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O futuro de Guaratuba após a Ponte

Artigo de Requião Filho

Muito tem se falado sobre as facilidades que a construção da Ponte que ligará Guaratuba a Matinhos trará a turistas, moradores e ao desenvolvimento da região.

O atual modelo de travessia do trecho, executado por ferryboats e balsas, remonta ao século passado e sofreu drástica piora nos últimos anos, o que afeta usuários principalmente durante a temporada de verão.

Não abordaremos aqui a necessidade de responsabilização dos envolvidos na repentina e sensível piora do serviço, nem pretendemos lincá-lo a um suposto favorecimento do convencimento da opinião pública pela construção da nova estrutura. Também não é objetivo deste, opinar sobre o aspecto arquitetônico do projeto. Nos permitiremos, apenas, fazer um exercício de reflexão, com base em documentos presentes no EVTEA, sobre as consequências da construção, sem que sejam executadas intervenções urbanas e de infraestrutura articuladas pelos municípios e pelo Poder Público Estadual.

De antemão se faz necessário explicar ao leitor o significado da sigla EVTEA, que nada mais é que um Estudo sobre Viabilidade Técnica, Econômica e Ambiental da construção. Tal documento deve estar presente nas fases preliminares de uma obra deste porte.

Isto posto, analisando brevemente a estimativa do volume de tráfego futuro na ponte (pg. 30 do EVTEA), calculado pelo VDMA (Volume Diário Médio Anual), que  é o volume médio diário de tráfego equivalente em uma dada seção da via, determinado a partir de observações realizadas em um período de 1 ano completo, observa-se que o aumento do fluxo de caminhões tende a transformar Guaratuba em um corredor de passagem de veículos pesados, com todas as implicações derivadas desta realidade. Vejamos:

Tabela

Descrição gerada automaticamente

Automóveis/dia

Com base nas informações, sem contar automóveis de passeio, motocicletas, ônibus e demais veículos, consta que passarão pela ponte, por ano, 1.825 treminhões (3T6 trator + dois reboques); 36.865 carretas com 7 eixos (3T4, trator + reboque + semirreboque) e 84.315 carretas com 6 eixos (trator + reboque).

Isso significa que, no período de um mês, e em todos os meses, mais de 10 mil caminhões atravessarão a cidade de Guaratuba!

Diagrama

Descrição gerada automaticamente

Tipos de Caminhão

Há que se destacar que não existe previsão de desvio do fluxo de veículos que passarão pelo município com destino a Matinhos, do centro da cidade. Tal possibilidade, inclusive, é impossível, pois o projeto arquitetônico prevê a cabeceira da ponte próxima ao local em que hoje atracam os Ferryboats.

Caso os veículos pesados apenas passassem pelo munícipio, o caos no trânsito e o aumento da poluição já seriam fatores que precisariam ser enfrentados com muito planejamento, de forma a não prejudicar a vocação turística da cidade. Porém, não há como evitar que a rota se torne espaço de parada de veículos, com instalação de pequenos hotéis de alta rotatividade, comércio característico de beira de estradas e consequente aumento nos indicadores de criminalidade pelos mais diferentes fatores.

De todo modo, não é apenas Guaratuba que sentirá os efeitos da construção da Ponte. A estrutura encurtará a distância entre o Porto de Paranaguá e os Portos catarinenses de Itapoá e Itajaí. Por óbvio, quase todo este fluxo de caminhões transitará pela rodovia Alexandra-Matinhos (PR-508).

Nesse sentido, importa relembrar que a rodovia estadual foi construída a toque-de-caixa na década de 80, sobre terreno pantanoso. Possui inúmeros declives e aclives, causados por aparente erosão e que causam grandes ondulações na pista. Além disso, a estrada não conta com acostamento. 

O aumento exponencial de tráfego pesado na rodovia carente de acostamento, sem que haja reforma, ampliação ou melhoramento, culminará no surgimento de um grande gargalo. Basta um simples acidente ou uma falha mecânica, para que todo o trânsito venha a ser bloqueado, prejudicando o escoamento de cargas e o deslocamento de pessoas.

Não é possível que em pleno 2023, gestores públicos planejem o desenvolvimento de toda uma região sem uma política de infraestrutura integrada. 

Com a palavra: as autoridades!

*Requião Filho é advogado e deputado estadual do Paraná

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