo que os mais pobres sofreram os maiores impactos, perdendo emprego e renda.

A busca por um mundo mais justo e menos desigual tem de ser prioridade dos esforços de recuperação econômica, cabendo aos governos garantir que todos/as tenham acesso à vacina contra a covid-19 e apoio financeiro para lidar com os efeitos da pandemia, investindo em serviços públicos, criando novos empregos e assegurando que todos/as tenham educação e saúde de qualidade.

A nós, compete, além da cobrança pela garantia de direitos, unimo-nos das mais diferentes formas para buscar minimizar os impactos da grande crise. 

Diante do aumento da fome, várias foram as campanhas de doações de alimentos em todo o país, muitos de nós já participamos de algumas, estimuladas por meio de grupos de whatsapp, emissoras de televisão, mídias sociais etc. Muitas são mediadas pelos órgãos, empresas e entidades nas quais trabalhamos. 

Enquanto servidora, participei da campanha de solidariedade da Prefeitura Municipal de Guaratuba, a qual realizou campanha de arrecadação de alimentos entre os servidores/as, de maneira a doar cestas básicas às famílias em situação de vulnerabilidade social, aprofundadas no período da pandemia A campanha arrecadou mais de uma tonelada de alimentos, resultando em 72 cestas básicas, as quais alimentarão as famílias não somente de alimentos, igualmente de sonhos, pois podem voltar a acreditar na ajuda mútua, em repartir o pão e na solidariedade/caridade cristã. 

São iniciativas louváveis, por um lado, por ajudar as pessoas que mais precisam, por outro, por nos fazer pensar sobre o nosso papel na sociedade enquanto ser social.

O objetivo deste texto é assinalar a extensão da rede de solidariedade, para além das famílias beneficiárias das cestas, mas estendendo a outros sujeitos também atingidos pela crise e pela quebra de algumas políticas direcionadas à categoria – agricultores e agricultoras familiares.

Pois, uma vez adquirindo alimentos da agricultura familiar, você expande a extensão da rede de solidariedade a outro grupo social, vez que, colaborando para matar a fome daqueles que têm fome, também, incentiva a produção de alimentos por famílias de que necessitam comercializar seus produtos e produção, desta forma, ajuda a manter a geração de emprego e renda na cadeia da produção de alimentos no âmbito local e regional.

Em geral, os agricultores familiares são regidos por outras lógicas de produção e enfrentam dificuldades em atender aos requisitos dos sistemas agroalimentares (grandes complexos agroindustriais) de quantidade, homogeneidade, rastreabilidade e pontualidade de entrega estabelecidos pelas grandes distribuidoras, devido ao aumento do custo de produção, falta de capital para entrar no negócio, geradas a partir da formação assimétrica das relações comerciais, dando origem a situações de exclusão de muitos trabalhadores e trabalhadoras rurais.

Deste modo, comercializar seus produtos localmente com produtos de qualidade, frescos, respeitando o meio ambiente é uma das estratégias dos produtores que pode ser vista como esforços voltados para resistir e permanecer no campo. 

Em alguns casos, viabilizam sua participação nos mercados globais, por meio da formação de associações e cooperativas que lhes permitam obter ganhos de escala, orientados a alguns nichos de mercado específicos. Assim, visualizam os mercados como arenas sociais, onde interagem atores com diferentes racionalidades, valores e códigos. 

Os tipos de canais utilizados pelos produtores familiares e suas combinações particulares são, portanto, o produto de escolhas feitas no marco das oportunidades que têm, e das condições que enfrentam, e também, como elemento explicativo da heterogeneidade encontrada no nível agrário.

Acrescente-se à rede de solidariedade enunciar que, muitos destes agricultores/as produzem de forma agroecológica, ou seja, respeitando os recursos naturais/natureza, produzindo alimentos saudáveis sem a utilização de adubos sintéticos e agrotóxicos, favorecendo a relação ser humano e natureza, deste modo, além de matar a fome, gera emprego e renda, além do cuidado com natureza, aumentando a rede de conexão socioambiental.

Inúmeras são as razões para consumirmos os alimentos por aqueles e aquelas que edificam suas vidas no trabalho diário com seus saberes culturais e suas estratégias embasadas em outras relações com os seres e a natureza como um todo. 

Portanto, favoreçamos os circuitos curtos de comercialização, adquirindo alimentos frescos, produzidos com respeito às pessoas e ao meio ambiente, e na hora de doar, favoreça também estes grupos, adquiram dos agricultores locais, da região e do estado. 

Há diferentes forma de acesso a estes alimentos, para acessar a cesta esperança que será encaminhada às famílias, entre no link: https://www.produtosdaterrapr.com.br/produto/cesta-de-natal-para-doacao-esperanca/, desta forma, colaborará às famílias em situação de vulnerabilidade social, à agricultura familiar e à manutenção deste jeito de produzir diferenciado, garantindo emprego e renda aos trabalhadores/as do campo e alimentando a cidade.

Maria Wanda de Alencar é engenheira agrônoma da Prefeitura de Guaratuba

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