Correio do Litoral
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Ponto sem nó, nem pensar…

AMIGAS, era assim que a gente se chamava desde o começo dessa aventura, há mais ou menos 4 anos, com necessidade de arrumar um tempinho pra tomar café juntas e jogar conversa fora. Mas como arrumar essa agenda, com os deveres de casa, trabalho, família, filhos, netos, visitas, horários complicados… a solução foi inventar mais um compromisso: voluntariado.

A inspiração veio de um grupo muito expressivo, as Fiandeiras – elas se reuniam para fazer crochê! Por que não poderíamos fazer a mesma coisa? Mas tinha também outra história, mais antiga, a Liga das Senhoras Desocupadas, codinome que demos, na minha família, para os grupos dos quais minha mãe participa há muitos anos, com amigas que conhece desde a mocidade, agora quase todas já na casa dos oitenta. Sem qualquer pretensão de tal, é o exemplo mais antigo de sororidade que conheço; e com certeza elas não se imaginam precursoras desse poderoso elemento do ser feminino, mas são.

Pois foi assim que um pequeno grupo, no início três ou quatro, começou a se encontrar aos sábados de tarde, na mesa da cozinha do fundo de casa, para fazer crochê, ensinar e aprender, e entre fios, linhas, agulhas e receitas simples, fizemos as primeiras artes.

Não vou dizer que ficaram a perfeição, mas o resultado nos maravilhou, porque é estupendo quando a gente cria, realiza e termina uma peça, uma manta, uma boina, gorrinhos de criança, enfeitados, lidando com nossas expectativas e com as de outras pessoas. Além disso, tinha de um tudo: bolo feito pelo marido, biscoito fitness, conversas sobre política, sobre a nossa saúde, fofocas do bairro, falava-se bem e mal de tudo – um exercício de liberdade pessoal, sem restrições, sem censuras, com muito carinho.

Em 2016, destinamos mais de 40 peças ao Centro de Formação de Vínculos da Secretaria do Bem Estar Social; ano passado, de novo, para a campanha Guaratuba Solidária, entregamos 194 peças.

Este ano, o mutirão de quadradinhos se estendeu a toda cidade, passou definitivamente pela “fronteira final” das Nereidas, outras amigas vêm do centro e de outros bairros, agora somos AMIGAS DO CROCHÊ E TRICÔ DE GUARATUBA. As doações, de lãs, linhas, quadradinhos e mantas prontas, chegam de todo canto da cidade e de fora.

Mudamos de lugar, saímos da cozinha pequena e acanhada, para um local mais confortável, com mesas maiores, sol na varanda de onde vemos a praia. Estamos em público, sim, e aos curiosos que perguntam por que aquelas mulheres resolveram se reunir para crochê e tricô quase em frente ao mar…. A única resposta é: por que não?

Somos um coletivo voluntário de mulheres de todas as idades, dispostas, cheias de animação; encontramo-nos, aos sábados, com café, quitutes e bom papo, fazemos juntas o que cada uma de nós poderia fazer sozinha, mas o resultado é muito mais divertido, multiplicado pela dedicação, amizade e uma incansável troca de conhecimentos na prazerosa arte das “prendas manuais”; projetos artesanais, ideias, preocupações, tesourinhas e agulhas, tudo se troca ali, por algumas horas, com tranquilidade.

E planos para o trabalho no verão, para o futuro, para melhorar de vida, para melhorar outras vidas. Conversamos também sobre as formas de zelar por cada uma de nós, pelos amigos, pela cidade. Temos algum tempo, temos vontade, e juntas vamos descobrindo que temos coragens até então impensadas.

Certo que entre agulhas e lãs coloridas, ponto por ponto, vamos tecendo as mantas, as peças elaboradas com arte e capricho, que serão entregues para outras pessoas – que sequer imaginam a alegria que nos proporciona esse trabalho, o nosso entusiasmo. Que vem da vontade de fazer algo bom, bonito, cada uma de nós feliz de saber que pode fazer mais, só isso. Pois essas mulheres não dão ponto sem nó. Um de cada vez.

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