Monitoramento das praias ajuda a conservar biodiversidade marinha
Em 2023, mais de 2.240 animais encalharam mortos nas praias do Paraná; 72 dos animais encontrados vivos foram reabilitados e retornaram para a natureza.
O Laboratório de Ecologia e Conservação (LEC) da Universidade Federal do Paraná (UFPR), atua há mais de oito anos no monitoramento e avaliação de saúde da fauna marinha nas praias paranaenses, como parte do Projeto de Monitoramento de Praias da Bacia de Santos (PMP-BS).
Todos os dias, as equipes técnicas percorrem o litoral do Paraná, desde as Ilhas do Superagui, Peças e do Mel até a Barra do Saí, fazendo a coleta de informações ambientais, amostras biológicas, o registro dos animais encalhados e o resgate dos animais que demandam de atendimento.
Em 2023, mais de 2.240 animais foram encontrados mortos nas praias do Paraná, pertencentes a 37 espécies, como pinguins, outras espécies de aves marinhas, tartarugas marinhas e mamíferos marinhos.
O período de junho a outubro teve o maior número de ocorrências, resultado que deve refletir a migração de animais que vêm de regiões mais ao sul no Hemisfério Sul, mas também dos migradores do norte que vêm em direção às águas brasileiras em busca de alimentos, de área propícia para reprodução ou apenas para invernar.
Neste período também há maior incidência de frentes frias, as quais trazem as carcaças com maior frequência às praias, e de atividades pesqueiras que interagem de forma negativa com os animais marinhos e causam a morte dos indivíduos.
A investigação das carcaças coletadas revela dados importantes sobre as espécies que ocorrem no litoral, dando informações sobre a distribuição e a época de uso da costa paranaense por diferentes espécies de mamíferos, aves e tartarugas marinhas.
Além disso, os dados biológicos e os conhecimentos sobre a biodiversidade marinha obtidos pelo PMP-BS em atividades realizadas ao longo do litoral dos estados do RJ, SP, PR e SC e por outros projetos do LEC/UFPR trazem suporte para ações estabelecidas como prioritárias pelo governo brasileiro por meio dos Planos Nacionais de ação para a conservação de espécies ameaçadas de extinção (PANs/ICMBIO/MMA).
Os resultados contribuem também para a conservação da biodiversidade marinha e do oceano Atlântico, reforçando a iniciativa global pela Década do Oceano.
Destaques de 2023
Muitas das aves marinhas migratórias que encalham nas praias da região, vivas ou mortas, são juvenis. Elas têm menor reserva energética para lidar com os desafios do ambiente, ficando magras e debilitadas – é o caso dos pinguins-de-Magalhães. Para esta e outras espécies, a interação com poluentes, lixo, atividades pesqueiras e portuárias são também causas de alteração na saúde dos indivíduos ou mesmo a causa de morte.
Duas espécies inéditas de aves marinhas ocorreram nas praias do Paraná ao longo de 2023: maçarico-de-papo-vermelho (Calidris canutus) e grazina-de-trindade (Pterodroma arminjoniana).
Para a coordenadora do PMP-BS/UFPR, Camila Domit, entre os destaques de 2023 para os demais grupos de animais monitorados, estão os encalhes de tartarugas-cabeçuda, frequentes entre setembro e dezembro de 2023.
Somente no último mês, 43 tartarugas-cabeçuda (Caretta caretta) encalharam mortas na região. O número é maior que o registrado no mesmo período de anos anteriores. Em dezembro de 2022, foram encontrados 11 animais; em 2021, 26 indivíduos; e em 2020, seis animais.
Chamaram a atenção também os encalhes de lobos e leões marinhos, e de mais de cinco espécies de cetáceos, sendo o de uma toninha filhote viva uma das experiências mais marcantes vivenciadas pela equipe. “O atendimento desta toninha foi um uma grande oportunidade, tanto por atender a espécie de golfinho mais ameaçada do oceano Atlântico sul, quanto pelo desafio de resgatar e manejar um animal filhote e muito vulnerável”, afirma Domit.
Resgate, reabilitação e reintrodução de fauna marinha
No verão, aumenta o número de resgates de animais encalhados vivos. Desde 2019, com a inauguração do Centro de Reabilitação, Despetrolização e Análise de Saúde de Fauna Marinha (CReD/LEC/UFPR), o PMP-BS/LEC-UFPR faz também a estabilização e reabilitação de animais marinhos encontrados debilitados nas praias do Paraná. No ano passado, 72 animais foram reabilitados e retornaram para a natureza, dentre eles tartarugas marinhas, pinguins e outras aves marinhas.
De acordo com o médico veterinário e responsável técnico do PMP-BS/LEC-UFPR, Fábio Lima, no momento, dois atobás (Sula leucogaster) estão em tratamento no CReD/LEC/UFPR. Causas diversas debilitam os animais, mas especificamente no verão, casos de intoxicação e de agressões aos animais marinhos são frequentes e precisam da atenção de todos.
O trabalho coletivo no CRED/LEC/UFPR vem evoluindo e desta forma sendo mais assertivo nos tratamentos e na reabilitação dos animais para que logo voltem à natureza.
Participação da população
Além do monitoramento diário das praias realizado pela equipe, o PMP-BS/LEC-UFPR também conta com a participação da comunidade para o trabalho de conservação da biodiversidade marinha.
Ao encontrar animais marinhos debilitados ou mortos nas praias paranaenses é possível acionar a equipe do PMP-BS/Laboratório de Ecologia e Conservação (LEC) da Universidade Federal do Paraná (UFPR) pelo 0800 642 33 41 ou pelo WhatsApp (41) 9 92138746. Em 2023, foram 858 acionamentos da população.
A realização do Projeto de Monitoramento de Praias da Bacia de Santos (PMP-BS) é uma exigência do licenciamento ambiental federal, conduzido pelo Ibama, para as atividades da Petrobras de produção e escoamento de petróleo e gás natural na Bacia de Santos. No estado do Paraná, Trecho 6, essa condicionante é realizada pela equipe LEC/UFPR (@lecufpr e www.lecufpr.net).