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Carta 162. O nascimento de um sinônimo

Página 161 de Meijer 2009, contendo a aquarela – feita por Maria do Rosário de Fátima Seleme Zagonel – do material tipo de Hygrocybe magnifica.

Há uma semana, uma micóloga dos Estados Unidos me encaminhou vários artigos recém-publicados sobre cogumelos brasileiros. A ajuda dela foi muito bem vinda, pois poucos autores me encaminham as suas publicações: mandam apenas quando é solicitado.

Dos trabalhos que dela recebi, quero aqui comentar aquele de Vizzini et al. 2015.

Abrindo as páginas do artigo, publicado há um mês, deparei-me com as belas fotos de um cogumelo no qual reconheci imediatamente a minha Hygrocybe magnifica, publicada há seis anos (Meijer 2009). Fiz então uma comparação detalhada entre as descrições de Hygrocybe rubroalba e H. magnifica (veja Tabela 1) e conclui que, com certeza, trata-se do mesmo fungo!

Tabela 1. Comparação de Hygrocybe rubroalba com H. magnifica.

Carta 162
Clique na tabela para ampliar

(1) + = não há diferença significativa entre os dados das duas descrições.

(2) A localidade com esses coordenados fica dentro da periferia urbana da cidade de Campina Grande do Sul, situado 43 km ao norte da localidade tipo de Hygrocybe magnifica.

(3) As diferenças em tamanho são pequenas: ao que parece, de Meijer coletou material mais crescido e mais madura, com píleos / lamelas / macrósporos atingindo diâmetro / largura / comprimento um pouco maior.

(4) Os queilocistídios, observados por de Meijer, são interpretados como basidíolos por Vizzini et al. 2015.

(5) Vizzini et al. 2015 informam que fizeram as suas análises microscópicas a partir de exsicatas. Nas suas exsicatas, o pigmento das hifas do pileipellis estava “mal visível”, aparentemente essa sendo a razão deles terem interpretado o pigmento como parietal. De Meijer obteve todas as suas observações de Hygrocybe magnifica a partir do material fresco e não tem dúvida de que o pigmento, na realidade é intracelular.

Em 12 de maio de 2015, Eliseo Battistin, um dos autores de Hygrocybe rubroalba, contatou-me por e-mail, solicitando as descrições das três novas espécies de Hygrocybe publicado em Meijer 2009. Atendi ao seu pedido prontamente, enviando-lhe as descrições na versão inglesa (para essa ajuda estou sendo mencionado nos agradecimentos do artigo). Achei que seria o suficiente, já que Eliseo tinha a mim se apresentado como “um biólogo italiano interessado em micologia”. Se ele tivesse sido mais franco comigo, comunicando-me a sua intenção de publicar uma espécie nova do Paraná, eu obviamente teria lhe enviado do meu livro – de forma digitalizada – a parte inteira tratando do gênero Hygrocybe, incluindo as ilustrações.

Parabenizo os autores do artigo pela excelente qualidade visual da publicação e por apresentarem dados moleculares que ainda estavam faltando para a minha Hygrocybe magnifica (sinônimo: Hygrocybe rubroalba).

Espero que essa mensagem sirva como alerta para esses autores e para todos. Não é recomendável publicar espécies novas sem ter consultado os colegas, daquele ramo de ciência, familiarizados com a biota regional. Mesmo se uma espécie for nova de verdade, o especialista local pode ter antes coletado a espécie e, assim, ter material e anotações valiosas para enriquecer o trabalho e, consequentemente, aumentar o seu valor científico. Mas não se trata apenas de qualidade científica: assim atuando, você demonstrará que é merecedor de confiança e respeito.

REFERÊNCIAS

Meijer, A.A.R. de. 2009. (‘2008’). Notable macrofungi from Brazil’s Paraná pine forests = Macrofungos notáveis das florestas de pinheiro-do-paraná. Embrapa Florestas, Colombo, Brazil. 431 pp.

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