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Intolerância religiosa contra afoxé em Paranaguá será investigada

Afoxé parte da Igreja de São Benedito | foto: Prefeitura de Paranaguá

O Ministério Público do Paraná e a Polícia Civil vão apurar a denúncia de intolerância religiosa contra o Afoxé Filhos de Iemanjá, realizado no dia 22, em Paranaguá.

A denúncia surgiu por causa de uma postagem nas redes sociais de uma mulher identificada como a pastora Simara Torres, que faz manifestações preconceituosas contra o evento. 

O jornal Folha do Litoral explica que a suposta pastora respondeu a uma publicação da Rádio Ilha do Mel FM, que divulgava a 7ª edição do Afoxé. Ela diz que o evento é um “Sacrifício de Satanás” e convida evangélicos para jejuarem contra sua realização porque e o evento daria “legalidade para os demônios entrarem em Paranaguá”.

A postagem do evento pela rádio teve outros comentários de intolerância como “Jesus Cristo de Nazaré vai acabar com isso” e “Que Deus repreenda isso””. 

O jornal Plural, de Curitiba, acrescenta outros comentários na postagem da rádio. Uma pessoa identificada como Wesley Bezerra, afirmou que “Jesus Cristo de Nazaré vai acabar com isso”. Outro, chamado Wil Leão, escreveu que “Paranaguá precisa de Jesus e não de Exu”.

Denúncia

O Afoxé Filhos de Iemanjá é organizado pela Associação Cristã de Estudos da Fraternidade Irmanada (Acefi) que emitiu na segunda-feira (24), nota de repúdio destacando que os ataques foram racistas e discriminatórios. 

Seu presidente, Lederson Souza, fez a denúncia e foi ouvido na Delegacia Cidadã. “Realizamos na terça-feira, 25, o boletim de ocorrência, hoje foi a oitiva e um inquérito será instaurado. Assim que isso ocorrer, a pastora que lançou áudios nas redes sociais será chamada para depor”, afirmou o presidente ao site Bem Paraná. Lederson Souza conta que também procurou o Ministério Público que orientou como fundamentar a representação. “Estamos recolhendo provas e notas de repúdio para segunda-feira (3), entrarmos com o processo”, adianta.

“O áudio criou pânico entre os participantes. Em duas ocasiões já tivemos ocorrências durante a realização do afoxé e chegamos a precisar de segurança para dar continuidade ao evento, por isso, as pessoas tiveram medo que algo acontecesse no decorrer do 7º Afoxé. Pedimos mais seguranças, auxílio da Guarda Civil Municipal e Polícia Militar para evitar que o pior acontecesse”, relata Lederson Souza.

Lederson também levou o caso ao Núcleo de Promoção da Igualdade Étnico-racial da Defensoria Pública do Estado do Paraná. Ainda Municipal de Vereadores de Paranaguá – o presidente da Câmara divulgou um  artigo de repúdio à intolerância religiosa.

Ato de repúdio

Conforme a Rádio Ilha do Mel divulgou, o ato de repúdio da Acefi destaca que os ataques foram racistas e discriminatórios, reforçando que a intolerância religiosa é crime previsto na legislação brasileira. A entidade exige:

  • Investigação e responsabilização dos autores dos ataques contra o Afoxé Filhos de Iemanjá;
  • Medidas de proteção aos praticantes de religiões de matriz africana, incluindo a criação de um canal específico para denúncias;
  • Programas educacionais sobre diversidade religiosa nas escolas e instituições públicas;
  • Fortalecimento das políticas de preservação da cultura afro-brasileira;
  • Criação de um comitê municipal para combater a intolerância religiosa;
  • Campanhas de conscientização sobre diversidade religiosa e cultural.

Lederson também citou leis contra a intolerância:

  • A Lei nº 9.459, de 1997, considera crime a discriminação ou preconceito contra religiões.
  • A Lei nº 20.451, de 2019, prevê pena de 2 a 5 anos para quem obstar, impedir ou empregar violência contra manifestações ou práticas religiosas.
  • A Lei nº 14.532, sancionada pelo presidente Lula em 2023, tornou as penas para os crimes de intolerância religiosa mais severas.

Evento religioso, cultural e turístico

Foto: Prefeitura de Paranaguá

Em entrevista ao jornal Folha do Litoral, Lederson de Souza falo sobre o significado do afoxé. “Ele já acontece há quase duzentos anos no Brasil. Em Paranaguá é a sétima edição, mas pode haver vários afoxés. O afoxé é de livre culto, significa que é um evento que os povos e terreiros tiram aqueles elementos do sagrado de dentro dos terreiros e vão para a rua. Nós estamos ali na rua cumprindo o sagrado. Afoxé quer dizer orixá na rua, mas nós não vamos estar incorporando, bebendo cachaça, fazendo sacrifício, não tem nada a ver com isso”.

O afoxé foi amplamente divulgado, inclusive pela Secretaria de Estado do Turismo e pela Prefeitura de Paranaguá, e comemorado por seus diversos aspectos, inclusive na cultura e no turismo da cidade.

Como exemplo de tolerância e sincretismo religioso, o Afoxé Filhos de Iemanjá parte todos os anos da Igreja de São Benedito, da Igreja Católica.

Foto: Prefeitura de Paranaguá

Foto: Prefeitura de Paranaguá
Foto: Acefi
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