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Descendentes de indígenas do Canadá visitam comunidades de Curitiba e Litoral

Aldeia Araçaí, em Piraquara | Foto: Jason Dyett

Quinze estudantes do Canadá, da First Nations University, alguns descendentes de povos originários do Canadá, alunos da University of Regina, focada em conhecimento indígena, fizeram uma imersão no Paraná, juntamente com outros 15 estudantes brasileiros, vindos de nove estados do país, todos alunos do Centro Universitário Internacional Uninter. 

Os 30 alunos participam da 1ª. edição do Collaborative Field Experience, curso intensivo em campo, multidisciplinar e de imersão em inglês, com visitas técnicas e culturais a instituições de Curitiba e comunidades indígenas e caiçaras do Paraná.  

O curso é uma parceria inédita entre as duas instituições – First Nations University e a University of Regina, ambas do Canadá, e a Uninter. A programação, realizada entre os dias 17 e 27 de fevereiro, incluiu atividades de conhecimento em campo, com a vivência de culturas indígenas e caiçaras do Paraná. As ações foram desenvolvidas, com atividades em Curitiba e no Litoral, envolvendo conteúdos nas áreas de negócios, história, cooperação internacional, meio ambiente e relações étnico-raciais.

“O curso tem um modelo de colaboração sustentável com participantes do Brasil e Canadá, numa troca muito rica cultural entre a universidade University of Regina, do Canadá e a Uninter, afirma Jason Matthew Dyett, um dos organizadores do curso e vice-presidente e co-fundador do Uninter Global Hub. O Uninter Global Hub foi fundado em 2020 e fornece o conteúdo, contexto, conexões e recursos para capacitar e inspirar alunos com mentalidade global. Com projetos para facilitar o aprendizado, pesquisas internacionais e experiências estrangeiras. 

O planejamento desta ação durou cerca de seis meses e envolveu processos seletivos com mil candidatos brasileiros até finalizar em 15 estudantes. No Canadá, a seleção foi com estudantes de 14 povos originários diferentes, em três cidades. O principal objetivo era a troca de culturas e de experiências, incluindo a visita às comunidades indígenas e caiçaras do Paraná.  No Litoral, além de comunidades caiçaras, foi visitada a aldeia Tekoa Takuaty, na Ilha da Cotinga, em Paranaguá.

Tekoa Takuaty, na Ilha da Cotinga | Foto: Jason Dyett

Uma das comunidades visitadas foi a aldeia Araçai, em Piraquara, perto de Curitiba. O cacique Laércio Wera Tupa, professor e referência na sua comunidade, participou da organização que permitiu o acesso dos estudantes. Reconhecido por seu conhecimento profundo da cultura Guarani, Laércio viu uma oportunidade de compartilhar experiências vividas com os estudantes num ambiente de respeito mútuo.

“É uma experiência rica e única para conhecer uma aldeia. A nossa realidade e a nossa luta impactam os visitantes e muda a visão dos que participam. Acho muito importante a gente se unir e ter esse conhecimento da realidade de cada um. O pessoal do Canadá considero meus parentes. Dar continuidade ao trabalho, é importante para as demais comunidades”, afirma Laércio.  

As ações foram desenvolvidas através de experiências que mostrem a cultura do Brasil e a realidade dos povos indígenas em meio urbano e em comunidades mais isoladas. “Os estudantes aprenderam muito sobre os povos originários. Foi interessante ver as línguas maternas, sendo faladas em comunidades aqui no Paraná. Você sai da cidade e anda por uma hora e meia e vê crianças de 3 anos de idade, que falam guarani e não falam português”, comentou Dyett.  

Integração Aldeia Araçaí | Foto: Jason Dyett

Jade Penner, uma das participantes do intercâmbio, é uma mulher indígena dos povos originários Beardys e Okemasis Willow Cree e Kinistin Saulteaux, do Canadá. Ela está se formando em Serviço Social Indígena na First Nations University e observou como os indígenas no Brasil preservam a sua língua, mantendo o ensinamento entre as crianças. “O que me impressionou foi a forma que estão pensando no futuro, nas crianças deles. É muito importante sustentar a própria identidade e levar a língua adiante. Vou levar de lição que posso fazer muito mais pelo meu povo no Canadá”, disse ela.  

Para o estudante brasileiro João Miguel Zantut de Matos, que veio de Porto Velho (RO) e cursa Relações Internacionais na Uninter, a experiência com a língua guarani, através das visitas nas comunidades e com os canadenses, falando inglês, foi de valioso aprendizado. “A linguagem é poder. Estar ali e fazer a ponte de comunicação entre canadenses e povos originários brasileiros mostra que a língua é um poder que a gente tem”, afirma.  

Alanna Della Possa é de Ponta Grossa (PR) e cursa Jornalismo na Uninter, comentou que foi uma semana muito intensa, de experiências enriquecedoras. “Me senti muito transformada de modo geral, pois passei a conhecer parte de uma cultura que é a minha e que eu não conhecia”, disse a estudante impressionada com as batalhas que eles enfrentam diariamente. “A questão de lutar pelo que é seu ficou muito forte”, afirmou. 

O Global Hub Uninter trabalha com a possibilidade de que outros intercâmbios como esse possam ser realizados. “Foi o primeiro passo, mas acredito que possamos desenvolver uma plataforma específica para desenvolver novos eventos para trazer mais do mundo para a Uninter e levar mais da Uninter para o mundo”, disse Jason.

Aldeia Araçaí | Foto: Jason Dyett
Ilha do Mel | Foto: Jason Dyett
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