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Projeto Caxeta regulamenta extração de madeira de instrumentos do fandango

Fabricação de instrumento do fandango em Paranaguá | Foto: Flavio Rocha

Nesta quinta-feira (30), foi celebrado o encerramento do Projeto da Caxeta que regulamentou a extração da madeira base para instrumentos musicais do fandango.

Na solenidade, três construtores de instrumentos receberam o documento de dispensa de Licenciamento Ambiental Estadual (DLAE) para manejo de caxeta (Tabeuia cassinoides), espécie nativa do Litoral. O trabalho foi patrocinado pelo pelo Terminal de Contêineres de Paranaguá (TCP).

Iniciado em junho de 2022, o projeto uniu IAT, moradores da vila São Miguel, grupos de fandango e técnicos da Selo Verde (empresa de consultoria ambiental contratada pela TCP). “Esta é uma demanda antiga do fandango caiçara que o terminal tem orgulho de ter iniciado o debate, pois regulamentar a extração da madeira auxilia na preservação das tradições locais”, comentou o gerente institucional da TCP, Allan Chiang.

De acordo com os mestres fandangueiros, a confecção de instrumentos feitos com madeira de caxeta é essencial para ensinar a juventude caiçara a tocar e a construir os objetos, mantendo vivo esse costume. Segundo o construtor e músico, Aorelio Domingues, “depois de muita luta e debate, conseguimos uma portaria que descriminaliza nosso ofício. A participação da TCP foi muito importante para facilitar o cumprimento desse acordo”.

A publicação da portaria IAT nº 466, de 20 de dezembro de 2022, garante aos construtores de instrumentos (chamados de luthiers) o direito de solicitarem uma Dispensa de Licença Ambiental Estadual (DLAE).

O documento permite a extração da caxeta na área de São Miguel de forma legalmente correta. Entre os instrumentos construídos com a madeira de caxeta estão a viola caiçara, o machete, o rabelo e a rabeca.

Com a nova regulamentação, a fiscalização do órgão ambiental pode ser feita de forma mais efetiva e controlada, garantindo a manutenção da espécie na região, uma vez que apenas os construtores podem solicitar a DLAE. Além disso, os artesãos precisam comprovar o vínculo com os grupos de fandango e com a comunidade, além de provar que confeccionam os instrumentos.

A engenheira agrônoma do IAT, Margit Hauer explica que “a permissão se deve ao fato de a atividade ter baixo impacto ambiental por necessitar da extração de apenas uma parte da árvore”. Além disso, a Caxeta tem a capacidade de regenerar depois de cortada e se reproduz por brotações que nascem a partir das raízes.

Ao conquistar a permissão, os artesãos se comprometem a não prejudicar a conservação da vegetação nativa da área e podem apenas utilizar técnicas que não coloquem em risco a sobrevivência da espécie, com a chancela de explorar até 15 m³ anuais por hectare.

Outro fator é que a partir desta liberação pontual o IAT passa a contar com “fiscais da Caxeta”, que trabalharão pela preservação da espécie, pela subsistência e manutenção da tradição local.

Caxeta e Fandango, uma tradição caiçara

Entre os instrumentos construídos com a madeira de caxeta estão a viola caiçara, o machete, o rabelo e a rabeca | Foto: Flavio Rocha

Considerado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) como Patrimônio Cultural Imaterial desde 2012, o Fandango Caiçara é expressão musical-coreográfica-poética e festiva, que vai desde o Litoral sul do Rio de Janeiro até o Litoral do Paraná.

Segundo Aorélio, os caiçaras estão neste território há mais de 500 anos. “Desenvolvemos nossa cultura a partir da cultura indígena, por isso preservamos a floresta Atlântica e praticamos uma economia de manejo sustentável”.

Allan Chiang comenta que a tcp também apoia o manejo sustentável e a preservação do fandango caiçara em diversas frentes. “A empresa patrocinou a Festa Nacional de Fandango Caiçara de Paranaguá nas edições de 2019 e 2022; além da reforma de três espaços destinados aos ensaios e apresentações dos grupos. Também foram doados figurinos, equipamentos de som, instrumentos musicais e tablados de madeira. Tudo em prol, do incentivo aos projetos locais”, explica Chiang.

A TCP também apoiou o programa de rádio “No Vanzeiro do Fandango” e está realizando a produção dos CDs do Fandango Caiçara, projeto 100% financiado pelo terminal por meio da Lei de Incentivo à Cultura.

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