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Guaratuba, Tijucas do Sul e Garuva podem ganhar novo parque nacional

Intenção da proposta é proteger a biodiversidade e, ao mesmo tempo, fortalecer turismo de natureza, turismo das comunidades e turismo rural

Gira entrega proposta para Marina Silva | foto: Divulgação

Em uma iniciativa conjunta, os deputados estaduais Goura (PDT-PR) e Marquito (PSOL-SC) apresentaram à ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, a proposta de criação de um Parque Nacional das Serras do Araçatuba e Quiriri, nos estados do Paraná e Santa Catarina, abrangendo áreas nos municípios de Guaratuba (PR), Tijucas do Sul (PR) e Garuva (SC).

O ofício com a proposta, protocolado nesta sexta-feira (15) junto ao Ministério do Meio Ambiente, foi também entregue pessoalmente pelo deputado Goura à ministra, que participou de um evento na capital paranaense neste sábado (16).

A Serra do Araçatuba, localizada no município de Tijucas do Sul, é a montanha mais alta da região sudeste do Paraná, quase divisa com o Estado de Santa Catarina.

Um pouco mais ao sul, encontramos os Campos do Quiriri, provavelmente o atrativo mais famoso e procurado da região do Planalto Norte Catarinense.

Proposta de áreas de estudo para criação do parque nacional nas serras do Araçatuba (vermelho) no Paraná, e Quiriri (verde) em Santa Catarina

“Essa região é um patrimônio natural fantástico que está entre o Paraná e Santa Catarina e por ser uma situação que envolve os dois estados justifica ainda mais a criação de uma unidade de conservação federal, de gestão nacional, para potencializar a necessidade de preservação, do fortalecimento do turismo de natureza, turismo das comunidades, turismo rural, junto com a urgência da preservação da biodiversidade que esse território representa”, argumentou o deputado Goura.

Goura ressaltou que além dos parlamentares, a ação conjunta envolve um coletivo composto por técnicos, montanhistas, produtores rurais, funcionários públicos, empresários, pesquisadores e ambientalistas que atuam no território e buscam a consolidação de uma política pública efetiva de preservação do que resta de preservação na Serra do Mar e da Mata Atlântica.

O deputado Marquito destacou que “as unidades de conservação, além serem territórios de extrema importância para a preservação da Mata Atlântica, que encontra em seu estado avançado de desmatamento e perda de diversidade, são necessárias para a defesa das comunidades e povos tradicionais que habitam a região”.

Pensando na importância da participação de toda comunidade da região, os parlamentares propuseram a criação de uma força tarefa para discutir e incluir os principais interessados na proteção destas áreas.

Potencial turístico

Com riqueza biológica e paisagística inigualável, a Serra do Araçatuba tem demanda turística consolidada, atraindo um diversificado público, desde experientes montanhistas e atletas, até passeios familiares com crianças, visto que seu entorno é repleto de atrativos gastronômicos e culturais, sendo uma área referência em produção rural orgânica.

Já os Campos do Quiriri, por estar localizado numa região ainda preservada e de difícil acesso, atrai excursionistas e naturalistas de todo o Brasil para apreciar as belezas deste conjunto de montanhas com cerca de 30 cumes, cuja altura varia entre 1.300 e 1.580 metros.

Mata Atlântica

Conforme destacam na justificativa da proposta, a área abriga manchas de Mata Atlântica e importantes remanescentes de campos de altitude em suas cristas e cumes, grande diversidade de flora e fauna, com espécies raras, endêmicas e ameaçadas de extinção.

Além disso, também é uma importante área de mananciais para abastecimento de vários municípios, abrigando as nascentes dos Rios Negro, Cubatão e Pirabeiraba.

Fauna e Flora

A região, conforme documento protocolado, foi palco sistemático de inúmeras pesquisas botânicas, organizadas por um dos principais botânicos do Paraná, Gerdt Hatschbach, fundador do Museu Botânico Municipal de Curitiba, falecido.

São várias descrições de endemismos de orquídeas e bromélias que hoje necessitam de proteção imediata em virtude da coleta ilegal para comercialização e coleções privadas, argumentam pesquisadores que trabalham nas áreas.

Do ponto de vista da fauna, o documento chama a atenção para a importância destas serras para os anfíbios, como o minúsculo Brachycephalus quiririensis, um minúsculo sapo descoberto recentemente pela ciência (2015), cujo nome faz menção à Serra do Quiriri, e já considerado criticamente ameaçado por viver apenas nessa região montanhosa (800 m a 1200 m de altitude), necessitando de um clima frio e úmido.

“Tamanha importância, coloca também essa área nas proximidades e no interior dos polígonos de Áreas Prioritárias para a Conservação, Utilização Sustentável e Repartição dos Benefícios da Biodiversidade do Ministério do Meio Ambiente, aumentando assim a justificativa para sua proteção efetiva”, argumentam os deputados.

No entanto, a dificuldade de acesso e a deficiência de dados científicos provavelmente fizeram com que esta área não fosse inteiramente incluída nas áreas de máxima prioridade para conservação do Ministério do Meio Ambiente, questão que é facilmente corroborada por diversas publicações científicas, principalmente orientadas à conservação dos anfíbios endêmicos, inclusive com recomendações para proteção imediata destas áreas.

Mesmo com toda a dificuldade de acesso e sua importância para o turismo em contato com a natureza, esta área sofre grande ameaça e pressão antrópica com graves riscos de incêndios, coleta de espécies botânicas, invasão de pinus, entre outras.

Diante desta realidade, os autores da proposta argumentam que a criação de um parque nacional nas Serras do Araçatuba e Quiriri será a melhor alternativa de proteção da biodiversidade e desenvolvimento turístico e cultural da região.

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