Enfermagem da UFPR apresenta projeto de saúde em Guaraqueçaba em congresso da OMS
Trabalho submetido ao 8º World One Health Congress resume ações extensionistas com população caiçara, relatando benefícios para esse grupo social e para a formação de estudantes
O programa de extensão Saúde em Ação, do Departamento de Enfermagem da Universidade Federal do Paraná (UFPR), levou sua experiência de atuação com comunidades de pescadores artesanais das ilhas de Guaraqueçaba ao 8º World One Health Congress, promovido pela Organização Mundial de Saúde (OMS) a partir desta sexta-feira (20).
O congresso tem o objetivo de reunir cientistas e formuladores de políticas públicas, entre outros, para a discussão dos desafios da chamada saúde única, abordagem multidisciplinar de saúde pública que considera as relações entre pessoas, animais e ecossistemas. Esta edição será em Cape Town, na África do Sul.
O programa teve aprovada a apresentação de um trabalho sobre os ganhos da prática extensionista para a formação dos estudantes e para a assistência à saúde da população. Os focos deste projeto específico, chamado “Promoção e Prevenção de doenças crônicas e agudas nas populações das Ilhas do Litoral Paranaense”, são aumentar o conhecimento da população sobre doenças crônicas e agudas, obter maior adesão aos programas de saúde e empoderar a comunidade em relação à própria saúde.
Estilo de vida caiçara
A professora Fernanda Moura D’Almeida Miranda, coordenadora do Saúde em Ação, explica que, em parceria com a Secretaria Municipal de Saúde de Guaraqueçaba, o programa tem identificado as necessidades de saúde das comunidades de pescadores e ajudado na formação continuada das equipes – especialmente de enfermagem – das unidades básicas e do Hospital Regional de Guaraqueçaba.
Além de tratar de temas de saúde essenciais para a população brasileira – alguns deles são as doenças cardiovasculares e o câncer de mama e de útero –, o programa conscientiza sobre questões atinentes à comunidade caiçara. Trata-se de um grupo social com estilo de vida não urbano e que enfrenta dificuldades de acesso aos sistemas de saúde.
“Abordamos, por exemplo, os cuidados com a pele, especialmente devido à exposição ao sol, e as lesões causadas por parasitas como pulgas e carrapatos”, explica Fernanda. Já as equipes de saúde recebem reforço em temas como atendimento a afogados, tratamento de lesões de pele e feridas, primeiros socorros e demais atendimentos de emergência.
“Pensando em um público internacional, são lições aprendidas que podem ser aplicadas em outras comunidades semelhantes”, diz a professora, que representa a equipe no congresso.
Dificuldades de acesso à saúde
Atualmente o programa conta com equipe fixa formada por quatro bolsistas de extensão – entre eles, Cristini Batista Cirino, Fernanda Bez Birolo e Giovana Immich Martins, do curso de Enfermagem –, dois doutorandos (Robson Giovani Paes e Márcia Bucco) e uma mestranda (Sara Ingrid de Rezende Ferreira) do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem (PPGEnf). A vice-coordenadora é a professora Silvania Klug Pimentel, do Departamento de Cirurgia.
Para realizar as atividades do programa em Guaraqueçaba, extensionistas e pesquisadores viajam cerca de seis horas a partir de Curitiba, por barco ou estrada – cerca de 77 quilômetros dela é de saibro. “São tantos solavancos que a gente chega quebrada e com dor de cabeça”, brinca Fernanda. Nas comunidades, começa o trabalho de compreender uma cultura tradicional e as necessidades em saúde da sua população.
As dificuldades de acesso que os membros do projeto enfrentam refletem uma dificuldade da própria população para participar dos programas públicos de saúde. “São limitações geográficas que dificultam o acesso da população aos sistemas de saúde”, diz Eduarda Cristini, de 22 anos, aluna do último ano do curso de Enfermagem.
Esses obstáculos se manifestam no padecimento da população com problemas de saúde que podem ser evitados, seja por um estilo de vida mais saudável ou com aumento da cobertura vacinal pediátrica, por exemplo.
Para isso, é preciso pensar além dos formatos acadêmicos, buscando maior interação com a população, o que já vem surtindo novas ferramentas. “O ensino sobre o que são as doenças crônicas de maneira lúdica e simples se mostrou muito eficaz, revelando diversas questões”, lembra Fernanda Birolo, 21, também bolsista de extensão.
A expectativa da equipe com a divulgação de resultados é aumentar a visibilidade do projeto, garantindo mais recursos para o seu seguimento. “Esperamos que as pessoas entendam o impacto positivo que ele tem na vida da população caiçara”, conta Giovana Immich, 24, aluna do último ano de Enfermagem.
Os planos são de que, até 2034, o programa atue em outras frentes de extensão e pesquisa nas ilhas de Guaraqueçaba. Faz parte do planejamento do programa, por exemplo, a investigação dos hábitos e das culturas de saúde ancestrais das comunidades das ilhas.