As pessoas não são importantes!
Você deve ter achado o título impactante e resolveu ler a coluna pelo choque que ele lhe causou, não é?
Então vamos lá. Vou falar de “Planejamento Urbano” nas cidades, em especial nas do litoral do Paraná…. ou melhor: da falta de planejamento urbano!
Pense comigo: que tipo de obras se vê prefeitos inaugurando ou trombeteando por aí? Asfaltamento de ruas, a compra de carros novos, uma nova creche acolá, um posto de saúde perdido em algum lugar por aqui ou até um show de um artista meia-boca cujo empresário prometeu uma comissão pra alguém…. e assim vai.
Mas vem a pergunta do título: as pessoas são importantes?
Parece-me que não. Explico porque:
É quase impossível passear-se a pé por qualquer cidade do nosso litoral, seja Paranaguá, Morretes, Antonina, Guaraqueçaba, Guaratuba ou Matinhos, pela simples razão: não existem calçadas na maioria das ruas, são mal conservadas, com buracos, ou com tapumes de obras, com mato ou invadidas por uma obra irregular do dono da casa, que acha que a calçada é extensão do terreno dele, coisa que não é. Morretes é a mais arrumadinha, na minha modesta opinião. Guaratuba na sua orla marítima é show, mas saindo dali a coisa complica.
Como as calçadas são irregulares, então os pedestres andam pelas ruas, disputando o espaço com automóveis e pondo a vida em risco.
Todo planejamento urbano que deveria pensar nas pessoas em primeiro lugar, mas simplesmente ignora o homem como individuo que sai de casa para trabalhar, seja a pé, de bicicleta ou de ônibus coletivo. A prioridade é a classe social dos que estão no comando da cidade: o cidadão que possui um automóvel! É pra ele que o município trabalha.
O trânsito, os semáforos, os locais para estacionar seus belos carrinhos, a sinalização com caras placas refletivas, um asfalto novo que a empreiteira de São Paulo costuma empurrar nas prefeituras do brasilzão afora, em troca de uma gorda propina… e assim vai. Esse são os usos e costumes que há décadas se pratica por aí.
Então o que chamamos de “planejamento urbano” é uma ficção nas cidades e municípios do litoral do Paraná (pra não ir mais longe…). São os vendedores de semáforos, asfalto e placas que convencem os secretários, vereadores e os prefeitos em comprar seus produtos. São todas obras e gastos para dar conforto a quem tem carro. Mas o pedestre continua sem calçadas e praças limpas, bem conservadas. Ciclovias então, é um sonho: quando existem em alguns trechos, estão cheias de lama e poças d’água ou com um monte de lixo do sujeito da casa da frente ou entulhos de obras. Fiscalização municipal? Nenhuma ou rara.
Estive com a família e amigos em algumas praças e monumentos públicos em Paranaguá e a situação é triste e até criminosa: a Praça do Japão, com chafarizes, lago artificial para carpas e um fonte, se transformaram em berçário para mosquitos da dengue e lixo. O mais lamentável é que os recursos para a construção da praça foram doados pela colônia japonesa e mostra como nossa cultura está muito abaixo a do povo que doou à comunidade aquele belo equipamento urbano jogado às traças e abandonado à apenas alguns metros da Câmara de Vereadores. Claro que nenhum vereador vai lá ou senta no banco daquela praça, pois não se arriscaria no meio do lixo que prolifera por ali.
Me pergunto: as pessoas são realmente importantes para a administração pública? Não, pois se fosse, o prefeito e seus assessores, se sentariam nos bancos das praças, subiriam nos coretos, andariam a pé como faço e até se arriscariam com suas bicicletas? Não farão isso porque “não são loucos”…. é o que certamente pensariam. Melhor ir de carro oficial passear e com o ar-condicionado ligado para não sentir seus odores.
Fui me atrever caminhar à beira do rio Itiberê numa dessas tardes aproveitando o horário de verão: Desisti, pois o mau cheiro de esgoto in natura que é lançado no cartão-postal da cidade é insuportável. As calçadas quebradas e interrompidas, lixo, mendigos e falta de aproveitamento daquela região à beira do rio para lazer da comunidade e de turistas no entorno do aquário recém-inaugurado, nos afasta de um maior convívio com o chão da cidade. A Praça do Guincho, onde começou o antigo porto, hoje é um tapete de lixos de todas espécies, ajudado com o boteco ao lado…. garrafas e copos de plástico por todos os lados, que qualquer vento ou chuva que bata leva tudo pro rio, mar e entope nossa linda baía com esses detritos.
Olha que não falo de grandes obras, milionárias e de valor vultuoso. Falo de limpeza, capricho, carinho com as coisas, paisagismo, coleta de lixo, tratamento de esgoto, uma pintura e conservação, lixeiras em locais públicos (e esvaziá-las, né?!), calçadas e roçada de matos e capim alto.
Entenderam agora a razão do título do tema de hoje da coluna? Andando pelas nossas cidades só chego a uma conclusão: As pessoas não são importantes para os administradores municipais. Falta carinho pra com o espaço público.
É a Minha Opinião!