Correio do Litoral
Notícias do Litoral do Paraná

A primeira mutuca pirata

andre-de-meijer-colunaAqui no litoral norte do Paraná, no tempo ensolarado dos últimos dez dias, muitas borboletas estão voando. Visitam as flores de guaco, guaco-cabeludo e várias outras Mikanias trepadeiras. Na cidade de Antonina, as borboletas se concentram mais nas flores de picão-preto-branco.

Da pitangueira florida em frente da minha casa vem um zumbido tremendo. É causada por uma legião da abelha-europa.

As temperaturas estão muito agradáveis: entre um dia e outro o mínimo varia de 15 a 17 °C (às 7 h), e o máximo de 22 a 24 °C (às 14 h). As serpentes estão aproveitando esse calor da tarde para se aquecer na estrada e, consequentemente, o tráfego motorizado matou exemplares da boipeva, caninana, coral-falsa, coral-verdadeira, jararaca e papa-rã (Echinanthera undulata; o meu segundo registro desta raridade!).

A primavera está se aproximando! Aqui no litoral voltaram a cantar jaó (julho 18), trinca-ferro-verdadeiro (julho 26), macuco (agosto 2), araponga (agosto 4), sabiá-laranjeira (agosto 5) e peixe-frito-pavonino (agosto 10). Em Curitiba, sabia-laranjeira e tico-tico já estão cantando a todo vapor.

Entre os cantos mais conspícuos deste momento está aquele do surucuá, tanto no litoral (Trogon viridis), quanto nas florestas ao redor de Curitiba (T. surrucura). Essas aves são imperturbáveis: ficam meditando o dia todo no mesmo galho, infinitamente emitindo o seu mantra horizontal, assim trazendo tranquilidade para todos que ouvem.

Dentro de algumas semanas começarão a chegar aqui as ‘aves do verão’. As primeiras que voltam da migração costumem ser pomba-galega, andorinha-do-campo, andorinha-serradora e saí-andorinha. Fiquem de olho nelas!

Neste momento se ouve muito, em todo o litoral paranaense e em pleno dia de sol, a rã-gota (Leptodactylus notoaktites), cujo canto pode ser descrito como: bolhas estourando em sequencia.

Infelizmente, tanto no litoral quanto no planalto, piromaníacos humanos estão aproveitando o tempo seco para incendiar as beiradas de todas as estradas.

Em 4 de agosto fui atacado aqui pela primeira mutuca da nova estação. Tratou-se de Chrysops varians,(a) o pirata que atraca sua âncora no alto da nossa cabeça (as outras mutucas preferem partes menos altas do nosso corpo). Tanto no litoral quanto nos arredores de Curitiba, C. varians é uma das mutucas mais abundantes, principalmente onde há rio ou pântano por perto.

Gostaria de lhes pedir para me passar a data, neste fim de inverno ou no início da primavera, em que você é atacado pela primeira mutuca. Além da data, passa-me também o local exato (município, localidade), o nome do rio mais próximo e qual parte do seu corpo foi atacada, pois, se for o alto da cabeça a mutuca deve pertencer ao gênero Chrysops. Espero divulgar o resultado deste pequeno levantamento no início de outubro.

Desde já muito obrigado pela sua contribuição.

Tenha uma boa primavera!

André

(a) Chrysops varians é facilmente reconhecível pela presença de um grupo de três ocelos e pela asa de até 8 mm de comprimento (é uma espécie relativamente pequena), a asa tendo uma grande banda transversal negra (lembrando à vela de um navio ocupado por piratas), com o terço apical da asa transparente.

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