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A cambira perfeita: defumada e feita com alma

Prato vencedor da Pousada Guaricana, preparado pelas mãos da chef Maria Fernanda, encantou os jurados no Festival de Gastronomia Caiçara com técnica apurada, respeito à tradição e um pirão que “abraça o paladar”
Foto: Festival de Gastronomia Caiçara

Um prato com cheiro de mar, sabor de história e tempero de afeto. Foi assim que a Pousada Guaricana conquistou o primeiro lugar na categoria Cambira Especialista do Festival de Gastronomia Caiçara de Pontal do Paraná. Preparada pelas mãos da chef Maria Fernanda Nowakowski, a receita levou ao evento muito mais do que sabor: apresentou uma experiência sensorial enraizada na tradição, na técnica e no respeito à cultura caiçara.

As notas dos pratos participantes foram atribuídas por uma comissão de jurados especializados e também por um turista oculto, que visitou os estabelecimentos de forma anônima. A avaliação considerou não apenas o sabor e a apresentação da receita, mas também critérios como atendimento, limpeza do local e até o primeiro contato por telefone, garantindo uma análise completa da experiência oferecida ao visitante.

Antes de mergulhar na culinária do litoral, a curitibana Maria Fernanda era chef assadora, especializada em cortes de carne e preparações feitas em churrasqueiras ou com técnicas de assado. Mas foi em Pontal do Paraná, onde chegou há apenas um ano e seis meses, que ela se apaixonou pela cultura caiçara e se reinventou.

“Voltei para Pontal e comecei a pesquisar sobre frutos do mar, sobre as raízes dessa culinária tão rica”, conta. A imersão foi profunda: acampou com pescadores, participou da pesca artesanal e buscou lenha frutífera para defumar o peixe de forma tradicional e o cuidado de quem entende que cozinhar também é um ato de preservação.

“Secar o peixe é um processo. Defumar é outro. E tudo precisa ser feito com respeito à natureza e à cultura. Esse é o verdadeiro sabor da comida”, afirma a chef.

A cambira campeã respeitou a tradição do prato típico de Pontal do Paraná, mas teve como diferencial a defumação cuidadosa e o pirão, que Maria Fernanda considera a alma da receita. “O segredo está no caldo da cambira, na banana-da-terra, na farinha no ponto exato. Tudo pesado, com precisão e amor”, explica.

Mais do que preparar, Maria viveu cada etapa da receita: pescou os peixes, escolheu os ingredientes, acompanhou todo o processo do início ao fim. Para ela, culinária é entrega. É mergulho. “A culinária é sagrada. Não existe coisa mais maravilhosa do que cozinhar e conhecer uma cultura de verdade”, diz. “A cultura caiçara é linda. A pesca é fantástica. Todo mundo deveria viver isso pelo menos uma vez.”

Neste ano, além de competir, Maria Fernanda que faz parte da associação de produtores de cambira de Pontal do Paraná – APROCAMPP, junto com as chefs Neila e Dona Conseiçao, foram convidadas a ministrar um workshop de defumação no festival, um reconhecimento de dedicação e ao impacto dos seus trabalhos.

Em sua fala, ela faz um apelo: que mais estabelecimentos e profissionais da gastronomia valorizem o que é local, o que é ancestral. “Todos deveriam pescar com os pescadores, buscar a lenha, fazer o processo com as próprias mãos. Isso muda tudo.”

A cambira da chef Maria Fernanda, servida na Pousada Guaricana, não é apenas um prato vencedor. É resultado de estudo, entrega, reinvenção e amor pela cultura que a acolheu. Uma receita que, mais do que sabores, carrega vivências e que, sem dúvida, deixou sua marca no festival e na memória gastronômica do litoral paranaense.

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